“Está bom… Mas isso aqui com um pedaço de queijo”. Meu pai, como qualquer outro mineiro que se preze, cultua essa iguaria nossa de cada dia.

É café com queijo, generosa fatia no pão de sal, acompanhando o doce de leite ou raladinho por cima daquele angu à baiana. Queijo é negócio sério no nosso “país” Minas Gerais.

Desde 2008, o modo artesanal da fabricação do queijo no Estado é considerado Patrimônio Cultural imaterial brasileiro. São produzidas, diariamente, 50 toneladas só do queijo Minas artesanal. 

Apreciado mundialmente

Mais recentemente, nossos queijos conquistaram 50 medalhas no concurso francês Mondial du Fromage. Para isso foi preciso até “contrabandear” as peças em malas. 

Toda essa produção se espalha por fazendas de Norte a Sul no nosso território, em belas e únicas paisagens, com gente simples pronta para uma prosa com cafezinho, sabor e história.

“Há fabricação no Estado inteiro. Eu pego o carro e saio; monto roteiros”, explica Eduardo Tristão Girão, jornalista gastronômico especializado em queijos. 

No nosso "quintal"

Ele lembra que há quem pague em euro para fazer turismo pela Toscana, comer massa, tomar vinho e provar azeite por aí, enquanto há coisas fantásticas para se descobrir no nosso quintal.

“Nossa culinária é uma das mais representativas e interessantes do Brasil, ao lado da baiana e da paraense. É tradicional e deliciosa. Temos queijo, café, azeite, cachaça e até vinho. É possível montar mil roteiros”, diz. 

Queijos mineiros

Existem em Minas Gerais diversas categorias de queijos artesanais feitos a partir de leite cru, como o requeijão moreno, do Norte do Estado, e o cabacinha, do Vale do Jequitinhonha.

O Queijo Minas Artesanal (QMA) é apenas um deles. São 9.000 produtores de QMA no Estado que fabricam 50 toneladas do produto diariamente. 

Sugestões de rotas do queijo mineiro

* Eduardo Tristão Girão é jornalista gastronômico especializado em queijos. Siga @eduardotristaogirao no Instagram

Uma rota que Girão fez recentemente e recomenda por ser novidade para o turista é a do Norte.

“Pegue a BR–040 no sentido Brasília. Em Diamantina há uns 15 produtores muitos bons de queijo Minas artesanal. E, além da cidade ser histórica, um atrativo turístico, em volta há dez vinícolas”, conta.

Ele explica que chegou entusiasmado, acreditando se tratar de uma produção completamente nova, e descobriu que se produz vinho na região desde o século XIX.

“É um negócio em menor escala. Montaram até uma estação enológica, mas foi tudo desmontado durante a ditadura. Estão retornando a tradição que a gente desconhecia”.

Região de Diamantina

O jornalista ficou hospedado na fazenda Braúnas, que localiza-se na zona rural de Diamantina. O local, embora não seja um meio oficial de hospedagem, é aberto à visitação.

“Você pode ir lá e puxar papo com o seu Juca, um velhinho de 89 anos ‘firmão’. Já fez de tudo na vida: trabalhou com garimpo, fez queijo e caçou bicho no mato. É muito simpático, humilde e receptivo. Gosta de contar caso. Um cara muito legal”, apresenta Girão.

Colada a Diamantina ele lembra que está a cidade do Serro, com 300 anos de tradição na produção de queijo.

Queijo de cabra, vaca e ovelha

Saindo de Belo Horizonte a boa pedida é o roteiro Campo das Vertentes/Sul de Minas. “Ali tem o queijo minas artesanal Catauá, aquele de renda branca. Você passa por Tiradentes, Coronel Xavier Chaves, Resende Costa e Carrancas”, explica o jornalista. 

De lá, é possível descer até o Sul de Minas para conhecer a região dos queijos de origem europeia, como gruyère, gorgonzola e brie. Girão indica uma passada pela loja da fábrica Cruzília, na cidade de mesmo nome.

