A gravidez é normalmente um momento de grandes transformações para a mãe, o bebê e a família. Quando planejada, alguns efeitos e riscos podem ser minimizados. No entanto, quando a gestação ocorre precocemente, os impactos podem ser sentidos ao longo da vida. Em razão disso, em 2019, entrou em vigor a Lei nº 13.798/2019 que incluiu no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, que começou no último sábado (1º/2) e segue até o dia 8 deste mês.
A gestação imatura é um problema mais comum do que se pensa no Brasil. Conforme a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a cada meia hora, uma garota de 10 a 14 anos se torna mãe, e a cada uma hora, nascem 48 bebês, filhos de adolescentes. Segundo a federação, esses dados, ainda que alarmantes, estão recuando quando comparados ao restante do mundo. As razões apontadas para a queda são as estratégias adotadas pelas autoridades de saúde para enfrentar o problema, como a própria Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência.
A médica Cláudia Barbosa Salomão, do Comitê da Infância e Adolescência de Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), acredita que uma das formas se evitar que os números sobre gravidez precoce voltem a crescer é incentivando os pais a levarem os filhos ao médico no início da puberdade. “A gente considera que uma idade ótima de estar levando os filhos ao ginecologista ou a hebiatra é com 10 anos, porque é exatamente nesse momento que vão começar as transformações puberais.”
Os sinais típicos da puberdade:
- Broto mamário (por volta dos 10 anos);
- Desenvolvimento de pelos (por volta dos 11 anos);
- Primeira menstruação (por volta dos 12 anos).
“Quanto mais cedo você leva a sua adolescente ao médico, mais tranquilidade ela terá para lidar com essa fase de transição. Também vai diminuir o constrangimento em relação aos exames ou mesmo às perguntas que possam surgir. A gente tem que lembrar que o adolescente do sexo masculino também deve ser levado ao profissional de saúde. Nestas consultas, aproveitamos para verificar a carteira de vacinas e pedir exames para verificar alterações de lípidios, de metabolismo glicêmico, com objetivo de promover a saúde,” destaca Cláudia Salomão.
Outro ponto destacado pela especialista é o respeito à confidencialidade. “Caso a adolescente prefira realizar a consulta sem a presença de pais ou responsáveis, o sigilo sobre as informações compartilhadas será plenamente respeitado, salvo casos em que a quebra do sigilo se torne necessária pela segurança da paciente.”
Educação sexual
Conforme dados do Ministério da Saúde, a média de idade da primeira relação sexual no Brasil é de 14,9 anos. Isso significa que quanto mais cedo começa a vida sexual, maiores são as chances de gravidez precoce e também de contaminação por infecções sexualmente transmissíveis. “Há um mito de que falar sobre sexualidade com os adolescentes os expõe a mais riscos, mas é justamente o contrário. Jovens bem orientados têm mais consciência para tomar decisões seguras e responsáveis”, afirma a médica.
Veja métodos contraceptivos oferecidos gratuitamente pelo SUS:
• Preservativo feminino
• Preservativo masculino
• Pílula do dia seguinte
• Pílula combinada
• DIU
• Diafragma
• Anticoncepcional injetável mensal
• Anticoncepcional injetável trimestral
• Minipílula Anticoncepcional
Fatores que aumentam os riscos da gestação na adolescência, conforme o Ministério da Saúde:
- idade menor que 16 anos ou ocorrência da primeira menstruação há menos de 2 anos (fenômeno do duplo anabolismo: competição biológica entre mãe e feto pelos mesmos nutrientes);
- altura da adolescente inferior a 150 cm ou peso menor que 45kg;
- adolescente usuária de álcool ou de outras drogas lícitas ou ilícitas (cocaína/crack ou medicamentos sem prescrição médica);
- gestação decorrente de abuso/estupro ou outro ato violento/ameaça de violência sexual;
- existência de atitudes negativas quanto à gestação ou rejeição ao feto;
- tentativa de interromper a gestação por quaisquer meios;
- dificuldades de acesso e acompanhamento aos serviços de pré-natal;
- não realização do pré-natal ou menos do que seis visitas de rotina;
- presença de doenças crônicas: diabetes, doenças cardíacas ou renais; infecções sexualmente transmissíveis; sífilis, HIV, hepatite B ou C; hipertensão arterial;
- presença de doenças agudas e emergentes: dengue, zika, toxoplasmose, outras doenças virais;
- ocorrência de pré-eclâmpsia ou desproporção pélvica-fetal, gravidez de gêmeos, complicações obstétricas durante o parto, inclusive cesariana de urgência;
- falta de apoio familiar à adolescente.
Riscos para a mãe adolescente e para o filho recém-nascido:
- recém-nascido com anomalias graves, problemas congênitos ou traumatismos durante o parto (asfixia, paralisia cerebral, outros);
- abandono do recém-nascido em instituições ou abrigos;
- ausência de amamentação por quaisquer motivos;
- mãe adolescente com transtornos mentais ou psiquiátricos antes, durante ou após a gestação e o parto;
- abandono, omissão ou recusa do pai biológico ou parceiro pela responsabilidade da paternidade;
- recém-nascido é resultado de abuso sexual incestuoso ou por desconhecido, ou relacionamento extraconjugal;
- quando a família rejeita ou expulsa a adolescente e o RN do convívio familiar;
- quando a família apresenta doenças psiquiátricas, uso de drogas, álcool ou episódios de violência intrafamiliar;
- falta de suporte familiar, pobreza ou situações de risco (migração, situação de rua, refugiados);
- quando a mãe adolescente abandonou ou foi excluída da escola, interrompendo a sua educação e dificultando sua inserção no mercado de trabalho.
Fatores que aumentam os riscos para o recém-nascido (RN) até o primeiro ano de vida, quando nascido de mãe adolescente:
- RN prematuro, pequeno para idade gestacional ou com baixo peso (retardo intrauterino);
- RN com menos do que 48 cm ou com peso menor do que 2.500 g;
- nota inferior a 5 na Classificação de Apgar (escala que avalia as condições de vitalidade do RN), na sala de parto ou se o parto ocorreu em situações desfavoráveis;
- RN com anomalias ou síndromes congênitas (Síndrome de Down, defeitos do tubo neural ou outras);
- RN com circunferências craniana, torácica ou abdominal incompatíveis;
- RN com infecções de transmissão vertical ou placentária: sífilis, herpes, toxoplasmose, hepatites B ou C, zika, HIV/AIDS e outras;
- RN que necessita de cuidados intensivos em UTI neonatal;
- RN com dificuldades na sucção e na amamentação;
- RN que passe por problemas de higiene e cuidados no domicílio ou no contexto familiar, com negligência ou abandono;
- falta de acompanhamento médico pediátrico em visitas regulares e falhas no esquema de vacinação.