Escrevo este texto às 21h de segunda-feira, dia 2 de dezembro de 2024, dois dias depois da derrota do Atlético, de forma vexatória, na final da Libertadores. Vexatória, sim. Não pela qualidade do adversário, mas pelo contexto - jogando com um a mais durante mais de 100 minutos no Monumental.

O jogo ainda está vivo na minha cabeça e, de tanto que senti a derrota, ainda não consigo ter o discernimento pra analisar o que aconteceu dentro do campo. Peço desculpas. Falaremos sobre isso depois.

Por enquanto, ainda no aeroporto, no meio da saga da viagem de volta (cansativa, mas bem mais tranquila do que a de incontáveis atleticanos que enfrentaram estradas intermináveis e condições desumanas), venho falar sobre o descolamento da realidade que hoje é rotineiro no Atlético.

Há pouco, nas redes sociais, Rafael Menin, um dos donos do clube, postou um texto bonitinho, editadinho e bem pontuado pra garantir que o sofrimento é de todos e pra pedir “frieza para lembrar que o projeto é de longo prazo”. Para mim, é como chamar o torcedor de otário com palavras bonitas.

Em 2020, o pai dele, Rubens Menin, até então investidor - que garantia não ter a pretensão de se tornar dono -, cravava que, em cinco anos, o Atlético seria uma “potência mundial”. Pois bem: cinco anos depois, nem Libertadores o clube vai disputar em 2025.

Trabalho com futebol há 10 anos e estou acostumado a lidar com pessoas fora da realidade. A maioria dos jogadores, por exemplo, vive no mundo da lua, num universo paralelo que só existe das portarias dos condomínios de luxo pra dentro. Mas até eu, acostumado com gente sem noção, estou assustado.

São tantas promessas feitas e não cumpridas que, se fosse pra escrever um texto, daria um livro. Se fosse um filme, seria um longa. E nesse contexto, de tantas promessas vãs e tantas decepções, a gente ser obrigado a ler notinha oficial, videozinho editadinho e discurso de “vamos lá!” neste momento é um tapa na cara, daqueles piores que um murro bem dado.

Aos que, hoje, são donos do Atlético, uma dica: nem tudo é melhor que o silêncio. Ou bota a cara de verdade (no ruim, na derrota, na crise, com coletiva, com espaço para questionamentos), ou é mais negócio permanecer às escuras, controlando tudo o que o poder e o dinheiro permitem controlar.

Se a ideia é que o Atlético siga cada vez mais para esse lado frio, esquisito, desalmado, que pelo menos vocês tenham a dignidade de não convocar o torcedor com esse discurso de “precisamos de vocês”. Se precisam, comecem a respeitar. Tentem, ao menos tentem, entender a essência do clube que vocês compraram. Não é tão difícil. Alguns funcionários de vocês, que nem atleticanos de nascença são, já entenderam - Everson, Paulinho e Hulk, por exemplo. Peçam uma aulinha.

Se existe um ponto positivo na derrota em Buenos Aires é o escancaramento do caminho que o Atlético está tomando. Infelizmente, não é um caminho agradável. A gente consegue viver sem título - vivemos assim em grande parte da nossa história. A gente só não consegue viver sem alma.