Não há como negar os efeitos da terrível crise que se abate sobre todas as nossas cabeças, forçando empresas a demitir e determinando economias domésticas até então impensáveis. O estresse está no rosto de cada cidadão. A dona de casa de classe média se chateia em ter que trocar a marca de seu sabão em pó, enquanto aquela que está na base da pirâmide já não encontra alternativas para manter o leite e o pãozinho francês. A carne, como na década de 80, transformou-se em consumo de luxo. Filé? Nem pensar. Melhor partir para o frango ou para o ovo.
O estudante que perdeu o Fies perde agora suas noites de sono, não como deveria, ou seja, com as horas de estudo ou com as provas do dia seguinte, mas com as preocupações de saber como vai dar conta de arcar com a mensalidade.
O empregado tem taquicardia ao sair de manhã e imaginar que pode ser o próximo da lista. Está difícil encontrar alguém que já não tenha sido assolado pela assombração do desemprego ou que não conheça pelo menos uma vítima dessa conjuntura.
Já o trabalhador desempregado começa a sentir os dramas da recessão, confirmada com as sucessivas quedas do PIB. Ainda está sob os efeitos do seguro-desemprego, porém, daqui a três ou quatro meses, não existirá nem isso.
Pior é não conseguir enxergar perspectivas. Para quem não entende nada de economia e política, de estabilidade e do tal compromisso com superávit primário, a confusão é ainda maior. Como entender que o governo vai cortar R$ 70 bilhões?
É inevitável lembrar-se daquele prato vazio que João Santana usou para arrasar com a imagem de Marina Silva quando a ex-senadora liderava as pesquisas.
Daqui a duas ou três semanas o preço da refeição nos restaurantes populares de Belo Horizonte e cidades vizinhas passará para R$ 3. O assalariado ou o informal que já não têm fôlego para pagar a conta de luz sobretaxada, a água mais cara e sua própria passagem de ônibus terão um impacto de mais de 50% em sua alimentação. Somado a isso, tem ainda a crise hídrica, a dengue, a superlotação das cadeias, as greves e a criminalidade que não se desacelera.
Como se todo esse choque de realidade não fosse o bastante, há ainda o pessimismo plantado e a difusão da má informação. Na última quinta-feira, a notícia de que uma fábrica de caminhões em Sete Lagoas teria suas portas fechadas, o que foi desmentido pela empresa horas depois do vazamento da “notícia”, criou um estado de pânico entre trabalhadores, fornecedores e empresários. Irresponsabilidade pura, que, apesar de negada, deixa sequelas, sobretudo emocionais. É muito para o já combalido coração brasileiro. Até quando vamos suportar, sem termos um piripaque ou um surto psicótico?
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