Por apenas dois minutos, o médico veterinário Oswaldo Fernandes Costa Junior, de 53 anos, chegou atrasado no Aeroporto de Cascavel (PR) e não conseguiu embarcar na aeronave que caiu na tarde de sexta-feira (9) em Vinhedo, no interior de São Paulo. A tragédia com o avião da Voepass resultou na morte de 62 pessoas - 58 passageiros e quatro tripulantes.
"A gente agradece a cada coisa que aconteceu. Aquele semáforo que fechou, aquele telefonema que aconteceu um pouco antes e impediu que a gente chegasse mais cedo, aquele compromisso que a gente demorou um pouco mais, até a vaga para estacionar em frente ao aeroporto, que foi um pouco dificultosa para encontrar…”, relatou em entrevista à RPC, afiliada da TV Globo no Paraná.
“Essa somatória de coisas levaram a apenas 2 minutos de atraso. O check-in encerra pelo sistema da Voepass às 10h40 e eu cheguei exatamente 10h42. Morreram 58 passageiros, eu seria o número 59", completou o veterinário em entrevista à RPC. Além dele, cerca de 10 pessoas também não embarcaram porque erraram o portão da companhia aérea.
O veterinário ainda contou que tentou convencer os funcionários da Voepass a permitir seu embarque e voltou frustrado para desfazer as malas em casa. Ao chegar, viu pela televisão a tragédia. "Chorei, só chorei sem parar. Abracei muito minha filha, agradeci muito a Deus por estar aqui. (...) Que Deus conforte muito, que abençoe muito, todas as famílias. É muito triste”.
O acidente
A aeronave decolou do Aeroporto de Cascavel (PR) às 11h50 com destino ao Aeroporto de Guarulhos (SP), com 62 pessoas a bordo - 58 passageiros e quatro tripulantes. A chegada ao aeroporto na região metropolitana de São Paulo estava prevista para as 13h40. No entanto, por volta das 13h21, a aeronave perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto.
Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), foi nesse momento que o avião deixou de responder ao Controle de Aproximação de São Paulo. A aeronave caiu em uma área residencial do condomínio Recanto Florido, no bairro Capela, em Vinhedo. Vários moradores capturaram em vídeo o momento em que a aeronave rodopiava no ar antes do impacto e da fumaça da explosão.
A Voepass diz que ainda não é possível precisar o que aconteceu com a aeronave. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão ligado à FAB, iniciou na sexta-feira uma investigação para apurar as causas da queda do avião. A Polícia Federal (PF) também vai auxiliar na apuração.
Os investigadores já estão em posse dos gravadores de voz da cabine do avião e de dados instalados na caixa preta. Os equipamentos serão enviados em Brasília, onde serão aproveitados. Porém, ainda não há prazo definido para a conclusão das apurações.
Segundo o brigadeiro Marcelo Moreno, chefe do Cenipa, as informações e hipóteses sobre o ocorrido ainda são preliminares e poucas conclusões podem ser tiradas. Uma das poucas certezas que já se tem é que, durante o voo, não houve, por parte da tripulação da aeronave, a comunicação de que havia uma situação de emergência.
Situação da aeronave
De acordo com o diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Luís Ricardo, a aeronave estava regularizada junto ao órgão e se encontrava com suas funções normais de aeronavegabilidade. Construída em 2010, ela deu entrada no Brasil em 2022, quando foi comprada pela Voepass, e estaria de acordo com a regulamentação.
“Ela cumpre qualquer requisito de desempenho como de emergência também. [...] Essa aeronave, como qualquer outra aeronave certificada, atende aos mesmos requisitos e cumpre os mínimos de segurança do que qualquer outra aeronave dessa categoria no mundo”, reforçou o chefe da Divisão de Investigação do Cenipa, Coronel Baldin.
Possível acúmulo de gelo
Ao longo da tarde de sexta-feira, uma das hipóteses mais difundidas por alguns especialistas foi de que a queda do avião teria sido causada pelo acúmulo de gelo na superfície da aeronave, o que teria provocado, por exemplo, o desligamento dos motores. Segundo o Cenipa, ainda não é possível fazer tal afirmação, já que as informações ainda são “prematuras”.
“Essa aeronave é certificada para voar nessas condições. Ela tem sistemas de proteção para evitar a formação de gelo na superfície. Mas também caso haja essa formação de gelo, ela tem dispositivos para eliminar. Em vários países é certificada para voar em condições severas de gelo”, disse Coronel Baldin.