Nice, julho de 2016. Berlim, dezembro de 2016. Westminster, março de 2017. London Bridge e Finsbury Park, junho de 2017. E, agora, Las Ramblas. Os 14 pedestres mortos e mais de cem feridos atropelados em dois ataques, anteontem, expõem a face do terror: a de um homem comum.
No ano passado, cerca de 10 mil diferentes atentados terroristas pelo mundo vitimaram mais de 25 mil pessoas. Em geral, foram ações conduzidas por organizações como Estado Islâmico, Taleban ou algum braço da Al-Qaeda, em países como Iraque, Afeganistão, ou Síria, segundo o estudo “Global trends in terrorism: 1970-2016”.
Apesar de os homens-bomba e as explosões ainda serem terrivelmente comuns naqueles países, eventos como os de quinta-feira na Catalunha são os que mais despertam o medo no mundo ocidental. Habitantes locais lançam veículos insuspeitos contra multidões ou deixam mochilas explosivas em shows juvenis.
Esse tem sido o maior pesadelo dos serviços de segurança e inteligência. Os autores vivem nos arredores ou nasceram no próprio país (um dos acusados é de Melilla, um enclave espanhol) e não recebem ordens diretas de onde, como ou quando atacar. Na maioria das vezes, tomam a decisão por si, inspirados em descontentamentos sociais misturados a versões distorcida de crenças. Das 814 pessoas presas por ligações com ações radicais, um terço tinha 25 anos ou menos.
Um perfil difícil de diferenciar dos demais cidadãos. Assim, os tradicionais sistemas de alerta e prevenção falharam em 47 das 142 tentativas de ataques na Europa no ano passado, mesmo que, não raro, os responsáveis por esses atos já estivessem em listas de suspeitos das polícias.
Os grupos terroristas não precisam necessariamente recrutar essas pessoas, treiná-las, prover explosivos ou fuzis nem manter intrincadas redes de comunicação clandestina para repassar ordens. Basta insuflar, reivindicar a autoria e explorar o clima de medo reinante. Um ato não de pessoas comuns, mas de gente ordinária.
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