Duas das variantes do coronavírus que mais preocupam a comunidade científica ao redor um grupo do mundo foram oficialmente detectadas em Minas Gerais. Nesta terça-feira (23), o Ministério da Saúde confirmou seis ocorrências de contaminação pela variante de Manaus em Minas, enquanto um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) detectou a variante do Reino Unido em amostras de pacientes da capital Belo Horizonte, Araxá, Barbacena e Betim. Por ora, o governo estadual não atribuiu oficialmente a escalada de casos de Covid-19 que Minas vive desde janeiro deste ano à presença dessas variantes, que parecem ser mais transmissíveis, mas pesquisadores alertam para o perigo que elas representam. 

Na última semana, a variante amazonense havia sido identificada em seis pacientes vindos do Amazonas e internados em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Já as seis confirmações desta terça-feira são de pacientes residentes em Minas, de acordo com o Ministério da Saúde. Com isso, o Estado junta-se a outros 16 que têm casos confirmados de contaminação pela cepa. A reportagem questionou a Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG) sobre as cidades onde vivem esses pacientes e aguarda retorno.  

O Ministério da Saúde informa que, até o último 20 de fevereiro, 20 casos de infecção pela cepa do coronavírus do Reino Unido e 184 da de Manaus foram notificados no Brasil. A primeira variante foi encontrada em quatro Estados e, a segunda, em 17.
(Veja listas abaixo)

Variante do Reino Unido

  • São Paulo (11)
  • Bahia (6)
  • Goiás (2)
  • Rio de Janeiro (1)

Variante de Manaus

  • Amazonas (60)
  • São Paulo (28)
  • Goiás (15)
  • Paraíba (12)
  • Pará (11)
  • Bahia (11)
  • Rio Grande do Sul (9)
  • Roraima (7)
  • Minas Gerais (6)
  • Paraná (5)
  • Sergipe (5)
  • Rio de Janeiro (4)
  • Santa Catarina (4)
  • Ceará (3)
  • Alagoas (2)
  • Pernambuco (1)
  • Piauí (1)

O Ministério da Saúde relatou que n ão houve registros da variante do coronavírus descoberta na África do Sul, mas que “devido à constante investigação epidemiológica e novas notificações”, os dados estão “sujeitos a alterações” a qualquer momento. 

Uma nota técnica com informações sobre as novas variantes identificadas no mundo foi encaminhada nesta terça aos Estados e Distrito Federal, de acordo com a pasta.

O documento “orienta medidas que devem ser adotadas e intensificadas pelas secretarias de saúde estaduais, a fim de monitorar e evitar a propagação das novas variantes no país”, diz a nota. 

Pesquisadores da UFMG confirmam variante britânica em Minas

O balanço do ministério aponta que a variante britânica do coronavírus, descoberta em setembro na Europa e que parece ter causado a onda de novos casos no Reino Unido, foi detectada somente na Bahia, em Goiás, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Pesquisadores da UFMG, porém, comprovaram a presença dela em 13 amostras de exames coletadas em Minas entre os dias 7 e 21 de janeiro — dez na capital, uma em Araxá, uma Barbacena e uma em Betim. O grupo também detectou a variante no Espírito Santo, no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia, no Paraná, no Mato Grosso e em Sergipe. 

Mesmo com a ocorrência comprovada da variante em BH e em Minas, ainda é cedo para afirmar que ela esteja circulando em grande volume nesses territórios, de acordo com um dos pesquisadores, Renan Pedra, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. “Tivemos 25 amostras positivas nos Estados. Podem ter sido de pessoas que vieram do exterior ou não. O segundo passo da pesquisa, cujo resultado teremos em duas semanas, é entender se há circulação local da variante. O último passo é discutir a frequência dela entre quem é contaminado pelo coronavírus”, explica. 

No Reino Unido, essa variante tornou-se a dominante em menos de cinco meses. No Brasil, o cenário pode ser ainda mais preocupante, na perspectiva de Pedra, porque o país lida simultaneamente com três variantes preocupantes — além da britânica e da amazonense, outra foi descoberta no Rio de Janeiro e ainda não foi detectada em Minas. 

