Um homem de 40 anos foi a um pronto-socorro nos Estados Unidos porque estava com acúmulo de gordura nas mãos. À equipe médica, ele explicou que mantinha havia oito meses uma dieta em que comia carne, de três a quatro quilos de queijo, tabletes inteiros de manteiga e gordura adicional incorporada a hambúrgueres diários. 

O resultado: um emagrecimento muito rápido e mãos e olhos amarelos, como se o colesterol estivesse “vazando” – condição denominada “xantelasma”. O caso expõe um problema comum entre as pessoas: dietas sem recomendação médica e que, no longo prazo, podem representar risco à saúde.

A prática é perigosa, alerta a nutricionista Izabella Amaral. “Pode acarretar aumento de problemas cardiovasculares, deficiência de nutrientes essenciais, sobrecarga renal e efeitos negativos no microbioma intestinal. Além disso, ela não é indicada para pessoas com doenças preexistentes, como diabetes tipo 1 e condições renais”, explica.

O engenheiro Felipe Dias, hoje com 34 anos, chegou a pesar 113 kg quando tinha 32 anos e, desesperado para emagrecer, tentou por um mês fazer a mesma dieta que o norte-americano. “Com um mês, eu não aguentei mais. Emagreci 7 kg, mas passava mal todos os dias. Quando fui ao médico e fiz exames, tudo estava péssimo. Meu colesterol estava nas alturas, pior do que quando comecei”, conta o morador de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Isso pode ter acontecido, explica a especialista, porque dietas ricas em gorduras saturadas, como a carnívora, podem aumentar os níveis de colesterol LDL (conhecido como “ruim”): “A elevação do LDL é fator preocupante”.

Infografia O TEMPO

 

Colesterol é muito mais que marcador de doenças cardíacas

O colesterol é essencial para o funcionamento do corpo e vai além de um simples marcador de doenças do coração: ele participa da produção de hormônios sexuais, como testosterona, estrogênio e progesterona, e de hormônios adrenais, como cortisol, que regula o metabolismo e a resposta ao estresse, explica Rafael Fantin, endocrinologista e metabologista. 

“Para que o colesterol cumpra bem suas funções, ele precisa estar em níveis equilibrados e em um ambiente saudável no corpo. Isso significa evitar problemas como resistência à insulina e excesso de radicais livres, que podem causar inflamação e inverter sua função, tornando-o um fator de risco para a saúde”, detalha o especialista. 

Além disso, ele explica que o paciente descrito, que seguiu por oito meses uma dieta carnívora rica em carnes processadas e gorduras saturadas em excesso – alimentos altamente inflamatórios –, evidencia um grau severo de inflamação e desregulação endócrino-metabólica. 

"O fato de o corpo estar acumulando colesterol na pele, como nos olhos (xantelasma) e, de forma extremamente rara, nas mãos, indica que ele não está conseguindo processar ou armazenar os lipídios corretamente. Esse quadro sinaliza um nível extremo de inflamação, disfunção metabólica severa e aterosclerose avançada. Se a pele já está assim, imagine o que está acontecendo dentro das artérias".