Na última semana, a organização do Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) anunciou já estar recebendo inscrições para as mesas de artistas, espaços dedicados para autores de editoras pequenas ou autopublicados que querem ter um contato direto com o público, oferecendo seu trabalho em primeira mão. Recentemente, com a proliferação de eventos literários, inclusive de feiras de publicações independentes, a iniciativa pode parecer ser "mais uma". Mas, na realidade, essa reunião de autores, desenhistas e entusiastas é o momento mais precioso do maior evento dedicado exclusivamente aos quadrinhos do Brasil.
Para entender a riqueza do ambiente, é preciso levar em consideração o tempo necessário para que cada um dos criadores presentes ali desenvolva sua obra. Em 2009, conheci um casal de quadrinistas que levava seu fanzine a todas as edições do evento para distribui-lo entre os recém-conhecidos e amigos que batiam cartão em eventos desse tipo. O trabalho (underground, xerocado e feito com muito amor) levava meses para ser desenvolvido e impresso. Em 2011, 2013 e 2015, eles estavam lá, sempre com a mochila cheia com a sua criação. Tenho certeza que neste ano eles retornarão. E que estão dando os toques finais num projeto ao qual se dedicam há meses.
Quando o trabalho é mais complexo que um fanzine, a dedicação ao produto começa ainda antes. São ideias que levam meses para maturar. Acompanhando o processo de publicação de amigos, vi de perto o quão desesperador ele pode ser para quem está aprendendo o trabalho de edição, aplicando-o numa criação própria. Cada etapa, desde a leitura da primeira versão do projeto para conferir se não há incongruências que passaram despercebidas pelo autor, passando pela revisão, diagramação do livro, preparação do PDF para a gráfica e distribuição, revela dificuldades que anteriormente seriam impossíveis de um editor de primeira viagem prever.
Isso sem falar do momento da impressão, que sempre demora mais do que o planejado, deixando os responsáveis pelas obras com o coração na mão até a chegada das caixas recheadas de livros, revistas postais e adesivos, que serão entregues, mão a mão, como se fossem um filho. Afinal, é isso mesmo que são.
As mesas de artista do FIQ reúnem centenas desses artistas num só lugar. Ali eles sentam-se, um ao lado do outro, e trocam experiências, causos de desespero após atrasos de entregas, ideias de projetos futuros. É ali também que encontram seu verdadeiro público. Em parte, claro, entusiastas dos quadrinhos de Belo Horizonte e outras cidades. Mas, principalmente, uns aos outros. Os maiores entendedores de quadrinhos do país estarão ali, vendendo sua obra.
Foi no FIQ que fui apresentada ao incrível mundo do autor que decide se autopublicar e vende sua obra ele mesmo, superando a timidez para narrar a história, entusiasticamente, para um desconhecido. Saí dali com primeiras tiragens de obras que seriam consagradas mais tarde. E com entusiasmo renovado pela arte da publicação. É um evento que exige tempo para ser aproveitado. E vale a pena cada segundo investido – tanto dos visitantes quando dos quadrinistas.
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