Não sou fã da Taylor, mas poderia ter me tornado. Não conheço a fundo suas canções, embora, claro, já tenha ouvido e saiba reconhecê-las. Nada contra seu trabalho; reconheço a trajetória, o estrondoso sucesso e acho legal a habilidade de construir histórias com sua vida afetiva — e ganhar dinheiro com isso. É válido. Mas, não sinto liga, não me conecto. Talvez por eu ser mais velha, assumo. Não a admiro, mas, repito: eu poderia ter começado a admirar.
Um show de horrores se revelou no começo de sua turnê: a cidade maravilhosa mostrou suas sombras com arrastões, violência, desorganização e um calor absurdo com a sensação térmica de 60º graus dentro do estádio onde foi o show. Por resultado, tivemos a trágica morte da jovem Ana Clara, estudante de Psicologia, que juntou dinheiro e viajou pela primeira vez de avião para sua cantora favorita.
A terrível promotora do show T4F errou muito. As autoridades também, pela falta de legislação adequada que não permite responsabilizar as pessoas certas.
Trágico. Não tem outra expressão.
Taylor fez um breve comentário em suas redes lamentando o fato e disse que não falaria disso no palco.
Eu nem faço ideia da dor da cantora, vir trabalhar numa carreira que era seu sonho e ter uma fã morta na sua apresentação. É terrível.
Contudo, ela não tinha a opção de se manter calada. Com uma legião de fãs ao redor do mundo, com uma vida absurdamente interessante e fora da curva, sentada em seus bilhões de dólares, voando em seu jatinho (sua emissão de carbono já está nos jornais) e sendo referência para milhões de jovens, o silêncio não lhe cabe.
É difícil? Muito. Valeria chorar e até ficar muda ao tentar falar, mas não ignorar completamente a dor de uma vida interrompida.
Quem já recebeu tanto, não pode se omitir. Quem tem mais visibilidade pode tornar visível o que vive à margem. O corpo da jovem foi levado de volta a sua cidade por meio de vaquinha de pessoas que se importavam. É correto culpar a produtora por isso, mas os fãs são da cantora, não de quem (mal) organizou o evento.
Posso não consumir o trabalho de diversas pessoas, mas sei admirá-las pelo que são.
Taylor cantou e encantou, mas tal como uma boneca, não falou. Aos meus olhos, a famosa, amada e superpop cantora segue pueril e menina, não alcançando o timbre das grandes divas que assumem assuntos de mulheres adultas.