Vocação e sina

Curioso como a maioria dos grandes artistas já nasce com nome de artista e, com ele, quase todos ficam famosos, viram grife: Picasso, van Gogh, Matisse, Portinari, Di Cavalcanti, Tarsila, Guignard, entre inúmeros outros, incluindo Lorenzato. A história de Amadeo Luciano Lorenzato assemelha-se muito à vida de outros pintores e escultores, imigrantes ou filho de imigrantes, no caso de Lorenzato, italianos. Como Pancetti.

Sina e sinal

Nascido em 1900, de pais operários italianos que imigraram para o Brasil, Lorenzato cresceu em uma Colônia Agrícola do Barreiro, em Belo Horizonte. E foi como obreiro e pintor de paredes que tirou seu sustento até os anos 1950. Passou por breve formação em artes visuais na Itália, quando a família retornou ao Brasil, depois da Segunda Guerra Mundial, em 1948.

Obra de Lorenzato | Foto: Daniel Mansur/Divulgação

Sinal de tempos

Breve formação, mais ou menos. Em 1920, a família Lorenzato retornou à Itália fugindo da gripe espanhola (1918-1920), onde ele trabalhou como pintor de paredes e na construção civil. Em 1925, passou pela Real Academia de Arte em Vicenza e em 1926, Roma, onde foi influenciado pelo pintor e caricaturista holandês Cornelius Keesman, companheiro de pinturas de paisagens, de visitas a igrejas, palácios e viagens pela Europa, em bicicleta.

Tempos e espaços

Por outro lado, definir a arte de Lorenzato não é tão simples. Modernista e primitivista é muito pouco para uma vida tão longa e rica em influências e experiências. O próprio Lorenzato não conseguia ou pouco se importava com rótulos: “Bem, eu não sei que estilo é, é pintura (...) quem diz que ela é ingênua, quem diz que ela é surrealista, eu não sei, pra mim... eu pinto”. Nada mais difícil que ser um simples Lorenzato.

Espaços abertos

No verso de uma de suas telas, dos anos 1940, Lorenzato é ainda mais irônico e enigmático: “Amadeo Luciano Lorenzato, pintor autodidata, e franco-atirador. Não tem escola, não segue tendências, não pertence a igrejinhas, pinta conforme lhe dá na telha. Amém”. Para bom entendedor, um autodidata franco-atirador que não segue igrejinhas explica muito, talvez tudo.

Obra de Lorenzato | Foto: Daniel Mansur/Divulgação

Abertos e infinitos

De onde veio a pintura “simples e objetiva” de Lorenzato? Exatamente de sua vida nada simples, objetiva e banal! Como pode uma pintura ser ingênua se ela é fruto de 28 anos na efervescente Europa, de muita imaginação, viagens, aventuras, coragem e originalidade, seguindo fielmente o conceito de que “menos é mais”. Muito mais.

Infinitos e eternos

Difícil é ser simples já ensinaram o chef Paul Bocuse; o gênio da raça brasileira, Nelson Rodrigues e seu colega, este nas artes e na ciência, Leonardo da Vinci, que vaticinou: “a simplicidade é o último grau da sofisticação”. Completamos com Steve Jobs: “O simples pode ser mais difícil que o complexo: você precisa trabalhar muito para fazer com que sua mente esteja limpa o suficiente para tornar as coisas simples. Mas vale a pena no final, porque uma vez que chega lá, você pode mover montanhas”. Inclusive as montanhas de Minas.

Eternos e visíveis

Pois bem! Para finalmente começar 2025 com arte pura, a Fundação Clóvis Salgado, com o tema Minas Gerais, homenageia Lorenzato nos 30 anos de sua morte. A exposição “Lorenzato: Imaginação Criativa” brilha no principal espaço expositivo do Palácio das Artes, a Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, até dia 31 de agosto.

Obra de Lorenzato | Foto: Daniel Mansur/Divulgação

Visíveis e palpáveis

Entre pinturas sobre telas, placas de cimento, aquarelas e desenhos, o público faz um passeio por 178 obras, pertencentes às coleções de Manoel Macedo, Ricardo Homem e Rodrigo Ratton, admiradores e pesquisadores do trabalho do artista. Além das obras, vitrines contendo livros e catálogos editados ao longo da carreira artística dividem espaço com jornais de época e cartas manuscritas de familiares de Lorenzato.

Palpáveis e memoráveis

Destaque para uma pintura sem título, cujo suporte é um cavalete de vidro desenhado pela arquiteta e artista Lina Bo Bardi. A pintura integrou a 60ª exposição internacional de arte La Biennale di Venezia, "Straniere Ovunque", ou "Estrangeiros por toda parte", com curadoria do brasileiro Adriano Pedrosa, inaugurada em abril de 2024.

Memoráveis e imemoriais

Resumo da ópera na maionese, em torno de Lorenzato: menos é muito mais, banais milagres, pequena grande arte, feita com pincéis de ferro, de pente de cabelos e cabo de pincel. Como temas: quintais e arrabaldes, borboletas e emaranhado de galhos e troncos, verdadeiro figurativo abstrato.

Imemoriais e reais

Favelas, subúrbios, lavadeiras, trabalhadores comuns ou braçais em formas disformes, cenas cotidianas, por do sol, a terceira margem do rio. Lorezanto não inventava, era um andarilho que andava a serviço, fazendo esboços e colorindo na volta, em casa, como todo e qualquer tipo de tinta, quase que inventando pigmentos. O apuro técnico veio da construção civil, um interminável operário em construção.

Reais e surreais

Para terminar esta coluna, precisamos do impossível: ligar Lorenzato ao Uruguai. Pode? Lorenzato e Uruguai? Tem a Lorenzato Imóveis, uma imobiliária no Centro Comercial Uruguai em Passo Fundo (RS). Tem também o professor Odair Lorenzato, formado pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, com outras pessoas ou entidades de sobrenome Lorenzato ligadas ao Uruguai ou com a região do Alto Uruguai.

Surreal e lindo

Por que Uruguai? Porque a Associação Brasileira dos Jornalistas de Turismo Seccional de Minas Gerais – Abrajet/MG anuncia a estreia de seu videocast Conexão Turismo. Histórias, lugares e personalidades dos Consulados, Legações Diplomáticas e entidades do trade turístico nacional e internacional.

Lindo e apetitoso

No primeiro episódio, o cônsul do Uruguai em Minas, Luiz Dario Ávila. Hoje, às 17h, na Rede Prime de Comunicação, bairro Palmares. Após o programa, happy hour, às 19h, no restaurante Dona Lucinha, no São Pedro. Parabéns ao presidente da Abrajet/MG, Antônio Claret Guerra.