A coluna de hoje é baseada, muito baseada, em ótimo, mas gigantesco texto de Marcelo Copello, um dos mais influentes especialistas em vinho do Brasil. Mas antes, uma artificial e inteligente informação: bebidas com THC contêm tetrahidrocanabinol, a substância psicoativa da cannabis, a popular maconha.
Erva forte
O THC pode produzir euforia, relaxamento e alterações na percepção. Essas bebidas são uma alternativa às bebidas alcoólicas. No entanto, é importante estar ciente dos potenciais efeitos e riscos, especialmente devido à falta de regulamentação e pesquisas sobre os efeitos a longo prazo. Agora, pede Copello: imagine um jantar chique em São Francisco.
Uma taça de vinho branco, em homenagem a Cris Carneiro Geo. Foto: Edy Fernandes/Divulgação
Erva mundial
Ou um casamentão em Barcelona, um evento de relações em Nova York ou Paris! Mil brindes! Mas, no lugar do Champagne ou Bordeaux, latas e garrafas com líquidos translúcidos, gaseificados, prometendo um “barato” e zero ressaca. Eis o mundo das bebidas de cannabis, o segmento mais quente da nova economia psicoativa.
Mundial e global
Enquanto o consumo global de vinho cai, pressionado por jovens, mulheres, profissionais urbanos e “gente que vai morrer com uma saúde danada de boa”, novas gerações sóbrias, inimigas do álcool tradicional, têm os “cannadrinks”, seduzindo o público que, até ontem, era fiel ao vinho. O mercado global de bebidas com cannabis movimentou US$ 2,4 bilhões em 2023.
Global e soturna
Mas as projeções indicam mais de US$ 117 bilhões até 2032. Na Califórnia, EUA, terra da “esquerda festiva”, as vendas subiram 6% em 2024, mesmo com a queda de 10% nas vendas gerais de produtos canábicos e 15% na categoria de flores. As pessoas não querem mais fumar ou cannabis. Querem beber, relaxar e socializar sem os efeitos colaterais de uma garrafa de vinho.
Uma taça de vinho rosé, em homenagem a Renata Magalhães. Foto: Edy Fernandes/Divulgação
Soturna e dissimulada
Pior! A cannabis está se fundindo ao vinho, casando seu símbolo cultural com o apelo jovem da cannabis. O Burdi W (França) é produzido em Bordeaux com Petit Verdot e infusão de 250mg de canabidiol, “bebida aromatizada à base de vinho”. O marketing foca no prazer sensorial e no relaxamento sem ressaca.
Dissimulada e disfarçada
Cannawine (Espanha), vendido como “vinho canábico sem THC” é um blend de Garnacha e Cariñena com extrato de cânhamo. Na Argentina, onde a cannabis é ilegal, tem o Terpénica, espumante aromatizado com terpenos (compostos aromáticos da cannabis) e zero canabinoides.
Disfarçada e traiçoeira
O vinho está deixando de ser uma bebida sagrada e virando “emaconhada”. Durante séculos foi símbolo de refinamento, moderação, cultura e convivência. Agora, a cannabis está se apropriando desse discurso, com mais competência de marketing, dados e timing cultural. Vende estilo de vida que combina prazer com autocontrole, relaxamento com produtividade, hedonismo com propósito.
Lança-Perfume
“Você pode brindar, socializar, curtir... e ainda acordar cedo para ir à academia ou à terapia no dia seguinte”, dizem.
No jogo atual de imagem e percepção pública, é a cannabis que aparece como moderna, saudável.
Conectada à geração Z e ao autocuidado. E o vinho? Para muitos jovens, virou “coisa de velho”.
No Brasil, bebida que combine álcool e cannabis é proibida, mas isso pode estar prestes a mudar.
Em 2024, o STJ autorizou o plantio e comercialização do cânhamo industrial para fins medicinais e farmacêuticos.
O precedente pode abrir portas para usos industriais e alimentícios no futuro, como na Europa e América do Norte.
A “Marcha da Maconha” incentiva!
Se o Brasil regulamentar, vamos importar “cannawines” de países como França, Espanha e Argentina, expandindo quando houver marco legal mais amplo.
Vinícolas nacionais também poderão entrar no jogo.
A disputa já começou. De um lado, um produto com oito mil anos de história. Do outro, uma planta, antes marginalizada, que virou símbolo de uma nova era de consumo.
No Brasil de hoje é a sede com vontade de beber.