Os desdobramentos da crise ética revelam a complexidade do sistema político brasileiro e sua vulnerabilidade às relações promíscuas entre detentores de mandato popular e financiadores de campanhas eleitorais. De tal sorte que os princípios ideológicos e éticos que poderiam justificar a existência de um partido político não determinam as decisões de seus representantes. A despeito de diferenças ideológicas, a maioria dos grandes e médios partidos políticos está sempre com o governo, embora ameaçando abandoná-lo antes de importantes votações. É uma base de apoio instável, mas segura se atendida em suas insaciáveis demandas.
Assim, a composição partidária de apoio ao governo Temer é praticamente a mesma que sustentou os governos Lula e Dilma. A diferença significativa é a exclusão dos partidos de esquerda (PT, PCdoB e PDT), que compunham a base política das administrações petistas, e a coalizão parlamentar do atual governo, substituídos por PSDB, DEM e PPS, que haviam apoiado FHC em seus dois mandatos.
O grupo central de partidos relevantes no Parlamento (PMDB, PP, PSD, PR, PRB e PTB) não abandona o governo, qualquer que seja sua orientação político-ideológica. Ademais, suas lideranças controlam processos e decisões importantes no Congresso Nacional, podendo ameaçar, paralisar ou até mesmo ajudar o governo, conforme seus próprios interesses.
Esse comportamento dos políticos brasileiros poderia ser definido como o da ética da conveniência, uma adição aos dois conhecidos conceitos de Max Weber – ética da convicção e ética da responsabilidade. A prática partidária brasileira tem demonstrado que princípios morais não definem o comportamento dos partidos, nem, tampouco, as decisões são condicionadas pelas circunstâncias, atendendo o interesse coletivo. A principal consideração dos partidos políticos é sua permanência no controle dos mecanismos que permitem a reprodução de suas relações com seus financiadores.
Dessa forma, não é a ética weberiana da responsabilidade que descreve o comportamento político brasileiro, mas a ética da conveniência que se adequa aos interesses privados na atividade política, confunde os meios com as finalidades da ação pública e se molda às artimanhas de perpetuação do sistema político vigente.
Os episódios mais recentes no Parlamento são evidências desse modus operandi. Os partidos do núcleo político central exigem maior participação no Poder Executivo para continuar apoiando um governo fraco e com baixa popularidade. Certamente não para ajudá-lo, mas para tirar proveito do que ainda resta até as próximas eleições.
Na mesma lógica, é difícil imaginar que deriva da ética da convicção a vontade de parte majoritária do PSDB de deixar o governo. Mais parece ser estratégia oportuna para se livrar antecipadamente do governo Temer, antes dos embates eleitorais de 2018.
Enfim, governo e Parlamento se assemelham a lojas de conveniência, onde cada partido busca rapidamente o produto que lhe satisfaça de imediato.
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