“Certa vez, contei à minha esposa que ia comprar um envelope: ‘Ah’ ela disse, ‘bom, você não é pobre. Sabe, por que não compra cem envelopes online e guarda no armário?’. E então, fingi não ouvir. E saí para comprar um envelope porque me divirto muito comprando um envelope. Conheço muita gente. E vejo uns bebês lindos. E um carro de bombeiros passa. E eu faço sinal de positivo. E pergunto a uma mulher que tipo de cachorro é aquele.
E eu não sei. A moral da história é: estamos aqui na Terra para andar à toa por aí. E, claro, os computadores vão nos tirar disso. E o que os caras da computação não percebem, ou não se importam, é que somos animais dançantes. Sabe, adoramos nos movimentar. E é como se não devêssemos mais dançar. Vamos todos nos levantar e nos movimentar um pouco agora... ou pelo menos dançar”. Modéstia às favas, linda e poética introdução, com este texto do escritor norte-americano, Kurt Vonnegut (1922-2007). Encaixou perfeitamente para anunciarmos nossa entrevistada de hoje, a fisioterapeuta nas “Disfunções Cervicocraniomandibulares e Osteopatia”, Daniella Massote, cuja maior “ferramenta” é o movimento, uma “dança” para a saúde. Movimentar-se é preciso. Contem com ela!
Daniella, primeiro, por que você abraçou a fisioterapia?
A fisioterapia esteve presente em minha vida desde a infância, vivi a experiência de ser paciente a partir dos 4 anos de idade. Então já era algo familiar... Sempre brinco que o médico salva a vida e o fisioterapeuta devolve a qualidade de vida. E ver esse momento acontecer, ajudar pessoas, é muito gratificante. Acredito que esse foi o fator determinante em decidir pela profissão.
24 anos, já?
Sim, já se foram 24 anos de experiência. Tudo começou com a fisioterapia respiratória, me especializei pela UNICAMP-SP e posteriormente retornei para Belo Horizonte, onde trabalhei em grandes hospitais como Hospital Vera Cruz e Hospital Felício Rocho. Após alguns anos precisei mudar de cidade e percebi que continuar na área hospitalar não seria uma boa escolha e novas mudanças foram acontecendo.
No meio do caminho tinha um “pilates”?
Sim, foi aí que o pilates entrou na minha vida, aos poucos fui migrando, investindo em formações e posteriormente veio a vontade de empreender. Montei um lindo estúdio na cidade de Uberlândia, onde obtive reconhecimento e gosto pela cura através do movimento. Daí em diante nunca deixei de tratar alguém sem ver a necessidade do exercício terapêutico.
Pilates, cada vez mais falado.
Muitos pacientes que vinham para o pilates apresentavam dores na coluna, tensão na região próxima aos ombros e base de crânio, assim surgiu o interesse em me aperfeiçoar nas disfunções da coluna vertebral e nas disfunções de cabeça e pescoço. Essa área da fisioterapia é conhecida como Fisioterapia nas Disfunções Cervicocraniomandibulares, atuamos na reabilitação da Articulação Temporomandibular- ATM, em pós-operatório de cirurgias ortognáticas/faciais, zumbido, cefaleia e tontura, estando ou não associados a alterações cervicais.
E infinitos cursos, claro!
Foram diversos cursos, capacitações e especializações: Fisioterapia na Disfunção Temporomandibular (DTM) e Dor Orofacial e Especialização em Osteopatia pela EOM (Escola de Osteopatia de Madri-EOM – em formação). Em 2021 retornei para Belo Horizonte e logo percebi a necessidade de montar meu consultório, onde estou até hoje e cada vez mais satisfeita em ajudar pessoas com esses problemas tão específicos.
O que você diria para alguém que tem tensão nos ombros, dores no pescoço e dores de cabeça
Primeiramente, diria que não é normal ficar sentindo essas dores, pode até ser comum, mas não pode ser normal. Outro ponto é que dores na coluna cervical ou no pescoço, com ou sem irradiação para os braços e as dores de cabeça, podem ter diferentes causas e o primeiro passo seria classificá-las. Entender o tipo e tempo de dor, se a dor é especifica ou inespecífica, se é aguda ou crônica.
