Com o avanço das campanhas de vacinação contra Covid-19 no Brasil, muitas dúvidas surgem em relação à administração dos imunizantes. O TEMPO reuniu as principais respostas às questões que emergem nesse período nesta reportagem.
Quantas doses são indicadas para a imunização?
Todas as vacinas já utilizadas no Brasil (Coronavac, Astrazeneca e Pfizer) necessitam da aplicação de duas doses para imunização.
Qual a diferença entre vacinação e imunização? Já estou protegido quando tomo a primeira dose da vacina?
Vacinar é receber o imunizante (uma, duas ou mais doses). Imunização é quando a pessoa desenvolveu a imunidade para qual a vacina foi indicada, após se completar o esquema vacinal, explica o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SIM), Estevão Urbano. Segundo ele, praticamente 100% das pessoas vacinadas - contra a Covid ou outras enfermidades - desenvolvem a defesa imune.
Com relação à Covid-19, a imunidade ocorre aproximadamente 15 dias após o esquema vacinal ser completado - aplicação da segunda dose da vacina, no caso da Coronavac, Astrazeneca e Pfizer. Antes mesmo, cerca de 14 dias após a primeira dose, no entanto, acredita-se que haja uma redução de risco de infecção e da doença grave.
Por quanto tempo dura a imunização? De quanto em quanto tempo teremos que nos vacinar? Será anualmente como na vacina para gripe?
Ainda não há dados/estudos consolidados sobre o tempo de proteção que as vacinas já em uso conferem ao corpo humano.
Se eu já peguei Covid-19, ainda preciso me vacinar?
Sim, mas deve esperar ao menos 15 dias após a doença para fazê-lo. Casos de reinfecção pelo mundo foram registrados, e especialistas advertem que a doença dá um período de proteção muito curto, geralmente de dois a três meses.
Após ser vacinado e imunizado, posso pegar a Covid-19?
Há dois tipos de imunização, a esterilizante, como é o caso da vacina contra o sarampo (após imunizado, não se pega mais o vírus), e a que não é esterilizante, que te protege das formas graves do vírus, como é o caso da contra o influenza-A. Ainda não se sabe como será a atuação da vacina da Covid-19 nesse sentido, se será esterilizante ou não.
Depois que eu me vacinar, ainda preciso usar máscaras e praticar o distanciamento social? Por quê?
Sim. Isso porque ainda não se sabe por quanto tempo cada imunizante contra o coronavírus vai proteger cada pessoa contra a infecção. Além disso, mesmo estando vacinado, cada cidadão pode se tornar um agente transmissor do vírus, o fazendo pelo contato direto.
O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SIM), Estevão Urbano, detalha: "A Coronavac e outras vacinas contra a Covid-19 imunizam quase 100% das pessoas. Mas a defesa do contágio é de 50%, embora a proteção de 100% de desenvolver sintomas graves da doença", explicou.
Ou seja, mesmo vacinada e imunizada, não significa que a pessoa que recebeu as doses está livre do contágio.
"O anticorpo impede de desenvolver a doença severa, mas não consegue evitar a contaminação. O que de fato importa é evitar adoecer. Mas é preciso seguir as etiquetas sanitárias para que o vacinado não seja fonte de transmissão do vírus", explica Urbano.
Quando poderemos deixar de usar máscaras?
Na avaliação do presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SIM), Estevão Urbano, as medidas de proteção para impedir a Covid-19 poderão começar a ser abolidas depois que houver o "efeito rebanho", com mais de 80% da população imunizada.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que é necessário vacinar de 60% a 70% da população para frear a propagação do vírus.
Quais as diferenças das vacinas em uso no Brasil? Qual a eficácia de cada uma?
A Coronavac é feita com o vírus inteiro, só que inativado ("morto"). A vacina tem todas as proteínas do vírus, não só a proteína S, que ele usa para infectar as nossas células.
Com isso, o corpo que recebe a vacina com o vírus —já inativado— começa a gerar os anticorpos necessários no combate da doença. A eficácia para casos sintomáticos é de 50,7%, sendo que pode se chegar a 62,3% se houver um intervalo de mais de 21 dias entre as duas doses da vacina.
