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A adversidade é inevitável.
Não há dúvida se ela vai ou não surgir na sua vida.
A questão é a forma dela e o modo como você irá enfrentá-la. No esporte não é diferente.
É tudo que pensa Maicon Leite, jogador de Suzano.
A pressão no dia a dia é cada vez maior. A cobrança por resultados e desempenho caminha na mesma proporção.
Aos 33 anos, ele considera que atingiu a maturidade.
Foram 5 temporadas na carreira longe do país jogando na Itália, Portugal, Romênia e Bélgica.
Nessa conversa com o blog, o atleta fala abertamente da importância dos cuidados fora de quadra, parte física, respeito a profissão e fundamentalmente a questão mental.
'A parte mental é essencial para uma carreira de sucesso, seja dentro ou fora do esporte. Em tempos de redes sociais e um mundo tão globalizado, entender que não importa o que acontece no ambiente externo, mas sim como reagimos aos estímulos que nos são dados'.
Maicon conversa sobre seleção, aprendizado e oportunidades.
Como avalia a falta de oportunidade na seleção brasileira?
A nossa seleção está passando por um necessário processo de renovação. Temos uma brusca mudança de geração que faz necessário procurar novas referências. Eu acredito muito no trabalho que está sendo feito, temos bons materiais humanos a serem lapidados e isso vai demandar tempo e paciência, até que todos possam ganhar a devida bagagem internacional. Eu sigo focado no meu desenvolvimento, buscando crescer fisicamente, tecnicamente, como também buscando resultados expressivos, pois eu entendo que são eles que irão elevar meu patamar ao ponto de ter uma oportunidade na seleção.Eu valorizo muito o meu trabalho e tudo que eu me dedico e abro mão para poder dar o meu melhor, independe da camisa que eu vista.
Recentemente completei 33 anos, com a certeza de estar vivendo meu melhor momento. Sigo motivado, cheio de sonhos e pronto para os novos desafios e oportunidades que estão por vir.
Você acha que os números e o aproveitamento na Superliga são considerados e levados em consideração pela comissão técnica?
Eu acredito que os número também devem ser levados em consideração sim. As estatísticas trazem um parâmetro de como foi a temporada do atleta. Claro que existem outras questões a serem levadas em considerações, como postura, liderança, profissionalismo e comprometimento, visto que para vestir a camisa da seleção é de fundamental estar bem fisicamente, mentalmente e realmente querer estar lá, pois sabemos que o calendário é apertado e para conseguir performar é necessário que o atleta invista, de fato, na carreira, dentro e fora da quadra.
Por que boa parte dos aletas hoje opta em construir carreira no exterior?
Eu tive a oportunidade de jogar em 5 países diferentes. Itália, Portugal, Romênia, Irã e Bélgica. Países com cultura e forma de se fazer voleibol bem diferentes. Tenho certeza que esse processo de adaptação fora da nossa “zona de conforto”, contribuiu muito para meu amadurecimento e construção do atleta e ser humano que sou hoje.Chegar em um país onde não te conhecem é também uma oportunidade de escrever em uma folha em branco, uma nova história, livre de rótulos, permitindo que possamos descobrir muito mais sobre nós mesmos. Eu acredito que seja um processo natural na carreira de todos, diria que, de certa forma, necessário para o crescimento pessoal e profissional dos atletas.
E o reconhecimento? Chegou?
As minhas últimas temporadas, na Bélgica, no Sesi e em Suzano, posso dizer que tem sido momento de colheita. Há muitos anos eu entendi que para jogar em alto nível, como também se manter nele, era necessário fazer algo a mais. O detalhe que as pessoas muitas vezes não veem, mas que faz a diferença. Eu sempre fui interessado pela parte física, visto que eu entendo que posso fazer a diferença se bem fisicamente. Meu corpo é meu instrumento de trabalho. Todos os anos eu termino a temporada e faço um trabalho muito importante. Esse trabalho me permite começar a temporada em melhores condições, como também criar uma base física para sustentar a temporada, que está cada ano mais intensa e equilibrada. Faço também há 7 anos acompanhamento com meu terapeuta, nos encontramos semanalmente. Esses são detalhes que me permitiram atingir um patamar que eu almejei chegar.
E em Suzano, como foi?
Tenho muito orgulho de tudo que construímos na temporada passada, em Suzano. Uma temporada intensa, oscilamos em muitos momentos, mas na hora que precisava o time correspondeu. Fomos semi finalistas, terminamos no top 4, deixando pra traz clubes com maiores investimentos que o nosso.
Como trabalha a parte mensal, hoje considerada até mais essencial que a física e técnica?
Com toda certeza, a parte mental é essencial para uma carreira de sucesso, seja dentro ou fora do esporte. Em tempos de redes sociais e um mundo tão globalizado, entender que não importa o que acontece no ambiente externo, mas sim como reagimos aos estímulos que nos são dados, seja ele uma crítica destrutiva, uma torcida gritando seu nome ou momento de pressão de uma decisão. Há 7 anos comecei um trabalho, semanalmente, com meu terapeuta e hoje também amigo. O autoconhecimento nos traz maior controle sobre as adversidades. Saber quem somos e onde queremos chegar é fundamental. Pra quem não sabe onde quer chegar, tudo é caminho, porém nossa carreira é curta e passa rápido demais. Eu tenho plena certeza que uma mente forte, nos permite manter o foco no objetivo.
Como surgiu a questão da liderança na sua carreira, algo perfeitamente visível independentemente do seu time estar liderando ou atrás no placar?
Eu me sinto privilegiado de poder ter trabalhado com jogadores que foram e vão continuar sendo referências dentro do nosso esporte. Éder, Giba, André Nascimento, Dante, Serginho, Murilo, Marcelinho, dentre outros, foram referência que eu pude ver de perto, acompanhar o dia a dia e entender a mentalidade que os fizeram grandes campeões. O voleibol é um esporte coletivo, todos vão ganhar e perder. É importante fazer com que todos se sintam parte e responsáveis pelos resultados. Eu acredito que minha liderança é orgânica e surgiu de forma muito natural, na medida que fui investindo no meu próprio crescimento.
A ideia é fazer com que todos comprem a nossa ideia e possamos crescer juntos como time. O líder nem sempre vai estar em destaque, mas ele pode potencializar e influenciar positivamente os que estão ao redor, é isso que tento fazer no meu dia a dia, buscar instigar meu colegas e fazer com que eles acreditem que podem mais, e isso é feito fora das quadras, como uma cola que aglutina peças isoladas de um quebra cabeças até formar o quadro que buscamos alcançar. Trabalho esse discreto, que não é visto por quem apenas acompanha os jogos, mas que está lá assim mesmo nos resultados.