A adolescente de 15 anos, apreendida por envolvimento no caso do garoto de 14 anos que matou os pais e o irmão em Itaperuna, RJ, também planejava assassinar os próprios pais em Água Boa, MT. A polícia descobriu que os dois mantinham um relacionamento virtual e pretendiam "eliminar obstáculos" para ficarem juntos.
O delegado Matheus Soares Augusto, responsável pelo caso, informou ao UOL que a adolescente foi "principal incentivadora" do namorado para cometer os assassinatos. "O objetivo final deles era ficar juntos", declarou Augusto.
Segundo a investigação, o plano do casal era que o adolescente usasse os recursos financeiros dos pais assassinados para viajar até Mato Grosso, onde encontraria a namorada. Os dois discutiam métodos para descartar os corpos, incluindo a possibilidade de alimentar porcos com os cadáveres.
O adolescente foi apreendido logo após a descoberta do crime, enquanto a namorada foi localizada e apreendida mais de uma semana depois. Ambos responderão por atos infracionais análogos aos crimes de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.
O que se sabe sobre o caso
A investigação revelou que a adolescente de MT pressionava emocionalmente o namorado, ameaçando terminar o relacionamento caso ele não a visitasse e desafiando-o a provar que "era homem". Em algumas mensagens, questionava se ele teria coragem de assassinar os familiares.
Os dois se conheceram em um jogo online há seis anos e mantinham um relacionamento mais sério há aproximadamente um ano. Em depoimento, a jovem negou participação direta nos crimes ou ter incentivado o namorado, admitindo apenas que sabia dos assassinatos e conversou com ele durante a execução.
O crime ocorreu em 21 de junho, quando o adolescente matou o pai de 45 anos, a mãe de 37 e o irmão de 3 anos em Comendador Venâncio, distrito de Itaperuna (RJ). Ele aguardou que os pais adormecessem e utilizou uma arma de fogo registrada em nome do pai, que era CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador). O adolescente usou um revólver que o pai escondia embaixo da cama para cometer o crime.
Os investigadores descobriram que o próprio pai ensinava o filho a manipular armas e atirar. Após o crime, os corpos foram ocultados em uma cisterna na residência da família. Quando questionado por parentes sobre o paradeiro dos pais e do irmão, o adolescente alegou que eles haviam levado a criança a um hospital.
A partir de domingo (22 de junho), familiares notaram o sumiço dos pais e do irmão do adolescente e perguntaram a ele o que havia acontecido. O jovem disse que os pais tinham saído para levar o irmão ao hospital, após o menino de 3 anos ter engolido cacos de vidro, e que não voltaram mais. Os parentes pesquisaram em hospitais e, não encontrando qualquer registro da presença dos pais e do irmão do adolescente, denunciaram o desaparecimento à polícia.
Em 24 de junho, policiais foram à residência da família e, ao perceberem um odor forte, localizaram os corpos na cisterna. Na quarta-feira (25 de junho), durante a perícia na casa, foram encontradas manchas de sangue na cama do casal, roupas ensanguentadas e, em uma bolsa, os celulares dos pais do adolescente. O adolescente foi apreendido e está internado no Departamento Geral de Ações Sócio Educativas (Degase) do Rio de Janeiro.
Segundo a polícia, o adolescente reagiu com frieza. Ele confessou o crime, contou a motivação e afirmou que "faria tudo de novo", conforme os investigadores.
A investigação mostrou que ele planejava sacar R$ 33 mil do FGTS do pai para financiar sua viagem a Mato Grosso. O adolescente chegou a pesquisar na internet como fazer para sacar dinheiro do Fundo de Garantia de uma pessoa morta. Outro indício de que ele pretendia viajar para a cidade da namorada virtual é que o adolescente pesquisou na internet como falsificar uma autorização de viagem interestadual em empresas de ônibus.
A Polícia Civil não descarta que a motivação do adolescente não tenha sido apenas a proibição de ver a namorada, mas também o interesse no dinheiro acumulado pelo pai no FGTS. "Eles [iriam] matar todos aqueles que os impedissem de viver esse amor proibido", afirmou o delegado Augusto sobre a motivação dos adolescentes.
Vizinhos relataram que o adolescente sempre demonstrou comportamento educado e inteligente, sem sinais de tendências violentas. Os moradores expressaram surpresa com o ocorrido.