O Brasil encheu-se de orgulho no último fim de semana com a vitória de "Ainda Estou Aqui" no Oscar, com o país, enfim, conquistando sua primeira estatueta na cerimônia mais prestigiada da indústria do cinema. Um reconhecimento tardio ao valor das produções nacionais, repletas de histórias fantásticas e que refletem a cultura pujante de um país multifacetado como o nosso.
Passado os elogios à obra de Walter Salles, inspirada no livro de Marcelo Rubens Paiva, voltemos ao assunto desta coluna, que é o Cruzeiro. Aproveitando-se do clima carnavalesco, onde está liberado apropriações culturais, nada melhor do que utilizar-se do meme relacionado ao filme "Ainda Estou Aqui" para lembrar de um personagem de R$ 36 milhões que ainda não se encontrou na Toca da Raposa 2.
Curiosamente, Walace custou aos cofres do Cruzeiro pouco menos do que foi gasto no melhor filme internacional do Oscar 2025, orçado em R$ 45 milhões. Aos 29 anos, o jogador vem tendo dificuldades para se firmar no meio-campo do time mineiro, seja pela concorrência ou pelos ecos do passado, especialmente a final da Copa Sul-Americana, onde sua atuação foi também chave para a derrota.
As oportunidades estão batendo à porta do volante, campeão olímpico e com passagem no futebol europeu. Mas ele não está aproveitando da maneira esperada. Se ainda há espaço para o atleta no Cruzeiro? Acredito que sim, muito pela dificuldade que o sistema defensivo do time demonstrou no Campeonato Mineiro, sofrendo gols em todas as partidas da competição.
Além da deficiência visível dos laterais, em especial William, creio que alguns dos gols sofridos pelo Cruzeiro, passaram pela falta de uma proteção melhor na cabeça de área. A imposição física de Walace, por exemplo, poderia ser uma opção para solucionar este problema, fazendo talvez um time mais pegador no meio, não apenas com Lucas Romero ou Matheus Henrique desdobrando-se entre as funções de construir o jogo e marcar.
Porém, a ideia é apenas uma ideia sem comprometimento. Walace, em algumas oportunidades que teve neste ano - foram apenas três jogos - aparentou estar pesado e sem ritmo. E o próprio Pedro Lourenço trouxe luz ao tema, apontando que com a chegada de Jardim, o atleta entrou no estreito, perdendo quatro quilos e se recondicionando fisicamente.
É importante que o jogador tenha esse tipo de autocrítica e perceba que é preciso mudar seu comportamento para tornar-se útil. Até o momento ele não justificou em nada sua aquisição milionária e é um dos jogadores que mais estão devendo bola sob a gestão Pedro Lourenço. O futebol nem sempre é uma ciência exata. Ser contratado a peso de ouro não significa um encaixe imediato. Mas é preciso que Walace justifique os valores.
Há esperança da parte de Pedrinho que Jardim consiga recuperar o volante. Mas isso só será possível se houver o interesse do atleta. Até porque não há como reclamar de chances. Ninguém desaprende a jogar bola. Que Walace, assim como o elenco, seja capaz de dar a volta por cima, atingindo em campo o nível que o papel projetou.