Preocupações sobre a infraestrutura de Belém para receber a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para ocorrer de 10 a 21 de novembro de 2025, tem chamado atenção. O evento reunirá representantes de mais de 190 países para discutir soluções para a crise climática global e marca a primeira vez que o Brasil sediará uma conferência deste porte.
A escolha de Belém foi anunciada durante a COP28, realizada em Dubai, em dezembro de 2023, após aprovação por consenso na plenária. Antes da conferência principal, uma Cúpula de Chefes de Estado está prevista para os dias 6 e 7 de novembro.
O que é a COP30?
A Conferência das Partes, ou COP, é o principal fórum de negociação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), tratado internacional estabelecido em 1992 e ratificado por mais de 190 países. O evento avalia o progresso das ações climáticas e toma decisões coletivas para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças no clima. A COP também atua como instância de negociação do Protocolo de Kyoto e do Acordo de Paris.
Além de líderes governamentais, a conferência reúne especialistas, representantes da sociedade civil e do setor privado.
Entre os temas prioritários da COP30 estão: redução de emissões de gases de efeito estufa; adaptação às mudanças climáticas; financiamento climático para países em desenvolvimento; tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono; preservação de florestas e biodiversidade; e justiça climática.
Desde 1995, as Conferências da ONU sobre o Clima passaram por diversos países. As mais recentes ocorreram em Dubai (2023), Sharm el-Sheikh (2022) e Baku (2024), onde se firmou um acordo pelo qual países desenvolvidos se comprometeram a destinar ao menos US$ 300 bilhões anuais até 2035 para apoiar ações climáticas em países em desenvolvimento. O secretário-geral da ONU, António Guterres, no entanto, lamentou a falta de maior ambição no resultado.
Entre os marcos históricos das COPs estão o Protocolo de Kyoto (1997) e o Acordo de Paris (2015), que estabeleceu o compromisso de limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.
Por que Belém foi escolhida como sede?
A escolha da capital paraense está diretamente relacionada à importância da Amazônia para o equilíbrio climático global. Ainda, representantes destacaram que a localização permitirá a participação de lideranças indígenas, comunidades ribeirinhas, quilombolas e pequenos produtores amazônicos, trazendo uma perspectiva local às negociações internacionais.
Durante a COP28, quando Belém foi anunciada como sede, a ministra Marina Silva ressaltou o simbolismo da decisão. “A Amazônia nos mostra o caminho, com sua imensa biodiversidade e seu vasto território ameaçado pelas mudanças climáticas”, relatou a representante.
A candidatura de Belém contou com apoio unânime dos países da América Latina e do Caribe, o que foi decisivo para a aprovação pelas Nações Unidas.
Insatisfações
Apesar da relevância do evento, especialistas criticam a capacidade de Belém para sediá-lo. Há atrasos em obras de infraestrutura prometidas, como a modernização do aeroporto e melhorias na mobilidade urbana.
Organizações ambientais locais questionam se as intervenções em andamento seguem critérios de sustentabilidade compatíveis com os objetivos da conferência. A expansão da rede hoteleira para receber os cerca de 50 mil visitantes esperados também levanta dúvidas sobre possíveis impactos ambientais.
Outra preocupação refere-se aos preços abusivos das diárias em hotéis. Em alguns casos, os valores ultrapassam os R$ 10 mil — até 15 vezes o valor usual. A situação levou a uma reunião de emergência, em 29 de julho, convocada pelo escritório climático da ONU.
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, expôs a insatisfação durante evento com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, afirmando que “diversos países [...] veem a questão do preço dos hotéis como uma preocupação”. Um grupo de 25 negociadores chegou a sugerir que, se os preços não forem ajustados, parte da conferência poderia ser transferida para outro local.
O secretário extraordinário da COP30, Valter Correia, afirmou que a antecipação da cúpula de líderes é uma decisão do Brasil para permitir uma melhor organização da abertura oficial do evento.
Corrêa do Lago ressaltou que países em desenvolvimento demonstraram “revolta” e afirmaram não poder participar da conferência devido aos preços elevados.
Soluções propostas
Belém dispõe de 18 mil leitos, mas a expectativa é de 45 mil visitantes. O governo brasileiro anunciou o uso de dois navios de cruzeiro com 6 mil camas e abriu reservas com diárias de até US$ 220 (R$ 1.200) para países em desenvolvimento.
Em nota, a Secretaria Extraordinária da COP30 (Secop) afirmou o “compromisso com a realização de uma conferência ampla, inclusiva e acessível” e que o plano de acomodação está sendo executado em fases, priorizando as delegações oficiais.