Por ora, os registros de intoxicações por metanol confirmados no Brasil limitam-se a bebidas destiladas. Elas estão na base de muitos dos drinks enlatados populares no mercado de Belo Horizonte, como a Xeque Mate, que agora se pronunciam para tentar tranquilizar os consumidores em meio à onda de receio sobre o consumo de álcool.
A Xeque Mate publicou uma nota em seu perfil no Instagram, reforçando que “todos os lotes de bebida passam por testes internos rigorosos antes de chegarem ao consumidor”. A marca lembra que não há casos notificados oficialmente de contaminação de RTDs (bebidas em lata ready to drink, ou prontas para beber). “Acreditamos que isso se deve ao alto nível de complexidade técnica envolvido no processo de envase. Esse é um dos fatores que nos faz crer que nossas latas permanecem seguras e originais até o consumo”, prossegue o comunicado.
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O drink produzido com rum também é vendido em barris, por isso a marca orienta que seja consumido somente em estabelecimentos credenciados pela empresa. “Além do lacre oficial, os barris contam com a identificação do número gravada diretamente no alumínio e um adesivo personalizado que registra as informações do produto”, enfatiza.
A Equilibrista, produtora do Gingibre (que utiliza gin), Rubra (bitter artesanal) e Veneta (vodca), também saiu em defesa do mercado de RTDs. “Ficamos em uma dualidade, porque sabemos dos processos e insumos que temos, mas algumas pessoas podem ficar com medo, e isso pode respingar em nós”, diz um dos sócios da empresa, Guilherme Drager.
Na perspectiva dele, o processo de falsificação das latas não compensaria financeiramente para criminosos que desejassem lucrar com a venda do produto adulterado. “As bebidas em lata geralmente têm uma margem e um valor agregado menores, então o interesse em adulterar esse tipo de produto é menor. O maquinário para fazer latas é caro, é diferente do de uma garrafa. E poucas indústrias no Brasil produzem o vasilhame de alumínio, então é praticamente impossível comprar esse material sem deixar rastros”, argumenta.
A Xá de Cana, drink mineiro à base de cachaça, também se pronunciou. “Bebidas enlatadas, como a Xá, são lacradas hermeticamente, dificultando a falsificação! Assunto de contaminação é sério e viemos tranquilizar que: esse risco não existe aqui. Uma vez fechada, a lata não pode ser aberta sem violação. Ou seja... Não há como adicionar qualquer substância após o processo de envase”, diz a nota da empresa.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Bebidas do Estado de Minas Gerais (SindBebidas MG), Mário Marques, avalia que a apreensão dos consumidores pode frear o faturamento do setor neste momento. “Estamos tentando fazer várias divulgações para que o consumidor não tenha receio de comprar o produto correto”, diz. O sindicato publicou, ainda, uma nota que pede reforço da fiscalização sobre a produção e distribuição de bebidas no país.
Por outro lado, o criador da Manza, bebida mineira à base de álcool de maçãs vendida em garrafas, calcula que o faturamento de sua empresa não será significativamente afetado neste momento, porém vê margem para uma migração dos consumo dos destilados. “Ao mesmo tempo em que existe toda a questão séria, maior fiscalização e muitas pessoas estão evitando consumo de bebidas alcoólicas por um tempo, temos do outro lado a segurança de que nosso produto não tem risco de ser contaminado ou adulterado, e consequentemente pessoas fazendo escolhas para essas bebidas que são mais seguras”, diz.
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O coordenador da Toxicologia do Hospital João XXIII, Adebal Andrade, pontua que ainda não se sabe qual é a origem do metanol nas bebidas contaminadas – a adulteração intencional é uma hipótese, mas ela ainda é investigada. Por isso, ele analisa ser leviano dizer que uma bebida ou outra tenha mais ou menos chance de oferecer risco neste momento. “Em princípio, qualquer bebida pode ter contaminação”, diz.
No limite das probabilidades, porém, ele reconhece que a chance de contaminação de algumas bebidas é menor, embora não seja inexistente. “Em bebidas de empresas com programas de qualidade muito forte e que são certificadas, a contaminação é menos provável. Mas não consigo afirmar isso com absoluta certeza, porque já vivemos uma situação há relativamente pouco tempo em que era seguro a aconteceu [a contaminação]. É claro que em uma distribuidora clandestina que compra de um fornecedor menos fiscalizado há um risco maior”, pondera. Em 2020, um acidente na produção da cervejaria Backer levou à morte de dez pessoas por intoxicação com outra substância, o dietilenoglicol.