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Recheada de problemas políticos, falta de estrutura e críticas, a Superliga B, segunda divisão, começa essa semana.

O tradicional Sorocaba, tricampeão na década de 90 com extinto patrocinador, é uma das atrações da competição.

O time estreia na quinta-feira no ginásio do Sesi contra Londrina.

Sorocaba tem no elenco uma das jogadoras mais experientes do Brasil: Nati Martins.

Prestes a completar 40 anos, a central conversou com o blog.

Nati fez parte do projeto de 3 dos principais clubes do país, passando por Osasco, Minas e Praia Clube.

Hoje o papel é outro: líder.

A história de vida de Nati Martins é exemplo. Aos quatro anos de idade perdeu 70% da audição. Aos seis anos começou usar  aparelho auditivo. Nada porém foi empecilho para realizar o sonho de atuar profissionalmente.

Nati conta que precisou do apoio das companheiras com gestos e toques para se comunicar e leitura labial.

Em recente aparição, disse que a 'carreira se resume em uma pessoa que nasceu, achou que não ia chegar em nenhum lugar e chegou além do que poderia imaginar'.

É com esse espírito que espera contagiar Sorocaba na segunda passagem pelo projeto.

Nessa entrevista, ela conta os desafios da temporada, fala da estrutura da Superliga B, carreira, idade e preconceito.

Por que a escolha de Sorocaba para jogar a Superliga B? 

Atualmente moro em Sorocaba há 3 anos devido ao trabalho do meu marido. Eu não sabia do projeto quando eu mudei, tinha acabado de ter minha filha, e tive uma rápida passagem por Curitiba. Aí fechei com eles na temporada seguinte para jogar a Superliga C. Conseguimos subir para a B e é um projeto em crescimento e bem organizado. 

Qual a diferença para esse momento em relação a temporada passada que vc passou pelo clube? 

Hoje o clube vive um momento de maturidade, posso dizer assim, um time maduro e que trabalhou muito para chegar e alcançar o objetivo que foi traçado. 

Quais os prós e contras da Superliga B?

Os prós da Superliga considero a oportunidade de vários times dar o pontapé para começar um projeto visando estar na vitrine, no caso a elite. Os contras diria que é a falta de visibilidade e parceiros que realmente invistam no projeto.

O que pode falar da estrutura da competição?

Cada ano que passa aumenta o período do campeonato e número de times, porém nem todos conseguem manter esse formato mais longo. Eu me lembro quando era mais curto vários projetos conseguiam participar e abriam oportunidade para atletas jogarem em outro time quando terminasse. Hoje não tem como fazer mais isso e muitas atletas estão indo para fora ou até encerrando a carreira por não conseguir cumprir o objetivo no clube.

Como se sente perto de completar 40 anos? 

Muito feliz. Chego na casa dos 40 super bem, realizada e com um marido parceiro, uma filha linda e brilhante carreira.

Qual a responsabilidade da Natália nesse projeto? 

Minha responsabilidade é estar disponível no que o grupo precisar e avançarmos para o objetivo proposto.

Osasco, Praia ou Minas? Dos 3 grandes qual sua passagem mais marcante

Os três times foram marcantes em várias etapas da minha vida.
O Minas ficamos em terceiro e era meu segundo time na Superliga. O Praia estava recém casada e iniciando a transição de patrocinadores, hoje Dentil. O Osasco minha primeira final da Superliga depois de várias vezes em diversos times bater na semifinal.

Como vê esses recentes casos de racismo registrados ?  

Esses casos sempre existiram. É que hoje vivemos a era da informação e tudo fica exposto. Uns casos pesados e outros vitrinistas e vai muito de acordo com quem é atingido e quem atinge (educação). Existem casos até de racismo entre a mesma cor da pele, para não dizer em outra palavra, pois a falta de interpretação hoje em dia tá zero. 

Você sofreu já sofreu preconceito? 

O preconceito é diariamente pela cor e deficiência, porém como eu sou uma pessoa bem resolvida e não gasto minha energia em algo que não vai agregar no que eu sou , filha do Deus Altíssimo.

Como superou a deficiência auditiva nesses mais de 20 anos de carreira?

A minha mãe me ensinou a fazer leitura labial e deixou eu desbravar o mundo saindo de casa aos 15 anos, mesmo ela tendo medo. Permitiu que eu vivesse para adquirir as percepções pelo fato de não ouvir. Conforme os times que eu fui entrando fui me adaptando e minhas companheiras e técnicos foram muitos parceiros comigo e me ajudaram a tornar mais leve a trajetória. Tive dificuldade? Sim e muito, mas as três palavras que são o tripé na minha vida e carreira falaram mais alto: determinação, perseverança e força.