O novo escolhido para a direção geral da Polícia Federal é o ex-diretor geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. O nome dele foi publicado pelo presidente Jair Bolsonaro no Diário Oficial da União desta terça-feira, 28. Ele é delegado federal desde 2005 e atuou como chefe da segurança de Bolsonaro durante o período de transição após o segundo turno.
Ramagem será o substituto de Maurício Valeixo, exonerado pelo presidente na última sexta-feira, 24. A saída de Valeixo foi o que motivou o pedido de demissão do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que deixou o cargo acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal.
Alexandre Ramagem tem 47 anos e é delegado da Polícia Federal desde 2005, quando foi aprovado em concurso. Na fase inicial de sua carreira, atuou no combate a grupos de extermínio no Distrito Federal e no combate ao tráfico de drogas e facções criminosas em Roraima e no Amazonas.
Em 2017, ele ingressou na equipe da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, tendo participado das investigações e operações contra deputados da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Ramagem se aproximou do presidente e dos filhos ao assumir a chefia da segurança de Bolsonaro após o fim do segundo turno das eleições em 2018, durante o período de transição do governo.
Diante de notícias que apontavam a proximidade de Ramagem com os filhos — ele passou o Ano Novo em 2019 na companhia de Carlos Bolsonaro —, o presidente disse não ver problemas na amizade e que o novo diretor geral da Polícia Federal é da confiança dele.
"Ele ficou novembro e dezembro, praticamente, na minha casa. Dormia na casa da vizinha, tomava café comigo, aí tirou fotografia com todo mundo. Foi no casamento de um filho meu. Não tem nada a ver a amizade dele com o meu filho. Meu filho conheceu ele depois. E eu confio, passei a acreditar no Ramagem, conversava muito com ele, trocava informações. Demonstrou ser uma pessoa da minha confiança, então a partir do momento que eu tenho uma chance de indicar alguém pra PF, por que não o indicaria?", perguntou Bolsonaro na porta do Palácio do Alvorada no fim da tarde de segunda-feira, 27.
No início de 2019, Ramagem chegou a ser nomeado superintendente da Polícia Federal no Ceará, mas não tomou posse porque foi convidado para trabalhar como assessor direto do ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz. Ele continuou no cargo mesmo após Santos Cruz ser demitido e Luiz Eduardo Ramos assumir a secretaria.
No começo de junho, o presidente indicou Ramagem para chefiar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), posto que ocupava até esta terça-feira, 28. Na sabatina feita pela Comissão de Relações Exteriores do Senado, o senador Flávio Bolsonaro, investigado por esquemas em seu gabinete quando era deputado estadual no Rio, afirmou que Ramagem tem a total confiança da família.
“A sua competência não é questionada em momento nenhum”, disse o filho do presidente.
O senador disse que é fundamental que o presidente da República seja alimentado com informações.
“É fundamental ter uma equipe que dispõe não só de tecnologia de ponta [...] mas também do pessoal qualificado, que tenha a visão, a percepção, a iniciativa de identificar o que é importante, para que se busque, para alimentar o presidente da República e toda sua equipe”, afirmou Flávio
Associações reagem à nomeação
Para o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), a maneira como a troca do diretor geral da corporação foi feita "causa um problema muito sério"
"Mas o doutor Ramagem não tem culpa disso. Ele é visto internamente como um bom profissional e será acolhido pelos pares. Obviamente, com todas as missões que tem que ser feitas nesse momento que são resguardar a distância do governo e proteger o órgão", disse Edvandir Paiva.
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) considera que Ramagem “é um policial perfeitamente qualificado para o cargo e tem o respeito da categoria”.
Por meio de nota, a entidade enfatizou a importância da Polícia Federal ficar longe de qualquer interferência política e disse que acredita que a corporação seguirá com autonomia e independência para atuar em suas investigações.
“Até o momento, não se tem notícia de qualquer interferência nas investigações em andamento, até porque a Polícia Federal detém autonomia investigativa e técnico-científica asseguradas em lei”, diz a nota.
Já a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) disse que acompanha atentamente a nomeação tanto de Alexandre Ramagem quanto a de André Mendonça para o ministério da Justiça, e que ambos têm qualidades para desempenhar as funções.
“Neste momento conturbado, no entanto, é necessário que o ministro e o diretor-geral demonstrem repúdio e atuação concreta contra qualquer possibilidade de interferência política nos trabalhos da Polícia Federal, que é uma instituição de Estado”, diz a APCF por meio de nota, afirmando que estará vigilante para rebater qualquer interferência indevida na corporação.