“A variante do Reino Unido não está sozinha. Ela chega com outras duas e agora vamos ver qual vai ganhar onde, se continuarmos circulando pelo país, com todo mundo indo para todos canto”, conclui o pesquisador. O levantamento faz parte de uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC) e também conta com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR). As amostras analisadas foram disponibilizadas pelos laboratórios Hermes Pardini. 

A reportagem questionou a SES-MG e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) se elas relacionam a ocorrência das novas variantes no Estado à alta de casos de Covid-19 confirmados e aguarda retorno. O governo municipal disse ainda não ter sido notificado sobre nenhum caso. A Prefeitura de Betim declarou, por meio de nota, que não há evidências científicas nesse sentido e que os atuais dados epidemiológicos da cidade não sinalizam necessidade de alterar a flexibilização de atividades no município. 

Novas variantes exigem cuidados redobrados

Alguns países da Europa, como a Alemanha, passaram a exigir, neste ano, que os cidadãos utilizem máscaras profissionais, do tipo N95 (PFF2, pelo padrão brasileiro) em locais públicos. No Brasil e em Minas, não há essa orientação, mas pesquisadores recomendam redobrar cuidados que já são estimulados desde o início da pandemia. 

“A forma como o vírus é transmitido e como se prevenir não mudam, o que precisamos é redobrar cuidados e a atenção nas medidas que funcionam. Houve uma confusão sobre o entendimento do uso de máscaras PFF-2 na Europa, porque algumas pessoas tiveram uma noção equivocada de que as novas variantes passam pelas máscaras de pano e as antigas, não”, explica o pesquisador Vitor Mori, membro do Observatório Covid-19 BR. 

Quando utilizadas por todas as pessoas no ambiente de forma correta, as máscaras de pano diminuem a transmissão do vírus, já que elas servem não para impedir que o patógeno chegue ao nariz e à boca de alguém, e sim para que ele não seja tão dispersado por quem está doente. As máscaras profissionais, por outro lado, diminuem as chances de quem está utilizando o acessório ter contato com o vírus. Por isso, Mori indica que elas sejam utilizadas, com parcimônia, por quem é do grupo de risco da Covid-19 ou que se exponha a situações arriscadas, como locais fechados onde há pessoas sem máscara. 

No começo da pandemia, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde era reservar esse tipo de máscara aos profissionais da saúde. A esta altura, Mori cobra que o poder público tenha outra postura. “A disponibilização dessas máscaras deveria ser política de Estado, com investimento para aumentar a produção delas. Também acho que faltou uma comunicação melhor sobre os riscos da transmissão do vírus pelo ar, que está comprovada. Qualquer medida que melhore a ventilação e evite que a pessoa compartilhe o ar com outras é válida”, diz. 

Confira as respostas dos governos municipais na íntegra

Prefeitura de Belo Horizonte:

"A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informa que, até o momento, não foi notificada de nenhum caso de variante da Covid-19. A população deve continuar mantendo as medidas de prevenção à doença, como uso da máscara, a higienização das mãos e o distanciamento social, que são precauções fundamentais a serem adotadas.

A PBH reconhece a importância destes estudos que possibilitam o acúmulo de conhecimentos que podem nortear as políticas públicas.

Sobre a volta às aulas presenciais, a Secretaria Municipal de Saúde informa que, em conjunto com o Comitê de Enfrentamento à Covid-19, está fazendo modificações na recomendação para adequá-la à realidade da população do município. A data para retorno das aulas presenciais será informada em momento oportuno".

Prefeitura de Betim:

"Não há evidências científicas que comprovem a existência de alguma relação entre a alta de casos de Covid-19 no município e a circulação da variante britânica do coronavírus. 

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, os dados epidemiológicos não sinalizam a necessidade de alterar a flexibilização das atividades comerciais no município. As medidas de contenção devem ser mantidas. Contudo, a análise dos dados epidemiológicos é contínua e pode, posteriormente, ser necessário haver mudanças no plano de ações de contenção da Covid-19 em Betim.

 É importante ressaltar que,  mesmo com a vacinação em andamento, é de suma importância manter todas as medidas  de proteção, como o uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento social.

A vigilância  das  variantes é importante, pois sabemos que quanto mais o vírus é  disseminado, mais ocorrem mutações.  A variante encontrada na amostra nos indica que a circulação do vírus não tem fronteiras. Por isso, a participação da população  no auxílio da redução da transmissão é  muito importante".

Esta matéria foi atualizada às 20h39.