A segunda dose precisa ser aplicada de 14 a 28 dias após a primeira. A AstraZeneca é produzida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e usa um outro vírus (adenovírus) para carregar parte do material genético do coronavírus dentro do corpo.
Este adenovírus carrega em si as instruções para a produção de uma proteína característica do coronavírus, conhecida como espícula.
Ao entrar nas células, o adenovírus faz com que elas passem a produzir essa proteína e a exiba em sua superfície, o que é detectado pelo sistema imune, que cria formas de combater o coronavírus e cria uma resposta protetora contra uma infecção.
Ela tem eficácia de 76% contra casos sintomáticos. O intervalo entre as doses é de até 90 dias. Já a vacina da Pfizer usa o material genético do coronavírus (RNA), que é o que vai dar as instruções para que a célula faça a proteína S do vírus.
Diferente das outras, esse material genético não é levado por outro vírus, e sim por outros tipos de transportadores, que podem ser "sacolas de gorduras", os lipossomas. Os imunizantes criados a partir da replicação de sequências de RNA torna o processo mais barato e mais rápido.
A Pfizer pode, inclusive, ser aplicada em pessoas a partir de 16 anos de idade. Sua eficácia global é de 95% em toda população, incluindo análise em diferentes grupos étnicos e pacientes com condições clínicas de risco.
As empresas Pfizer e BioNTech relataram que a vacina contra Covid-19 funciona contra a variante sul-africana. O prazo de aplicação para a segunda dose recomendado pelo fabricante é de 21 dias
Posso ter algum efeito colateral após ser vacinado?
Sim. Nos testes de todos os imunizantes, pouquíssimas pessoas tiveram reações, o que não compromete a segurança da vacina.
Caso haja atraso na aplicação, a segunda dose deve ser tomada o mais rápido possível. Segundo a prefeitura de BH, a aplicação da segunda dose 15 a 21 dias após o prazo ideal não compromete a eficácia do imunizante. Quem tomou a Coronavac deve aguardar a segunda dose do mesmo fabricante e não tentar receber a vacina da AstraZeneca/Oxford, por exemplo
Posso me vacinar se já passou a data da minha faixa etária?
Sim! A campanha de vacinação funciona de forma “retroativa”. Sempre que for permitida a uma nova faixa-etária ou um grupo a imunização, pessoas que preenchem os requisitos podem tomar as doses da data de permissão em diante, caso haja estoque suficiente nas unidades de saúde.
Posso me vacinar em uma cidade diferente da que eu moro?
Depende! Em geral, prefeituras requisitam comprovante de residência para que seja permitida a vacinação. Contudo, profissionais de saúde ou, no futuro, de educação e outras áreas contempladas no Plano Nacional de Imunização (PNI) que moram em uma cidade, mas trabalham em outra, podem ser contemplados pela imunização devido à atividade profissional e, portanto, acabarem sendo inoculados em um município diferente do que vivem.
Quanto tempo depois de me vacinar posso ingerir bebidas alcoólicas?
Não há, nem nas bulas das vacinas aprovadas pela Anvisa, nem nos protocolos do Ministério da Saúde, informações que liguem efeitos adversos da ingestão de álcool em intervalo próximo à vacinação. Nos estudos clínicos conduzidos, os voluntários também não precisaram se ater ao consumo ou não de bebidas alcoólicas.
O que são as comorbidades?
São consideradas comorbidades de risco para Covid-19:
- Diabetes mellitus
Qualquer indivíduo com diabetes
- Pneumopatias crônicas graves
Indivíduos com pneumopatias graves incluindo doença pulmonar obstrutiva crônica, fibrose cística, fibroses pulmonares, pneumoconioses, displasia broncopulmonar e asma grave (uso recorrente de corticoides sistêmicos, internação prévia por crise asmática); e outras doenças que causam comprometimento pulmonar crônico.
