Mui provavelmente, quando esta coluna for postada, raros serão ou esgotados estarão os ingressos para “Carmina Burana”, no Palácio das Artes. Mas não custa tentar, vai que.... Isso por ser um espetáculo incontornável, uma pérola. Na próxima vez sejam mais rápidos. Mas não se desesperem, vem aí outra maravilha: na abertura da Semana Santa, dias 15 e 16 de abril, às 20h, teremos nada menos que “Messias” de Haendel. Corram! Agora vamos ao que (mais) interessa hoje.
Música mágica
“Carmina Burana” é, antes de tudo um “amor à primeira vista” do compositor alemão, Carl Orff, por um amontoado de poemas medievais, descoberto por acaso, como sempre, romântica e invariavelmente, em um antiquário, em 1934. Certamente foram escritos por gaiatos, jovens e pobres “religiosos” vagando pela Europa; autores de modinhas satíricas sobre a Igreja, com provocações, “canções coletivas para beber até cair” ou baladas amorosas.
A Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, encantando com "Carmina Burana", no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. Foto: Paulo Lacerda/Divulgação
Música encantada
Literatura abundante e quase sempre anônima que se espalhava como peste durante o século 13. A própria “Carmina Burana”, ou “Canções de Beuern”, foram escritas em latim medieval, alemão arcaico e francês antigo, entre os anos 1220 e 1250. O nome vem da cidade de Benediktbeuern, na Baviera, e "Beuern" é uma redução carinhosa, como Beagá é de Belo Horizonte.
Encantada e perigosa
Dos 315 cantos profanos do “Codex Buranus”, Orff só usou 24, organizados em cinco partes. Os temas, claro são as delícias e torturas do amor, a beleza da natureza na primavera e os prazeres culpados da “marvada” (bebida alcóolica). Prato cheio para, exagerando, uma boa fogueira da Inquisição depois da acusação de feitiçaria, magia negra; ritos satânicos, pagãos e hereges.
Ainda no Palácio das Artes, a maestra Ligia Amadio conduzindo a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Foto: Paulo Lacerda/Divulgação
Encantada e libertária
Falando sério, é com este clássico dos clássicos, “Carmina Burana” que vai começar a temporada de concertos de 2025 do Palácio das Artes. Como protagonistas, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais - OSMG e o Coral Lírico de Minas Gerais – CLMG. Anotem aí! Dias 25 e 26, às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, na série “Concertos da Liberdade”.
Libertária e livre
A cantata é uma das mais populares do repertório coral-sinfônico e traz inebriante combinação de vozes e orquestra. Sob a regência de Ligia Amadio, a obra será apresentada integralmente, com participação do Coral Infantojuvenil Palácio das Artes e dos solistas Melina Peixoto (soprano), Aníbal Mancini (tenor) e Lício Bruno (barítono).
O Coral Lírico de Minas Gerais exibindo toda a potência da obra máxima de Carl Orff. Foto: Paulo Lacerda/Divulgação
Livre e profana
Bem antes de chegar às mãos de Orff, Benediktbeuern é o local onde um manuscrito medieval foi encontrado por Johann Andreas Schmeller, em 1847. Composto por 254 poemas dos séculos 11 a 13, o texto reúne poesias de caráter profano, abordando temas “que nossas babás não contavam”.
Profana e sagrada
Em 1936, Carl Orff selecionou os poemas e os musicou com uma abordagem inovadora, incorporando elementos medievais como o canto gregoriano. A obra é reconhecida especialmente pelo coro de abertura e encerramento, “O Fortuna”, que evoca um destino implacável e imprevisível. Parece até música de ritual de tão linda! Já “ilustrou” vários filmes, séries e artes.
Sagrada e carnal
De tão forte e perfeito, “O Fortuna”, que abre e fecha a cantata, abafa os outros movimentos. Fortuna é a deusa romana do Destino, “imperatriz do mundo”, tradicionalmente representada com uma roda, símbolo do caráter cíclico da vida e efêmera de seus prazeres, principalmente os carnais, entre outros deliciosos pecados.
O barítono Lício Bruno celebrando a vida e os prazeres, cantando "Carmina Burana". Foto: Paulo Lacerda/Divulgação
Carnal e pecaminosa
Girando a roda da fortuna, o solista Licio Bruno já venceu o Prêmio Carlos Gomes de Melhor Cantor Brasileiro e é um dos mais celebrados cantores líricos, com mais de 10 premiações nacionais e internacionais. Confessa, sem tortura, Bruno: “participar de “Carmina Burana” é sempre muito alegre. Apesar do cunho religioso, os cânticos e as poesias são sobre a vida profana e falam do prazer da vida, do amor...”
Pecaminosa e maravilhosa
Segundo o site “Vialma Classique”, entendemos que, “com a obra-prima Carmina Burana, Carl Orff dá as costas aos movimentos modernistas de sua época para assinar uma obra profundamente identificável e original, cuja riqueza rítmica e harmônica, textos elegíacos e energia vital traçam um grande afresco primitivista, absolutamente a descobrir ou redescobrir”.