Dor é bússola?
Entender se é uma dor na coluna cervical, com a disfunção presente na coluna cervical, ou se é uma dor na coluna\cervical que irradia para abaixo do ombro, uma cervicobraquialgia ou ainda se seria uma dor cervical que irradia para cabeça, chamada de cefaleia cervicogênica. Não deixando de comentar que também haverá outros tipos de dores de cabeça em que podemos atuar e auxiliar o paciente, como na cefaleia tensional e na migrânea ou enxaqueca.
E sobre as dores na coluna cervical e a DTM e DOF (Disfunção temporomandibular e Dor Orofacial)?
É comum pacientes com DTM e bruxismo também apresentarem dores na coluna cervical, dores de cabeça e outros sintomas associados como zumbido e tontura. Então mais uma vez a necessidade de critérios específicos para identificar a real causa dessas disfunções e alcançar bons resultados.
Ao lado de um grande médico, de um bom tratamento, existe um (a) grande fisioterapeuta?
Com certeza, o melhor dos sonhos é quando conseguimos oferecer ao paciente um tratamento transdiciplinar. Por exemplo, no zumbido somatossensorial, em que atuamos, a primeira pergunta é saber se esse paciente está sendo acompanhado por um médico otorrinolaringologista ou por um otoneuro; da mesma forma na DTM, quem seria o dentista especialista em ATM que o trata; nas cefaleias, pelo neurologista. Alguns pacientes farão uso de medicações e procedimentos necessários que são fundamentais para o sucesso do tratamento. Outros também irão se beneficiar do acompanhamento psicológico e nutricional.
Fisioterapia pode substituir ou reduzir os remédios?
Sim, com o tratamento adequado podemos reduzir ou retirar o uso de automedicação e auxiliar no retorno às atividades com mais facilidade. As pessoas não imaginam o quanto esse tratamento especializado pode ser eficaz.
A fisioterapia, claro, não faz milagres, mas é fundamental, concorda?
Concordo demais. Como citado acima, percebe-se que as dores no pescoço poderão ter diferentes causas e desfechos. Por isso que muitas vezes fazer massagens, alongamentos, tomar medicações não resolverá o problema. Poderá até gerar um alívio momentâneo, mas em seguida os sintomas poderão voltar. Logo, receber um tratamento fisioterapêutico correto fará toda diferença.
O grande “segredo” é movimentar-se?
Sempre. Com dor (dentro das possibilidades) ou sem dor, mover-se é necessário. Os resultados endógenos, desencadeados pelos exercícios, em muitos casos, tratarão o paciente, principalmente quando falamos de dores crônicas, ou seja, com mais de três meses de duração.
O que é um “tratamento fisioterapêutico baseado no que os estudos apontam como eficaz”?
Hoje temos acesso a muitas informações e acredito que isso possa confundir os pacientes. Nas diversas áreas da fisioterapia, assim como na Medicina e em outras áreas da Saúde, temos muitas abordagens terapêuticas que utilizam as melhores pesquisas cientificas disponíveis, associadas a expertise do profissional e as preferencias do paciente para otimizar os resultados do tratamento. Então opto por oferecer esse raciocínio dentro da minha área de atuação. Por exemplo, nas disfunções cervicais citadas, a utilização de terapia manual e exercícios terapêuticos específicos mostrou ser superior quando comparado com terapia manual isoladamente, então me capacitei para oferecer esse tipo de tratamento ao paciente, sendo sempre individualizado e personalizado.
Qual a importância da história da doença e do diálogo com os pacientes?
Com o entendimento da real disfunção, baseado na história da doença, em exame físico, em testes específicos e em exames complementares, será possível estabelecer um prognóstico e propor um plano de tratamento.
Mais algum recado ou conselho?
Tenho clareza de que não podemos ajudar a todos, mas o melhor será oferecido aos que estão dispostos a se cuidarem. Farei o meu melhor por você! Conte comigo.