O presidente Jair Bolsonaro formou sua equipe sem preocupação com as competências políticas de seus auxiliares diretos.
Dois ministros foram apresentados como superministros pela relevância de suas áreas e pelo simbolismo que têm. Colocar a economia no rumo e combater a corrupção e o crime organizado foram as missões dadas a Paulo Guedes e Sergio Moro, respectivamente.
O ministro Sergio Moro tornou-se um caso exemplar. Por sua atividade até então como juiz responsável pelo julgamento dos processos da Lava Jato, construiu uma imagem de justiceiro da política, implacável contra os transgressores da lei e da moral. Ao aceitar o convite do presidente, o juiz Moro não avaliou seguramente as consequências de sua decisão. À época, a justificou dizendo ter o presidente aceitado suas propostas para a pasta e que iria para o governo para exercer funções exclusivamente técnicas, com autonomia e independência, olvidando que o cargo que ocuparia, por sua própria natureza, era político. Autoengano?
Moro abandonava não apenas uma profícua carreira na magistratura, na qual tinha estabilidade e independência e havia, sobretudo, angariado elevado prestígio, para assumir um cargo que o subordinaria às contingências do governo. Filiou-se ao projeto político do presidente Bolsonaro, com todas as suas consequências, para o bem ou para o mal.
Comentei aqui, neste espaço, em 7.11.2018, que a falta de transparência em relação à cronologia dos contatos de Moro com a equipe do ainda candidato Bolsonaro, conforme assinalara Elio Gaspari, deixou uma fissura aberta na sua integridade.
Depois de somar muitos reveses nos primeiros meses de exercício, o ministro Moro vê-se diante de embaraçosa situação quando o presidente Bolsonaro afirma publicamente que mantém o compromisso assumido de indicá-lo à próxima cadeira disponível no STF. Novamente, sua resposta, também pública, não corresponde à grandeza de seu cargo, ao dizer, visivelmente constrangido, que não há vaga aberta no STF e, se convidado no futuro, irá avaliar a conveniência em aceitá-lo. O caráter evasivo da resposta favorece a dúvida.
A ambição apequena os homens. Na política, o simbolismo significa mais do que as palavras. Sergio Moro não avaliou corretamente os impactos de sua decisão para sua história e sua imagem pública. Apequenou-se. Não foi o presidente que aceitou o seu projeto. Ao contrário, a versão que ficará para a história é a de que o presidente Bolsonaro comprou a grife Sergio Moro, pagando-lhe com uma cadeira no STF, empenhando o fluxo futuro de recursos públicos. O que isso difere da velha política? O que importa nos casos de corrupção, já nos ensinara o juiz Moro, não é o destino, mas a origem da contrapartida.
Seu projeto escafedeu-se. O ministro transformou-se desde então em ministro interino. Sua vaga já está posta em disputa.
O superministro rebaixou-se a subministro.