A safra de séries do primeiro semestre de 2017 tem sido excelente. Para citar algumas estreias: “Legion”, “Cara Gente Branca”, “13 Reasons Why” e “Anne with an E”.
E em meio à enxurrada, duas produções têm-se destacado. A primeira delas é “Deuses Americanos”, uma adaptação do romance do britânico Neil Gaiman, que levou os aclamados prêmios Hugo e Nebula. A história gira em torno do ex-presidiário Shadow Moon, cuja mulher morre dias antes de ele ser libertado. Sem rumo na vida, ele se envolve com o Sr. Wednesday, que o apresenta ao submundo de deuses que foram levados aos Estados Unidos pelos imigrantes ao longo das últimas centenas de anos – e, agora, sem fiéis, amargam uma vida de pobreza e abandono. A versão televisiva do romance vem sendo prometida há anos aos fãs do livro e, finalmente, se materializou neste ano, com uma produção bem-acabada feita pelo canal norte-americano Starz.
A segunda série que vem chamando a atenção é “The Handmaid’s Tale”, adaptação de “O Conto da Aia”, romance da canadense Margaret Atwood vencedor do conceituado prêmio Arthur C. Clarke Award. A obra já havia ganhado uma versão audiovisual em 1990, quando foi lançado o filme “A Decadência de uma Espécie”, com Robert Duvall no papel de comandante. O longa chegou a ser indicado ao Urso de Ouro. Agora, a história de uma sociedade que escolhe transformar mulheres em mercadorias a serem usadas pelo “bem comum” (conceito que, curiosamente, nunca coincide com o bem individual feminino) ganhou nova adaptação, feita pela empresa de streaming Hulu.
Com origens semelhantes – ambas foram criadas a partir de livros de ficção científica reconhecidos pelas maiores premiações do gênero – a diferença mais relevante entre as séries “The Handmaid’s Tale” e “Deuses Americanos” está na circulação. Produzida pelo canal Starz, “Deuses”, com sua história sobre imigração, raízes e futuro, chega a telespectadores de boa parte do mundo (inclusive do Brasil) com a distribuição da Amazon Prime Video. Enquanto isso, “Handmaid’s”, que traz uma narrativa assustadora e impactante sobre a fragilidade da posição da mulher em nossa sociedade, só está disponível para os EUA e o Japão – os dois únicos países onde o serviço é vendido.
Uma possível explicação para a limitação são os donos da empresa: Disney, Warner e Fox encabeçam a lista. A verdade é que o Hulu é uma aposta de companhias de TV das antigas, de quando você tinha que esperar dar a hora de cada programa para vê-lo. Parece ter faltado compreensão de que o mundo é globalizado e que a informação corre livremente (mesmo quando protegida por direitos autorais) na hora de decidir quem poderia ter acesso ao programa.
Não que isso tenha impedido fãs de assistir à produção usando de meios escusos. A prova disso é a capa da reedição do livro de Margaret. A nova imagem, assinada pelo artista brasileiro Laurindo Feliciano, tem inspiração clara no seriado – apesar de não usar uma foto da série. E não faltam resenhas em português na internet detalhando cada reviravolta do programa.
Por isso, parece óbvio que a estratégia das grandes redes de televisão por trás do Hulu de restringir o acesso a apenas dois países não tem dado certo. Na contramão, e bem mais feliz com sua audiência, está a HBO, que passou a lançar simultaneamente séries como “Game of Thrones” ao mesmo tempo no mundo todo. A Netflix também faz isso: os 190 países atendidos pelo serviço recebem os episódios de suas séries originais, devidamente legendados e dublados, todos no mesmo dia.
A comparação deixa claro algo que as grandes redes ainda falham em entender: restrição provoca pirataria. Quando um programa da qualidade de “The Handmaid’s Tale” emerge, quem não consegue um acesso legal vai, invariavelmente, partir para alternativas em uma zona cinzenta (ou simplesmente ilegal), juridicamente falando, que obviamente não rende dinheiro nenhum para os produtores originais. Enquanto os figurões não decidem – ou não querem – como fazer o lançamento mais abrangente de suas produções pelo mundo, a pirataria continuará nadando de braçada. Pior para todos.
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