- Hipertensão Arterial Resistente (HAR)
HAR= Quando a pressão arterial (PA) permanece acima das metas recomendadas com o uso de três ou mais anti-hipertensivos de diferentes classes, em doses máximas preconizadas e toleradas, administradas com frequência, dosagem apropriada e comprovada adesão ou PA controlada em uso de quatro ou mais fármacos anti-hipertensivos
Hipertensão arterial PA sistólica ≥180mmHg e/ou diastólica ≥110mmHg independente da estágio 3 presença de lesão em órgão-alvo (LOA) ou comorbidade
- Hipertensão arterial estágios 1 e 2 com lesão em órgão-alvo e/ou comorbidade
PA sistólica entre 140 e 179mmHg e/ou diastólica entre 90 e 109mmHg na presença de lesão em órgão-alvo e/ou comorbidade
- Doenças cardiovasculares
Insuficiência cardíaca (IC) IC com fração de ejeção reduzida, intermediária ou preservada; em estágios B, C ou D, independente de classe funcional da New York Heart Association
Cor-pulmonale e Cor-pulmonale crônico, hipertensão pulmonar primária ou secundária Hipertensão pulmonar
- Cardiopatia hipertensiva
Cardiopatia hipertensiva (hipertrofia ventricular esquerda ou dilatação, sobrecarga atrial e ventricular, disfunção diastólica e/ou sistólica, lesões em outros órgãos-alvo)
- Síndromes coronarianas
Síndromes coronarianas crônicas (Angina Pectoris estável, cardiopatia isquêmica, pós Infarto Agudo do Miocárdio, outras)
- Valvopatias
Lesões valvares com repercussão hemodinâmica ou sintomática ou com comprometimento miocárdico (estenose ou insuficiência aórtica; estenose ou insuficiência mitral; estenose ou insuficiência pulmonar; estenose ou insuficiência tricúspide, e outras)
Miocardiopatias e Miocardiopatias de quaisquer etiologias ou fenótipos; pericardite crônica; Pericardiopatias cardiopatia reumática
Doenças da Aorta, dos Aneurismas, dissecções, hematomas da aorta e demais grandes vasos Grandes Vasos e Fístulas arteriovenosas
- Arritmias cardíacas
Arritmias cardíacas com importância clínica e/ou cardiopatia associada (fibrilação e flutter atriais; e outras)
- Cardiopatias congênita
Cardiopatias congênitas com repercussão hemodinâmica, crises adulto hipoxêmicas; insuficiência cardíaca; arritmias; comprometimento miocárdico.
- Próteses valvares e Dispositivos cardíacos implantados
Portadores de próteses valvares biológicas ou mecânicas; e dispositivos cardíacos implantados (marca-passos, cardio desfibriladores, ressincronizadores, assistência circulatória de média e longa permanência)
- Doença cerebrovascular
Acidente vascular cerebral isquêmico ou hemorrágico; ataque isquêmico transitório; demência vascular
- Doença renal crônica
Doença renal crônica estágio 3 ou mais (taxa de filtração glomerular < 60 ml/min/1,73 m2) e/ou síndrome nefrótica.
- Imunossuprimidos
Indivíduos transplantados de órgão sólido ou de medula óssea; pessoas vivendo com HIV; doenças reumáticas imunomediadas sistêmicas em atividade e em uso de dose de prednisona ou equivalente > 10 mg/dia ou recebendo pulsoterapia com corticoide e/ou ciclofosfamida; demais indivíduos em uso de imunossupressores ou com imunodeficiências primárias; pacientes oncológicos que realizaram tratamento quimioterápico ou radioterápico nos últimos 6 meses; neoplasias hematológicas; e outras doenças que causam imunossupressão (como síndrome de Cushing, lúpus eritematoso sistêmico, doença de Chron, imunodeficiência primária com predominância de defeitos de anticorpos).
- Hemoglobinopatias
Doença falciforme e talassemia maior; e outras doenças raras. graves
- Obesidade mórbida Índice de massa corpórea (IMC) ≥ 40
- Síndrome de Down Trissomia do cromossomo 21
- Cirrose hepática Cirrose hepática Child-Pugh A, B ou C
- Outras doenças raras que causam deficiências intelectuais e/ou motoras e cognitivas
- Doenças raras que causam deficiências intelectuais e/ou motoras e cognitivas como a síndrome Cornélia de Lange, a doença de Huntington.
