É comum meu lado jornalista e meu lado torcedor discordarem. Às vezes a briga fica séria e o bicho pega no octógono da minha cabeça. Tipo agora: o jornalista é defensor voraz da paralisação dos campeonatos na data Fifa. O torcedor está com saudade de um joguinho e acha esses jogos de seleção uma bobeira. “Ah, é Eliminatória”. E daí? O Brasil vai pra Copa, a gente sabe. E as copas que me importam agora são a do Brasil e a Libertadores.
Fato é que, nessa briga, o jornalista está do lado dos fatos (como tenta estar sempre): gostem ou não, teremos 10 dias sem Atlético. A contagem já foi aberta: faltam oito. Força, amigos (agora é o torcedor falando). Já que estamos sem jogo, que tal a gente projetar qual Galo queremos ver a partir do dia 12, contra o São Paulo? O que a gente quer ver de evolução? Pra mim, uma delas é com folga a mais urgente.
Milito tem muito a trabalhar nos sete dias de treino que terá antes do jogo contra o tricolor. A defesa foi bem no Morumbi, mas mal em Porto Alegre. Voltamos a sofrer pelo alto, entre outros problemas. Mas nada é mais urgente do que a fase sofrível do meio-campo criativo do Galo. O terceiro homem de meio-campo é, hoje, uma grande incógnita.
Vamos lá. Imaginando que o 4-3-3 terá sequência, desenhar um esboço de time pro próximo compromisso não é difícil. Faremos isso considerando que todos os selecionáveis estarão de volta e em condições de jogo: Everson, Saravia, Battaglia, Alonso e Arana; Otávio, Franco e ?; Scarpa, Paulinho e Hulk. Essa interrogação é que é o problema.
Há uns meses, meu lado jornalista foi atrás de informações sobre Bernard e viu que, de fato, ele estava voltando. O torcedor se animou lembrando daquele pontinha de 2013, mas o repórter descobriu que ele era um jogador diferente, que jogava mais por dentro, com mais técnica e menos correria. Os dois alter-egos gostaram do que viram nas pesquisas, principalmente porque, desde a saída de Nacho Fernández, o Galo não tem um 10.
Bernard até conseguiu ser esse cara nos dois primeiros jogos. Deixou ótimas impressões contra Juventude e Vasco, mas caiu vertiginosamente de rendimento. Me preocupo, mas sei que o que estamos vendo não é o verdadeiro Bernard. Nós vimos o Bernard em 2012 e 2013 e estamos falando de um cara que teve ótimos números na Ucrânia, que jogou Premier League e estava voando na Grécia. Ele não é o bagre que alguns apontam. Eu garanto que não - e acredito que, após um período de adaptação, será muito útil. O problema é que não temos esse tempo agora.
Lembram do início ruim do Hulk em 2021? O craque estava mal, amassando a bola, mas era Campeonato Mineiro, e tudo bem insistir e redobrar a paciência. Deu mais que certo depois. O problema é que Bernard está precisando dessa paciência em pleno mês de setembro, época de jogos decisivos em sequência. Aí complica. E agora a bomba está nas mãos do Milito.
Vai insistir com ele e torcer pra chavinha virar do nada? É uma opção. Pro Hulk, em 2021, o segredo foi cortar o cabelo (manda o contato do barbeiro pro Bernard, Givanildo!). Mas eu acho que é contar muito com a sorte. Precisamos pensar em opções. Se tivéssemos Zaracho inteiro, era ele, mas não temos. Está lesionado.
Scarpa por dentro, abrindo espaço para Palacios? Pode ser. Foi um teste feito no segundo tempo contra o Grêmio e até funcionou, mas era um jogo atípico, o Galo tinha um a mais, etc. Se for a ideia, tem que ser bem treinada nestes sete dias. Recuar o Paulinho? Testar o Rubens por ali? Vargas? Nenhuma das ideias parece perfeita, mas pra isso temos treinador. É a hora de o Milito encontrar alternativas, porque o rendimento ofensivo do Galo passa por essa interrogação que precisamos, o quanto antes, transformar em exclamação.
Saudações!