Quase toda a água utilizada pelo ser humano é despejada no meio ambiente, virando um problema de grandes proporções. No entanto, essa água poderia, depois de tratada, ser reutilizada, transformando-se num recurso valioso.
Essa é a mudança que defende um relatório da ONU lançado ontem, Dia Mundial da Água, em Brasília. A água residual, liberada por casas, fábricas, fazendas e cidades, representa um problema porque polui o meio ambiente.
No entanto, poderia constituir-se numa solução, se fosse tratada. O documento propõe uma mudança de paradigma, diante da realidade presente no mundo hoje, a de que a água bruta é finita e a demanda por ela é crescente.
Em razão das mudanças climáticas, os governos atentam para as fontes primárias, mas pouca importância dão à reutilização. Oitenta por cento da água residual ainda é descartada no meio ambiente, sobretudo nos países pobres.
O relatório argumenta que, uma vez tratadas, as águas residuais poderiam tornar-se fontes importantes para satisfazer a crescente demanda por água doce. Para isso, é essencial quebrar o preconceito social acerca desse recurso.
Águas contaminadas por bactérias, nitratos, fosfatos e solventes são despejadas em lagos e rios que deságuam nos oceanos, estimulando a proliferação de algas tóxicas e contribuindo para o declínio da biodiversidade.
A vida de milhões de pessoas é colocada em risco. Em 2012, estimou-se que mais de 800 mil mortes em países de renda baixa e média estiveram ligadas aos efeitos da água contaminada e de serviços sanitários inadequados.
As águas residuais são mais utilizadas na irrigação agrícola. Pelo menos 50 países a adotam, mas a prática levanta preocupações porque essas águas, não tratadas, contêm patogênicos que contaminam as culturas.
A tendência é de elevação do aproveitamento da água residual. A ONU acredita que, se todos os povos se empenharem, será possível reduzir à metade sua proporção, aumentando a reutilização pelo tratamento até 2030.