Salão do Automóvel de São Paulo nunca mais? Essa é a pergunta de US$ 1 milhão que ainda não tem resposta. Se os organizadores insistirem em seguir o atual formato, a resposta é sim.

O assunto vem ocupando os mais diversos espaços em todas as plataformas de mídia desde o fim do ano passado, quando começou uma debandada geral de grandes fabricantes de veículos, que declinaram a participação no Salão de São Paulo deste ano, marcado para novembro e agora adiado para 2021.

Ainda que a pauta pareça recente, essa história vem de longa data, e muitos outros auto shows mundo afora estão em crise. 

Narrar em primeira pessoa só é pratica comum no jornalismo quando somos protagonistas, como aconteceu em setembro de 2017, na Alemanha, mais precisamente em Frankfurt, cidade que abriga o IAA, o maior salão automotivo do mundo. Estava presente na cobertura do evento e me deparei com um cenário bem diferente do que me habituei ver em anos anteriores. 

O IAA é realizado em oito gigantescos pavilhões, distribuídos em um enorme centro de convenções. Em relação à exuberância de outras edições, o evento já dava sinais de enfraquecimento com a falta de interesse das marcas e do público, com a ausência de importantes marcas e muitos espaços vazios ou ocupados por indústria de autopeças.

Prova maior é que a próxima edição do IAA, em 2021, acontecerá não em Frankfurt, e sim em Munique, num espaço menor e mais adequado à atual realidade do mercado. 

Para sobreviver

Frankfurt. Após 70 anos, o salão alemão mudará para Munique em 2021. A prefeitura participará da realização do evento.

Detroit. Depois de 31 anos, precisou mudar de janeiro para junho. A prefeitura também passará a investir na promoção dele.

Genebra. O salão seria em março, com um novo formato, mas foi cancelado por conta do coronavírus.

Concorrência digital

Dois anos depois, foi a vez do North American International Auto Show (Naias), mais conhecido como Salão de Detroit, considerado o mais tradicional dos Estados Unidos, que acontece anualmente no rigoroso inverno de Michigan, sempre em janeiro.

O evento ganhou uma inesperada concorrência, a Consumer Electronics Show (CES), a maior feira de tecnologia dos EUA, realizado na mesma época, mas em Las Vegas, que esvaziou ainda mais o Cobo Center, local onde é realizado o Salão de Detroit.

Assim como em Frankfurt, estive no último auto show norte-americano e era nítido seu esvaziamento. Na tentativa de resgatar seu prestígio, os organizadores do Naias mudaram a data do evento, que saiu do frio e será realizado neste ano em junho, em pleno verão. 

Por isso, tanto na Europa, como na terra do Tio Sam, essa fórmula engessada de salão com carros sendo descortinados aos visitantes e pouca interação está desgastada e precisa ser totalmente reformulada, reinventada, na verdade, para seguir atraindo interesse dos expositores e do público. 

Investimento alto para pouco retorno

Justamente no ano em que o Salão do Automóvel de São Paulo comemoraria 60 anos, o evento foi adiado. Cerca de 15 montadoras anunciaram a desistência em participar da mostra, o que inviabilizou sua realização neste ano e motivou a decisão de deixá-lo para 2021. 

Três dias depois do comunicado oficial ao mercado feita pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a Chevrolet colocou ainda mais lenha na fogueira ao declarar que também não estará presente no próximo ano se for realizada edição do salão. 

“A marca aposta cada vez mais no marketing digital e em uma jornada do consumidor totalmente customizável, concentrando seus investimentos em formatos inovadores de comunicação. Com isso, a Chevrolet reitera sua decisão de não participar de eventos em formatos analógicos, como o Salão do Automóvel de São Paulo, e informa que a participação no mesmo evento em 2021 está descartada”, comunicou a Chevrolet. 

Entre as razões alegadas pelos fabricantes para pular fora do evento são os altos custos pelo espaço destinado aos estandes. Estima-se que uma montadora do porte de uma Fiat Chrysler, Volkswagen ou Chevrolet, por exemplo, tenha um custo médio da ordem de R$ 15 milhões. 

A bem da verdade, na atual conjuntura, um investimento dessa monta pode ser muito melhor otimizado em outras ativações melhor direcionadas ao consumidor e sem dividir as atenções, que ficariam concentradas na marca.

Disrupção digital

Custo. Segundo a Anfavea, as montadoras têm um custo estimado de R$ 250 milhões a R$ 300 milhões com o Salão de SP.

Conclusões. A revisão do formato do salões é uma tendência mundial. Para as montadoras, o evento em São Paulo precisa refletir o momento de disrupção que a indústria vive. Além da redução dos custos, é preciso reavaliar o formato e o conceito do auto show.