Geologia

Um ano depois, terremoto do Chile ainda desafia a ciência

Desastre ocorrido em 27 de fevereiro é um dos mais bem estudados da história

Por HENRY FOUNTAIN
Publicado em 25 de fevereiro de 2011 | 20:02
 
 
 
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SANTIAGO, CHILE. Quando um terremoto de magnitude 8.8 atingiu a costa do Chile, na manhã de 27 de fevereiro de 2010, geofísicos e sismólogos não ficaram surpresos. O epicentro do tremor foi uma falha geológica com extensão de aproximadamente 320 km, onde tensões estiveram se formando por quase dois séculos. Especialistas esperavam que, um dia, a tensão resultasse em um evento cataclísmico.

Mas, enquanto os cientistas analisam volumosos dados do que pode se transformar no terremoto mais bem estudado da história, eles concluíram que o movimento do solo durante o fenômeno não aliviou as tensões como antecipado. O maior movimento sísmico aconteceu fora do segmento de 320 km, conhecido como abertura de Darwin, pois Charles Darwin acabou testemunhando o último terremoto nesse local em 1835. "O padrão de falha era diferente do que esperávamos", disse Stefano Lorito, geofísico do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia de Roma. "Embora houvesse uma área de deslize ao sul do epicentro que estava dentro da abertura de Darwin, a área de maior movimentação foi ao norte da abertura, em uma área onde ocorreu um terremoto de magnitude 8.0 em 1928", completou.

Segundo Lorito, as descobertas mostram que "há uma fração da abertura que provavelmente não se rompeu". Além disso, ele afirmou que o terremoto de 2010 pode ter contribuído para o acúmulo de tensão na área não rompida, aumentando as chances de um novo grande fenômeno, embora ele possivelmente não seja tão forte quanto o do ano passado.
Um artigo publicado por Lorito na revista "Nature Geoscience" descreve os padrões de deslize com base em análises de observações de tsunamis e dados de deformação de terra obtidos por meio de um sistema de posicionamento global (GPS) e sensores baseados em satélite.

Opiniões. No entanto, o estudo de Lorito está longe de ser a última palavra sobre o terremoto do Chile. Em uma reunião recente do Sindicato Norte-Americano de Geofísica, foi apresentada mais de uma dezena de padrões de deslize.

Onno Oncken, geofísico do Centro Alemão de Pesquisas em Geociências, de Potsdam é autor de um estudo que mostrou um padrão diferente. A pesquisa analisou apenas dados sísmicos - registros de ondas de choque, que não mostram como a terra foi deformada - do evento. Ele afirmou que não era inesperado que os padrões mudassem quando o GPS e outros dados eram analisados.

"Estamos aprendendo cada vez mais na prática, diariamente. Espero que esse seja o terremoto mais bem observado que já tivemos", disse Oncken.

Porém, quanto à sugestão de Lorito de que o evento de 2010 pode ter aumentado as chances de outro terremoto, Oncken demonstrou cautela, afirmando que há relativamente poucos pontos de coleta de dados na área onde se prevê o acontecimento de um novo terremoto. "Pessoalmente, não ousaria fazer uma declaração tão forte", ponderou.

As discrepâncias nos padrões de falhas entre os vários grupos de pesquisa demonstraram que ainda não há dados suficientes. O geofísico Jian Lin disse que não há instrumentos onde grande parte do terremoto ocorreu, sob as águas. "Agora que sabemos que esta parte ainda pode se romper, é hora de colocar instrumentos no oceano, o mais rápido possível. Se não fizermos isso teremos exatamente o mesmo problema da próxima vez".

 

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