Mais de 500 mil candidatos, para ser preciso 529.374 (8,5% do total de inscritos), zeraram a nota da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para tirar zero, segundo os coordenadores do Enem, é preciso escrever menos de sete linhas, copiar textos de terceiros ou escrever sobre um assunto completamente alheio ao tema – no último exame, realizado em 2014, a proposta era “publicidade infantil”.
O ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), inclusive, chegou a julgar a pouca familiaridade dos estudantes com a questão como um dos fatores principais para um resultado tão ruim. Mas seria importante o MEC promover uma leitura mais ampla para o desempenho pífio dessa edição do Enem.
Não é apenas senso comum a queda qualitativa do ensino e público e privado, como também um menor apego das gerações mais novas à leitura e à escrita formal diante de um mundo imperativo de imagens e comunicações abreviadas e superficiais. Em 2013, a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), iniciativa do próprio governo federal lançada um ano antes para mapear a qualidade do ensino no país, revelou um nível “baixo” de leitura em crianças com menos de 10 anos nas escolas públicas de 22 Estados brasileiros.
A situação não é melhor entre os adultos. Pesquisa da Pró-Livro divulgada em 2012 mostrava uma diminuição significativa do público considerado leitor entre os anos de 2007 e 2011. O percentual de quem leu pelo menos um livro a cada três meses havia caído no período, de 55% para 50% da população. Dentro desse contexto, há ainda aquela parcela não mensurada capaz de ler, mas com dificuldade de interpretar os textos.
Ou seja, apesar das estatísticas oficiais e da importância real do maior número de pessoas nas escolas e universidades brasileiras, a qualidade do ensino e da formação de pessoas minimamente críticas caminha em sentido oposto.
Para escrever uma redação, bem ou mal, com erros ou não de ortografia, é necessário compreensão do tema proposto, raciocínio lógico, associação de ideias e conexão de parágrafos. E essas faculdades estão sendo deixadas de lado não só pela escola formal, mas também por um modo de vida superficial e imediatista comum a jovens, adultos e idosos.
Os brasileiros, que estão entre os líderes de usuários de redes sociais, estão se especializando em ler títulos, em replicar matérias sem ao menos compreendê-las. É como se soubéssemos nada sobre tudo. As discussões, as opiniões emitidas são formadas e esquecidas na mesma velocidade da atualização de uma página no Facebook.
Por essas razões, o resultado da redação do Enem não é surpreendente, mas é altamente preocupante.
Clique e participe do nosso canal no WhatsApp
Participe do canal de O TEMPO no WhatsApp e receba as notícias do dia direto no seu celular
O portal O Tempo, utiliza cookies para armazenar ou recolher informações no seu navegador. A informação normalmente não o identifica diretamente, mas pode dar-lhe uma experiência web mais personalizada. Uma vez que respeitamos o seu direito à privacidade, pode optar por não permitir alguns tipos de cookies. Para mais informações, revise nossa Política de Cookies.
Cookies operacionais/técnicos: São usados para tornar a navegação no site possível, são essenciais e possibilitam a oferta de funcionalidades básicas.
Eles ajudam a registrar como as pessoas usam o nosso site, para que possamos melhorá-lo no futuro. Por exemplo, eles nos dizem quais são as páginas mais populares e como as pessoas navegam pelo nosso site. Usamos cookies analíticos próprios e também do Google Analytics para coletar dados agregados sobre o uso do site.
Os cookies comportamentais e de marketing ajudam a entender seus interesses baseados em como você navega em nosso site. Esses cookies podem ser ativados tanto no nosso website quanto nas plataformas dos nossos parceiros de publicidade, como Facebook, Google e LinkedIn.
Olá leitor, o portal O Tempo utiliza cookies para otimizar e aprimorar sua navegação no site. Todos os cookies, exceto os estritamente necessários, necessitam de seu consentimento para serem executados. Para saber mais acesse a nossa Política de Privacidade.