Não há teoria econômica, política ou sociológica convencional que dê conta de explicar por que diabos somos uma nação desarranjada.
Vá lá que taxas de crescimento do PIB, do investimento, da inflação, do emprego ou da renda per capita sejam bons indicadores do desempenho econômico de um país. Mas isso não basta.
Vá lá que a sociologia, com seus indicadores de desigualdades sociais, seus conceitos de cidadania – equivocadamente emprestados da ciência política –, suas teorias de classe social e suas concepções de poder tenham lançado alguma luz sobre nosso atraso social. Mas isso também não basta.
A sociologia, em especial, parou no tempo. À falta de acordos sobre seus fundamentos teóricos, a disciplina desembestou pelo caminho fácil de temas legítimos, embora pouco centrais na investigação sociológica. Abraçou de vez o tema das identidades de gênero, de raça e de sexualidade, “correndo o risco de perder sua capacidade de tratar de grandes questões comuns”.
Criaram-se na academia seitas autoritárias, supostamente de base marxista, “que trocam o trabalho intelectual por práticas de autoexpressão”, o que tem gerado um “azedume que parece corroer, lentamente, a democracia contemporânea”, como sugere Fernando Schuler em artigo publicado na “Folha de S.Paulo”. Não há como negar que os impasses teóricos da sociologia, associados ao fenômeno mundial da demanda pela ampliação dos direitos civis, abriram as portas para que isso ocorresse.
Por outro lado, entre as grandes questões comuns a que se refere Schuler, desponta, a meu ver, como absolutamente central, o fenômeno da corrupção. Ironicamente, a esquerda e a sociologia, em parte tributária do pensamento socialista, resistem a incorporar essa endemia como um provável indicador da pobreza, da desigualdade e das iniquidades que assolam a sociedade brasileira.
Mas ela está por todo lado, nas agências públicas municipais, estaduais e federais, provocando uma sangria incalculável de recursos destinados à infraestrutura produtiva, à saúde, à educação, ao saneamento e à segurança pública.
Para a esquerda, a corrupção é um fenômeno intrínseco ao capitalismo a ser naturalmente superado com o advento do socialismo e a instauração da ordem moral proletária. Por enquanto, combatê-la não passa de um expediente autoritário insuflado pelo discurso da direita conservadora. Portanto, nada de errado em participar do assalto aos cofres públicos, aparelhar o Estado e a academia se o que se almeja é a instauração de uma ordem social superior.
Se assim é, nada mais natural do que a aliança estabelecida entre as esquerdas e os corruptos há tempos instalados no poder, vale dizer, entre velhos e novos corruptos, entre as oligarquias e aqueles que diziam combatê-las.
Poupem-nos.
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