A chinesa BYD celebrou nesta semana a inauguração de sua fábrica em Camaçari, na região metropolitana de Salvador, na Bahia, que, por enquanto, ainda não entrou em funcionamento.

Resultado de um investimento de R$ 5,5 bilhões — sendo R$ 1,4 bilhão já aplicados até o momento —, o complexo ocupa uma área de 4,6 milhões m², equivalente a mais de 600 campos de futebol considerado o maior do tipo fora da China.

Nos pavilhões já em operação, a montadora afirma que já iniciou a pré-produção dos primeiros modelos nacionais: o compacto Dolphin Mini 100% elétrico e o híbrido Song Plus, ambos oriundos de kits SKD (Semi Knock-Down) importados da China.

Segundo os executivos da BYD, a produção em série está prevista para as próximas semanas. A empresa trabalha com a expectativa de que ainda em 2025 sejam fabricadas cerca de 50 mil unidades, alcançando 150 mil/ano a partir de 2026, com meta de expansão para 300 mil na segunda fase.

Autoridades destacaram os impactos regionais e nacionais. A vice-presidente global da BYD, Stella Li, afirmou que a Bahia foi escolhida pela “força de seu povo” e reforçou o posicionamento do polo como futuro “Vale do Silício da América do Sul”.

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, ressaltou o papel transformador na cadeia industrial local, com inicialmente 1.000 empregos diretos e expectativa de até 20 mil postos (diretos e indiretos).

Modernidade e inovação tecnológica

A planta, segundo os executivos da marca, contará com robôs para montagem automatizada e tecnologias de ponta em setores como instalação de vidros e fixação de baterias.

Além de produção de veículos elétricos e híbridos, o complexo abrigará em fases futuras linhas para chassis de ônibus, caminhões, processamento de lítio e desenvolvimento de motores híbridos flex à base de etanol, em parceria com cientistas brasileiros.

Segundo Alexandre Baldy, vice-presidente sênior e head comercial e de marketing da BYD Auto Brasil, “a cadeia de fornecedores já é robusta e contempla mais de 160 empresas locais, que já foram convocadas, entre elas a Continental Pneus, que já foi homologada como fornecedora oficial da marca”.

Desafios e articulações políticas

A montagem de kits SKD neste primeiro momento está condicionada à redução temporária da alíquota de importação, de 25% para 10%, requerida pela BYD junto ao governo federal. Mas a Anfavea, associação que representa as montadoras nacionais, endossa aumentos tributários, alegando necessidade de proteger a indústria nacional.

Outra frente de tensão envolve um atraso na conclusão do complexo. Segundo a BYD e autoridades baianas, a unidade só estará “totalmente funcional” por volta de dezembro de 2026 após interrupções motivadas por denúncias trabalhistas (trabalhadores chineses foram flagrados trabalhando em condições análogas à escravidão) e chuvas intensas.

Contexto mais amplo

Instalada onde antes funcionava a Ford (fechada em 2021), a fábrica representa um marco na reindustrialização da Bahia, pondo fim a um ciclo automotivo e iniciando novo capítulo sustentável. Também há esforços para implementar um centro de P&D em Salvador, elevando a região a um polo tecnológico.

Os dirigentes da BYD afirmam que o plano da empresa faz parte de uma estratégia global de presença na América Latina: “na Bahia, estamos consolidando fabricação local com planos de importar, processar e gerar exportação de energia limpa e mobilidade elétrica”.

Panorama

Alexandre Baldy afirma que a inauguração da fábrica em Camaçari combina avanços em automação, sustentabilidade e desenvolvimento econômico. No entanto, a trajetória da BYD foi afetada por denúncias trabalhistas e pressões políticas – um reflexo da forte disputa pelo futuro da mobilidade no Brasil.

Nos próximos meses, será essencial observar os desdobramentos no cronograma de produção, ajustes tributários e articulações com fornecedores nacionais.