"A gente precisa parar de ficar falando bonito e mostrar mais dentro de campo". A declaração de Kaio Jorge, dada à imprensa antes do treino desta sexta-feira (14), na Toca da Raposa 2, expõe ao menos que os jogadores desenvolveram neste doloroso período de reclusão uma autocrítica sobre o que apresentaram neste início de ano. É um aprendizado tardio, claro, que não precisava sequer de ter chegado a tal ponto. Mas é bom que haja esse espírito de mudança, um sentido de urgência e também de insatisfação interna, aquele incômodo que, com certeza, pode ser um fator motivador para uma volta por cima. Ver uma final acessível se esvair por erros próprios é doloroso.
De fato, o Cruzeiro deixou que muitas falas atravessadas tomassem a narrativa, algo que sucessivamente o torcedor viu desde a temporada passada. Muitas vezes as palavras mal ditas nos microfones ou colocações sobre o time se digladiavam com a performance em campo. Não havia uma sincronia. Eram movimentos dispersos que prejudicavam. E isso não partia claro apenas dos jogadores ou treinadores, haja vista o episódio do áudio vazado.
Eu sempre fui da opinião que este elenco precisava se fechar em torno de um objetivo e caminhar em uma única direção, sem que o externo trouxesse impacto. Não à toa, chegou a ser aventada a possibilidade de um racha no time, com grupos divididos entre os que já estavam desde a era Ronaldo e os novos contratados.
Tal situação seria muito pequena tendo em vista a camisa que cada um destes atletas enverga. Acima de interesses pessoais, a responsabilidade maior necessita ser o Cruzeiro. Sabemos também que muitas vezes elencos campeões possuem seus entreveiros, atletas que não se bicam, mas quando a bola rola, a sede de vitória é muito maior do que as diferenças. Ninguém está ali pra ser "best friend" do outro, mas o profissionalismo é a base do sucesso.
Se o sacrifício do Mineiro foi necessário para que este time encontre a toada, que ótimo. Às vezes é preciso perder algo pelo caminho para ter um futuro melhor adiante. Só lamento que em muitas ocasiões a escolha demande um fardo pesado. Como Kaio Jorge disse, o nível de comprometimento - agora - aumentou bastante. Poxa vida, isso já deveria ser de cara um mantra de um elenco com salários em dia, estrutura e todas as condições necessárias para executar as funções atribuídas. Bem, ao cruzeirense só resta agora esperar, contar os dias para que o Brasileirão comece e os jogadores mostrem, de fato, que evoluíram bastante neste período.