Amanhã se completam dez meses do segundo governo de Dilma Rousseff. São mais de 300 dias de pura letargia, em um ambiente nacional assombrosamente infrutífero. Parece que a criatividade e até a “ginga” dos brasileiros na hora de resolver problemas se foram. Não há quem consiga passar um dia sem falar de uma crise que devasta empregos, reduz produção e recria a instabilidade que, desde o Plano Real, não se via por aqui.
O governo não reage, e, talvez por isso, o setor produtivo se afunda. A desesperança cresce. As substituições de ministros não estão servindo para nada. Tecnicamente, elas foram trágicas; politicamente, amorfas. Dilma fica entre a cruz e a espada, entre Cunha e seu criador, Lula; entre exercer a Presidência e a sobrever na política, entre assumir riscos e se render a chantagens.
Lula, acuado pelas denúncias que batem a sua porta e envolvem, com mais exatidão, os seus filhos, faz discursos para petistas desolados. Fala de perseguição das elites, mas se esquece, ou faz questão de se esquecer, de que são ex-aliados que o colocam contra a parede. Seu discurso não tem chegado às massas, pois a defesa que faz está comprometida por evidências.
Poderá falar que nada tem a ver com a vida pessoal e financeira de parentes. Dirá novamente que nada sabia? Sim, é provável. Mas, desta vez, não se descolará de um amigo, como fez com José Dirceu, mas de seus filhos. Também se mostra confuso: ora parte para o ataque, ora recua em relação ao governo. A impressão é que a história não se repetirá.
O encanto acabou? Ainda não se sabe, mas o poderoso criador do PT está se reduzindo a um político isolado e até malquisto. A comemoração de seu aniversário mostrou um pouco dessa insolvência, sustentando-se em invenções abestalhadas, como #Lula70. Antigos e importantes “companheiros” não estavam lá. Pior: estão agora nas fileiras daqueles que querem ver o seu fim.
Assim como Dilma, Lula está entre a cruz e a espada, entre Cunha e seu criatura; entre ser um ex-presidente e se manter na batalha, correndo o risco de ver seu legado ser arrasado, não por Dilma, como deu a entender, mas por sua própria postura de deixar um rastro que levará a polícia e a Justiça ao seu calcanhar.
A 60 dias do fim deste ano, presidente e ex-presidente estão no mesmo barco, mas não sabem que direção eles darão a ele. É difícil imaginar um impeachment ainda em 2015, mas ele se torna mais realizável para os meados do ano que vem. O PMDB está com a bocarra escancarada.
Porém, ainda há saída mais honrosa: Dilma faz pacto direto com a nação, negocia a sua saída diretamente com os brasileiros e condiciona sua retirada à aprovação, no Congresso, de ampla e profunda reforma pela qual o país tanto clama.
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