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Foto: (Agora são os filhos que precisam vigiar o celular dos pais idosos / Reprodução)

Só nos cinco primeiros meses de 2023, foram registrados mais de 15 mil golpes contra idosos

Agora são os filhos que precisam vigiar o celular dos pais idosos

Queixas de crimes financeiros e danos materiais contra pessoas com mais de 65 anos têm aumento de 70% em 2023, segundo dados do Disque 100, canal de denúncias do governo federal

Por Cristiana Andrade, Maria Irenilda, Milena Geovana e Queila Ariadne Publicado em 20 de abril de 2024 | 08h01

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Se na infância, os celulares e computadores precisam ser monitorados pelos pais, no velhice, os papéis se inverte: são os filhos que precisam passar a vigiar os dispositivos e ajudar com senhas para proteger os pais. Segundo dados do Disque 100, canal de denúncias de violações dos direitos humanos do governo federal, o número de queixas de crimes financeiros ou danos materiais contra idosos cresceu 70% em 2023, em relação à 2022. 
 

Só nos cinco primeiros meses do ano passado – dados mais atuais disponibilizados pelo canal – foram mais de 15 mil registros, uma média de 3.000 golpes por mês. As estatísticas chama a atenção para a vulnerabilidade deste público. 


“Eu me senti a própria idiota. E como eu realmente mandei o dinheiro todo que eu tinha, ainda entrei no cheque especial e o prejuízo foi do ano inteiro. A cada coisa que eu ia pagar, me lembrava daquilo. Foi um baque muito grande”. Este é o relato de uma senhora de 76 anos que caiu em um golpe financeiro e teve um prejuízo de quase R$ 8.000. O nome verdadeiro dela será preservado e, nesta reportagem será identificada como Lourdes. 


O chefe da Divisão Especializada de Combate à Corrupção, Investigação a Fraudes e Crimes Contra a Ordem Tributária da Polícia Civil de Minas Gerais, Magno Machado Nogueira, ressalta que a maioria dos golpistas se aproveita da falta de afinidade dos mais velhos com a tecnologia. 


“Temos que lembrar que muitos dos idosos passaram a infância, a juventude e grande parte da vida adulta sem aquele contato diário e profissional com redes sociais e com internet. Muitos começaram a utilizar esses recursos já idosos. Então, como eles não têm essa familiaridade com equipamentos eletrônicos, é mais fácil caírem nos golpes”, explica o delegado. 


Os criminosos são astutos, e muitas vezes usam o emocional da vítima contra ela mesma. Era fim de ano, época de Natal, e Lourdes foi para outro Estado visitar sua família. No início da noite, o telefone tocou.


“Uma voz muito, mas muito parecida com a do meu filho, falando que ele estava num determinado lugar e que precisava eu passasse algum dinheiro para ele, porque ele estava em perigo”, conta. 


A tecnologia facilitou o crime. “Ele pediu para eu mandar para transferir R$ 3.000 e não sei quanto. Eu me lembro que eu tinha R$ 7.000 no banco. Mais tarde, ele disse que não tinha dado, que precisava de mais, mas me devolveria no dia seguinte. Aí eu mandei mais R$ 4.000. Olha, foram quase R$ 8.000. Era tudo que eu tinha no banco e mais uns trocadinhos”, lamenta. 


Estatísticas alarmantes


Lourdes não é a única pessoa com mais de 60 anos que tem uma história como essa para contar. O crime de estelionato em Minas Gerais é um dos que mais vitimiza pessoas idosas. Só perde para furto. 


Segundo informações da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, de janeiro de 2021 a dezembro de 2023, mais de 73 mil pessoas com idade aparente de 60 anos ou mais, registraram crimes de estelionato, previsto no artigo 171 do Código Penal. Esses números foram crescendo ao longo dos anos. Em 2021, foram cerca de 19.500 vítimas. Em 2022, foram aproximadamente 26.600; e em 2023, já eram mais de 27 mil.


“O crime de estelionato é aquele onde uma pessoa mediante, ardil, ou mediante um engodo, tenta levar a sua vítima entregar o bem. Ele vai, de alguma maneira, conversar com a vítima e convencê-la, né? Mediante uma mentira, levando essa vítima a fazer uma transferência bancária, a entregar um bem patrimonial, né”, explica Nogueira. 


Esta matéria integra o especial "Tempo de Envelhecer: quando viramos pais de nossos pais", da Mais Conteúdo, de O TEMPO. O episódio 6 do podcast, com mais personagens e outras análises de especialistas, você ouve abaixo:
 

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