“Ali perto ainda tem Soledade de Minas. Vá na Val di Fiemme. Eles produzem queijo de vaca, cabra e ovelha. Dá para ver a criação dos animais”, conta. O roteiro pode ser finalizado em Alagoa: “o queijo de Alagoa é feito de massa semicozida em tacho. Ele vai na salmora. Ele é um descendente do parmesão”, descreve. 

O famoso Canastra

No Oeste de Minas Gerais, a indicação do jornalista é seguir em direção à Canastra, região famosa por seus queijos bastante premiados.

Siga, então, para Araxá, “que tem queijos muito bons”, suba para serra do Salitre e termine no Cerrado. “É região de café. Vale visitar uma fazenda e ver a colheita”, diz Girão.

Pouco explorado

Segundo Girão, infelizmente o queijo ainda é um produto pouco explorado turisticamente no Estado.

“Essa questão de valorizar o queijo como produto gastronômico é coisa recente. Em meados de 2004, ninguém falava o nome do produtor de queijo. O queijo Minas artesanal era um queijo banal. Quando se pensava em degustação, era só produto importado. Os nossos queijos são maravilhosos: nem melhores nem piores; diferentes”, afirma.

Ele observa que é preciso estruturar melhor os lugares para receber os visitantes, fazendo, por exemplo, uma área separada dedicada à degustação e com banheiros. “É legal ter um espaço dedicado a isso; demonstra profissionalismo”, opina.

SERVIÇO

QUEM LEVA?

  • Rota do queijo Minas artesanal no Campo das Vertentes. Tour de quatro horas pela Uai Trip (uaitrip.com.br), a partir de R$ 175 por pessoa. Inclui transporte, guia, degustação e workshop. 
  • Passeio ecológico Capitólio, lago de Furnas e serra da Canastra. Quatro dias, pela Primotur (primotur.com.br), a partir de R$ 1.790 por pessoa. Inclui transporte, passeios e hospedagem com café da manhã. Com visita numa fazenda de produção de queijo canastra.
  • Queijenharia (Rio Acima). Pela Planeta Minas (planetaminas.com.br), a partir de R$ 120 por pessoa. Inclui transporte, visita à Queijenharia, demonstração do processo de cura com o maturador Fernando Rodrigues, degustação e compras.
  • Circuito gastronômico pelo Mercado Central. Pela Planeta Minas (planetaminas.com.br), a partir de R$ 80 por pessoa. Inclui degustação de queijos harmonizando com cervejas artesanais na loja Roça Capital. Das 7h às 13h.

*É preciso fazer agendamento prévio em todos os passeios. 

Agências fazem tours

Com tantas premiações, o queijo mineiro anda em alta e tem atraído a atenção dos turistas. O Clube do Queijo (adoroqueijo.com.br), com sede no Rio de Janeiro, vai realizar sua segunda expedição gastronômica por nossas terras nos dias 16, 17 e 18/8. A viagem será para a região do Campo das Vertentes, passando por Barbacena, Tiradentes e São João del Rei. 

“As pessoas estão começando a descobrir os queijos artesanais e têm interesse de conhecer o local onde são produzidos”, explica Eduarda Cabral Dardeau, uma das sócias do clube de assinatura de queijos. O objetivo é que o grupo, de cerca de 20 pessoas, consiga se inserir no dia a dia de uma fazenda. 

O pacote por pessoa sai por R$ 2.100 e inclui transporte desde a capital carioca, hospedagem, alimentação, degustação e noite harmonizada com queijo e vinhos mineiros a comando do especialista em vinhos Rogério Dardeau. 

Em Tiradentes, a agência Uai Trip (uaitrip.com.br) oferece passeios pela rota do queijo há dois anos. Dalton Cipriani, diretor da agência, explica que são oferecidos dois roteiros: o primeiro somente de queijos arte, rota mista que, além dos artesanais, inclui os chamados queijos finos, no Caminho Velho da Estrada Real.

“Para o futuro, estamos desenvolvendo uma expedição gastronômica pelas sete regiões produtoras de queijos em Minas”, explica. Os passeios custam R$ 175 por pessoa e incluem transporte, guia, degustação de queijos e workshops de queijos finos. É preciso fazer agendamento prévio. 

 

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