Não sei quantas vezes fui à cidade do Rio de Janeiro, das mais bonitas do mundo, mas que hoje mete medo em quem, principalmente como turista, se atreve a passar lá alguns dias. Conheço a cidade e, como seu fiel admirador, frequentei várias de suas praias. Frequentei, também, muitas das belas praias fluminenses, além da região serrana. A esta, em Pedro do Rio e Itaipava, não me canso de ir.
Talvez por uma questão de destino, o Rio sofreu com a presença de políticos apenas razoáveis. Há, porém, exceções. Uma delas: o jornalista, político e escritor Carlos Lacerda. Filiado à antiga União Democrática Nacional (UDN), foi o primeiro governador do então Estado da Guanabara. Responsável por obras que mudaram a cara da cidade, o bravo adversário de Getúlio Vargas, hoje admirado pelos cariocas, se revelou competente administrador. Tinha por hábito fiscalizá-las, pessoalmente, em seu próprio automóvel. Eu mesmo o vi, em companhia de meu irmão Otto Lara Resende, cumprindo tal desiderato.
Iniciei este discurso porque, na semana atrasada, em minha mais recente passagem pela Cidade Maravilhosa e pela região serrana, assustei-me, uma vez mais, com o incessante crescimento das favelas. Há cerca de 40 ou 50 anos, dizíamos, no “Jornal do Brasil”, ao qual dediquei a melhor parte de minha vida, que o problema (refiro-me ao Rio), se não fosse encarado logo, se tornaria a maior questão dentre as muitas que o país certamente enfrentaria nos seguintes anos. Na época, a tentativa de solução no governo Lacerda foi um desastre, sob todos os aspectos. Hoje, as favelas se multiplicaram não só por lá, na cidade ou no interior do Estado, mas no país todo. Belo Horizonte é boa amostra. Nas andanças pela cidade (zonas Sul e Norte), e com uma esticada a Niterói, minha cabeça quase pirou de vez. Ao mesmo tempo em que meditava sobre o sofrimento daquela gente (são milhões, leitor!), vinha-me à mente a crise por que passa o país. Pensava no que políticos e empresários fizeram com o dinheirão que se arrecadou, sendo que o que mais paga, nessa cruel cobrança, é o pobre. Só de impostos, a União, Estados e municípios arrecadaram, em 2015, R$ 2 trilhões! Em contrapartida, recebemos reles serviços – na educação (para todos e de qualidade), na saúde, na infraestrutura, no transporte etc. É revoltante!
De uma só vez, o país vive crise moral, ética, social, econômica, política, eleitoral etc., além da inquietante ausência de valores e de lideranças em todos os setores. Já usei a expressão e a uso de novo: o Brasil, finalmente, se transformou numa verdadeira bacanal, cujo início foi não com o PT, mas se deu há séculos. Chegou, porém, a esse estágio com a estreita colaboração do Partido dos Trabalhadores, que nasceu – conforme queriam seus fundadores – para dar um basta final nessa podridão. Para, finalmente, instaurar a ética na vida pública.
A ideia é maluca, mas a solução talvez possa estar numa delação premiada coletiva, tanto por parte dos políticos quanto dos empresários, mesmo no caso dos que cometeram apenas pecado venial. Todos nós, na verdade (como disse o papa Francisco em relação aos gays), deveríamos pedir perdão ao país (e ao mundo) no qual vivemos. É da palavra “perdão” que estamos necessitados. É esse o termo que todos – nós, políticos e empresários – precisamos incorporar. E ela só não basta. Ajamos, sem medo, em favor de reformas profundas já. E antes que os injustiçados se rebelem.
Ou estamos à espera de uma rebelião fratricida?!
Que este desabafo sirva, pelo menos, como mais um alerta
Ajamos, sem medo, em favor de reformas profundas já
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