O ano é 2010. Um espectro ronda o mercado literário – o espectro do ebook. Todas as potências da velha literatura unem-se para conjurá-lo. Médicos mandam alertas aos quatro ventos sobre os perigos da leitura numa tela. Decoradores tremem diante da mera ideia da perda da estante de livros da sala de estar. Donos de fábricas de papel se perguntam se será esse o golpe final do advento da internet. Editores bradam a angústia que os aterroriza: “a pureza será perdida!”. Enquanto isso, os leitores, tímidos, observam de longe a movimentação. Alguns, os mais ousados, murmuram as questões que realmente lhes incomodam. “E o cheiro, como fica a sensação do livro nas mãos?”, “Como vamos emprestar obras aos amigos?”, “Esse leitor de ebook não é bem mais caro do que o papel?”. Não há resposta satisfatória.
Pule para 2015. Nos últimos cinco anos, os leitores mais curiosos encontraram suas próprias respostas. Nenhum dos que escolheram o ebook perdeu a visão, a estante decorativa da sala ou “a pureza” (quer dizer, talvez tenham perdido a pureza, sabe-se lá o que isso significa). Entre os desbravadores que decidiram experimentar o novo suporte de leitura, têm, também, aqueles que não aprovaram a versão tecnológica do livro. Eles estão em casa, cercados de pilhas de papel nas quais há histórias e aventuras. Provavelmente há um Kindle ou similar juntando poeira na estante. Estão perfeitamente felizes. O espectro do ebook não era bem um espectro, estava mais para delírio coletivo.
Vivemos uma era em que a mudança é a única constante. A inovação tecnológica que ocorreu nos últimos 30 anos é maior do que nos 200 anteriores (sério). Mesmo se quisermos paralisar o avanço científico, não tem muito o que podemos fazer. Quando o ebook foi apresentado ao Brasil, não faltou quem o tratasse como uma ameaça. Tinha-se a impressão de que haveria uma espécie de “polícia da leitura” que, caso descobrisse alguém que ainda não tinha comprado um leitor e abandonado seus hábitos ultrapassados de leitura no papel, aplicaria uma multa pesada. Isso não foi tanto tempo atrás, meros cinco anos separam esse momento da realidade em que vivemos hoje, na qual é bem claro que cada um pode ler (ou não) seus livros da forma de quiser.
Muito do que está por vir é como o ebook. Uma mudança grande, que pode fazer diferença nas nossas vidas, mas provavelmente não é algo do que seremos obrigados a participar, e certamente não é o bicho-papão que parece em um primeiro momento. Já que a mudança é a única constante, vamos aproveitar para mudar como reagimos quando encontramos algo novo.
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