Amazonas

Biólogos e ribeirinhos salvam pirarucu 

Iniciativa pioneira preserva um dos maiores peixes de água doce do mundo, que chega a 2,1 m

Por Simon Romero
Publicado em 24 de novembro de 2014 | 04:00
 
 
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Tefé (AM). Os resultados de um esforço inovador, que reúne pesquisadores e comunidades ribeirinhas, para salvar da extinção o pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do mundo, já são vistos em partes da Amazônia.

“Os gigantes do rio estão abundantes este ano”, disse Valdenor da Silva, 44, pai de oito filhos, que coloca comida na mesa da sua família caçando o peixe. Exibindo um grande sorriso, o pescador de 1,70 m de altura e 73 kg acrescentou: “Todos os pirarucus que peguei nessa temporada são maiores do que eu.”

Em águas infestadas de piranhas, os pescadores saem em busca do peixe que pode chegar a 2,1 m e pesar mais de 180 kg, o que o coloca na lista dos mega-peixes de água doce.

Com a pesca predatória e a degradação do habitat ameaçando esses gigantes em diferentes partes do mundo, as populações ribeirinhas e biólogos trabalham juntos na Amazônia para salvar o peixe, proibindo a pesca a quem não é da região.

Seus esforços para salvá-lo já rendem uma história de sucesso pioneira de conservação na Amazônia, ao mesmo tempo em que oferecem uma estratégia para evitar uma crise de extinção em longo prazo, de acordo com especialistas em pesca que rastreiam as condições de grandes peixes em rios e lagos no mundo todo.

“Até pouco tempo, temíamos que o pirarucu selvagem pudesse desaparecer da Amazônia, mas descobrimos que a única maneira de salvá-lo era envolver as pessoas que vivem na floresta e dependem dos peixes para sua própria sobrevivência”, disse Ruiter Braga, técnico de pesca em Mamirauá, reserva de floresta tropical que ajudou a desenvolver um regime de gestão, durante o qual o número de pirarucus na área subiu mais de 400%.

Mais de 1.400 pescadores da área de Mamirauá participam do regime de gestão do pirarucu, diminuindo suas quotas e marcando cada peixe capturado. Em 2013, os pescadores levaram para casa uma média de R$ 1.600 cada com a pesca do pirarucu, uma soma bem-vinda nos vilarejos. Mesmo assim, a pesca ilegal floresce em partes da Amazônia, reduzindo o preço dos peixes nas feiras.

Pesca ilegal. Especialistas em pesca geralmente se sentem encorajados por projetos que recuperaram as populações de pirarucu em alguns bolsões de floresta tropical, mas o comércio ilegal, especialmente no Pará, acaba causado o desaparecimento dos peixes perto de grandes cidades.

“Esperamos que o pirarucu possa suportar tais desafios, pois o seu fim acabaria com o sustento de aldeias por toda a Amazônia. Sem a pesca sustentável, gente de fora acaba invadindo a mata. É aí que a grande ameaça de devastação florestal se torna realidade”, disse Claudio Batalha, 47, coordenador do projeto de pesca da região.

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