Posso tomar uma dose de uma vacina e a segunda de outra?
Não. Os estudos de segurança e eficácia das vacinas contra Covid-19 foram feitos exclusivamente com aplicações de doses do mesmo tipo de vacina. Não há nenhuma pesquisa, por ora, que tenha testado eficácia ou segurança em larga escala quando dois imunizantes diferentes são administrados.
GESTANTES
O que dizem os estudos sobre a segurança das vacinas para gestantes e bebês?
As vacinas da Pfizer e da Moderna (que usam a mesma tecnologia, com mRNA) se mostraram seguras em gestantes a partir de um estudo com mais de 35 mil candidatas conduzido nos Estados Unidos -o país aprovou o uso dessas duas vacinas e a da Janssen. Também foi demonstrada a capacidade das vacinas de induzir resposta imune, e sabe-se que gestantes que receberam pelo menos uma das duas vacinas da Pfizer ou da Moderna passaram anticorpos ao bebê pelo cordão umbilical.
Outras fabricantes de imunizantes devem avaliar a eficácia dos seus imunizantes nesse grupo, bem como os efeitos nos bebês e nos fetos.
As evidências científicas estão sendo continuamente revisadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelas agências regulatórias dos EUA, do Reino Unido, do Canadá e da Europa.
Quais países têm aplicado vacinas contra a Covid-19 em gestantes?
Nos EUA, mais de 90 mil mulheres grávidas receberam as vacinas da Pfizer e da Moderna, e não houve relatos de problemas.
O comitê de vacinação do Reino Unido recomendou que gestantes recebam a vacina de forma simultânea a outros grupos de risco. As diretrizes, publicadas em abril, dizem que as mulheres podem receber qualquer vacina disponível, mas que as vacinas da Pfizer e da Moderna devem ser preferidas porque há mais dados sobre sua segurança, graças aos EUA.
Israel e Bélgica também recomendam a vacina para gestantes.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda a vacina contra a Covid-19 em grávidas e lactantes?
Em março, a OMS recomendou que gestantes sejam vacinadas, mas que consultem seus médicos antes. A entidade limita a indicação a mulheres grávidas com alto risco de contrair o coronavírus, como profissionais da saúde e pessoas com comorbidades.
O que diz o Ministério da Saúde?
No final de abril, o Ministério da Saúde anunciou que iria incluir todas as mulheres grávidas e puérperas (até 45 dias após o parto) no Programa Nacional de Imunização contra a Covid-19. A ideia é que as gestantes entrassem em duas fases no programa: na fase 1, que será iniciada até o final de maio, as gestantes e puérperas com comorbidades poderão se vacinar junto com as pessoas com comorbidades e com deficiência. Na fase 2, todas as gestantes e puérperas deveriam ser incluídas, independentemente de serem portadoras ou não de outras condições preexistentes.
Na segunda (10), porém, o Ministério da Saúde afirmou que investiga o caso de uma gestante que morreu no Rio de Janeiro após ter sido imunizada com a vacina AstraZeneca.
A pasta mantém a recomendação de vacinar gestantes, mas reavalia a imunização no grupo sem comorbidades.
A Anvisa emitiu nota técnica em que recomenda a suspensão imediata do uso da vacina Covid da AstraZeneca/Fiocruz em mulheres gestantes. A orientação da agência é para que a indicação da bula da AstraZeneca seja seguida -nela não consta o uso em gestantes.
Quais são os riscos da Covid-19 para gestantes?
Caso sejam infectadas pelo coronavírus, gestantes têm maior risco de ter a Covid-19 grave ou de morrer. Durante a pandemia, mais mulheres grávidas tiveram complicações e perdas gestacionais, segundo uma análise de 40 estudos em 17 países publicada na revista científica Lancet Global Health.
Os fatores que elevam o risco de Covid-19 grave são:
Doenças imunes
Diabetes
Pressão alta
Doenças cardíacas
Asma
Ter sobrepeso
Ter mais de 35 anos
Estar no terceiro trimestre de gestação (a partir de 28 semanas)
Ser negra ou asiática
(com Letícia Fontes, Renata Evangelista, Paula Coura e Lucas Negrisoli)