Ainda atuava como setorista do Cruzeiro quando explodiu a notícia da transferência de Vitor Roque para o Athletico-PR. Apesar de o clube paranaense justificar à exaustão que seguiu todos os trâmites legais, o fato é que o Furacão se sentiu o espertalhão da história. E, de certa forma, foi mesmo. Adquiriu uma joia celeste por valores módicos, num verdadeiro “pulo do gato” sobre um garoto que já havia mostrado personalidade em jogos importantes e que era, para a recém-nascida SAF de Ronaldo, uma peça estratégica para o futuro.
É evidente que houve erro grosseiro por parte da gestão celeste da época ao não revisar cláusulas contratuais tão frágeis. Mas o Athletico-PR também não teve pudor. Arrematou o atleta, fez a manobra e, mais tarde, encheu os cofres. Pagou R$ 24 milhões ao Cruzeiro e revendeu o atacante ao Barcelona por 74 milhões de euros, cerca de R$ 395 milhões na cotação da época. Um negócio que grita desigualdade, mesmo dentro da legalidade.
O que piora o enredo é uma informação citada até por Alexandre Mattos, então CEO do Cruzeiro: o clube mineiro teria inicialmente oferecido Vitor Roque ao próprio Athletico por R$ 40 milhões. E, ainda assim, ficou sem o jogador e sem o dinheiro desejado. Foi, de fato, uma negociação mal conduzida, com consequências amargas.
Por isso, soa curioso ver o Athletico agora revoltado com o Cruzeiro pela aquisição do lateral-direito Kauã Moraes, de apenas 18 anos. A Raposa pagou a multa, acertou com o jogador e agiu dentro da legalidade. Exatamente como o Furacão fez no passado, e com direito a ironias quando o Cruzeiro tentou recorrer à Justiça.
O mundo gira. Os papéis se invertem. E os argumentos mudam conforme o lado da mesa. Se era legal antes, agora não serve mais, presidente Petraglia?
Não se trata de vingança. O que o Cruzeiro fez foi visão de mercado. Identificou um jogador promissor, em um clube debilitado na Série B, e investiu. Confiou no talento e no retorno que ele pode proporcionar. Foi estratégico. E legítimo.
Mais do que tudo, esse movimento mostra um Cruzeiro diferente. Um clube que observa o mercado, que tem capacidade de investimento e que voltou a ser vitrine. O tempo da crise severa ficou para trás. Aquele em que se vendia o almoço para pagar a janta.
Aqui se faz. Aqui se paga.