Protesto

Estátua de Borba Gato em São Paulo é incendiada neste sábado

Bombeiros chegaram ao local por volta das 14h, e, em poucos minutos, conseguiram controlar as chamas

Por Da Redação + Folhapress
Publicado em 24 de julho de 2021 | 14:37
 
 
 
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A estátua de Manuel de Borba Gato, obra assinada por Júlio Guerra e situada no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo, foi incendiada na tarde deste sábado (24). O Corpo de Bombeiros chegou ao local por volta das 14h e, em poucos minutos, conseguiu controlar as chamas. Um grupo chamado Revolução Periférica assumiu a autoria do incêndio. Em vídeo, membros aparecem subindo no monumento com pneus, aos quais atearam fogo depois. Nas rede sociais, em vídeo postado no dia 14 de julho, um dos membros do grupo afirma que Borba Gato contribuiu ativamente para o genocídio da população indígena.

Não é a primeira vez que o monumento sofre uma ação de protesto: no ano passado, a ameaça de uma possível derrubada da estátua, que possui cerca de 13 metros de altura com o pedestal, fez com que a subprefeitura de Santo Amaro solicitasse a instalação de gradis ao redor do bandeirante, além de o monumento ter sido vigiado 24 horas por dia pela Guarda Civil Metropolitana durante o período. Mas em 2016, já havia sido atacada com um banho de tinta. Na mesma ocasião, os responsáveis também pintaram o Monumento às Bandeiras, localizado em frente ao Parque do Ibirapuera.

Manuel de Borba Gato (1649 - 1718) foi um bandeirante paulista. A estátua em sua homenagem foi inaugurada no ano de 1963, na comemoração do IV Centenário de Santo Amaro. Sua construção demandou seis anos. O escultor Júlio Guerra usou trilhos de bonde para compor a estrutura de concreto, posteriormente revestida com pedras coloridas de basalto e mármore. A estátua possui dez metros de altura e pesa 20 toneladas.

Fica localizada à altura do número 5700 da Avenida Santo Amaro, em confluência com a Avenida Adolfo Pinheiro, e integra o Inventário de Obras de Arte em Logradouros Públicos da Cidade de São Paulo, mantido pelo Departamento do Patrimônio Histórico. Perto deste monumento fica a Estação Borba Gato da Linha 5-Lilás, inaugurada em 2017.

Nas redes sociais, muitas pessoas saudaram o ato. "Representa o Brasil escravista, o genocídio negro e indígena", postou uma internauta. "Mais uma estátua que homenageia aqueles que assassinaram os povos no Brasil tem seu fim", disse outro. "Além de homenagear um bandeirante criminoso, é uma das mais horríveis estátuas da cidade", postou um terceiro. "Bandeirantes paulista jagunço responsável por escravizar negros e indígenas e destruir quilombos", foi outra das reações.

Já há algum tempo a remoção do monumento vem sendo demandada por alguns grupos e pessoas, como o cientista político Leonardo Sakamoto.  Na época do citado banho de tinta, em 2016, o portal UOL reportou que, três anos antes, havia acontecido, no mesmo local ,um protesto da Comissão Guarani Yvyrupa, que, em carta aberta, registrou: "a tinta vermelha, que para alguns de vocês é depredação, já foi limpa e o monumento já voltou a pintar como heróis os genocidas do nosso povo".

Atualmente, várias ações mundo afora questionam a existência de monumentos em homenagem a nomes das páginas da história que hoje têm sua atuação questionada e refutada. No Brasil, para citar um exemplo, existe o projeto Demonumenta, que propõe um debate "sobre a colonialidade embarcada nas instituições e acervos públicos, a ser realizado na Internet", por meio de uma plataforma a ser desenvolvida por alunos e docentes da FauUSP, em colaboração com outras instituições e centros de pesquisa.

Na capital paulista, um projeto de lei da vereadora Luana Alves (PSOL) prevê a substituição de "monumentos, estátuas, placas e quaisquer homenagens que façam menções a escravocratas e higienistas". A expectativa é que os monumentos sejam trocados por personalidades históricas negras e indígenas.

Movimento mundo afora

Em fevereiro deste ano, o Canadá viveu uma onda de protestos que resultou no incêndio de igrejas e danos a monumentos. Os atos de depredação seguiram os recentes descobrimentos de mais de 1.000 túmulos sem nome em antigos internatos indígenas que provocaram a ira e dor em comunidades indígenas e não nativas, assim como o reconhecimento da história colonial sombria daquele país. À época, o primeiro-ministro Justin Trudeau afirmou: "Entendo a raiva que existe (sobre as descobertas) contra o governo federal, contra instituições como a Igreja Católica", continuou. Disse que os atos eram "totalmente compreensíveis dada a vergonhosa história" das escolas residências indígenas do Canadá, mas considerou que os canadenses deveriam comprometer-se com a reconciliação e não cair na tentação do vandalismo.

Em 7 de junho de 2020, a estátua do comerciante de escravos britânico Edward Colston, altamente polêmica durante anos, foi desmontada e jogada nas águas do Avon, um rio que corta a cidade de Bristol, durante as manifestações Black Lives Matter (BLM), devido à morte de George Floyd no final de maio, o americano negro morto por um policial em Minneapolis (EUA).

Já a Universidade de Oxford tenta lidar com a campanha "Rhodes deve cair" para remover a estátua do colonizador Cecil Rhodes que adorna a fachada do Oriel College, e que recuperou força há um ano como parte do movimento "Black Lives Matter". Cecil Rhodes, que acreditava na superioridade da raça branca, como muitos defensores da colonização, deu seu nome à Rodésia (atuais Zimbábue e Zâmbia) e fundou a companhia mineradora e comercial de diamantes De Beers. Rhodes, um ex-aluno de Oxford, legou parte de sua fortuna ao Oriel College.

Por que Borba Gato é atacado
No Brasil colonial, os bandeirantes eram contratados para descobrir minas. No entanto, eram violentos com negros e índios e estupravam mulheres. Na verdade, dizimaram tribos inteiras, além de espalharem doenças.

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