Enquanto chefes de Estado reagiram imediatamente aos primeiros ataques de tropas russas a território ucraniano, condenando veementemente a ofensiva e prometendo retaliações, o presidente Jair Bolsonaro não fez qualquer menção à guerra no leste europeu.

O mandatário brasileiro usou as suas redes na noite de quarta-feira (23), quando a Rússia lançava foguetes contra a Ucrânia, e na manhã desta quinta (24), para lamentar a morte da cantora de forró Paulinha Abelha, da banda Calcinha Preta, e enaltecer a presença do seu ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, em inauguração de obras na Bahia e em São Paulo.

“Não vi o jogo do Palmeiras, eu dormi, alguém sabe quanto foi?”

Ainda na manhã desta quinta, o presidente, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, preferiu falar sobre futebol.

“Não vi o jogo do Palmeiras, eu dormi, alguém sabe quanto foi?”, perguntou aos militantes bolsonaristas reunidos no Alvorada. 

No Twitter, usuários pedem para Bolsonaro se calar sobre Rússia

Por outro lado, cresce um movimento nas redes sociais pedindo para que Bolsonaro não se manifeste sobre o conflito. Temendo consequências diplomáticas negativas, usuários apelam para que o mandatário não escolha um lado do conflito. Na manhã desta quinta-feira, a quantidade de publicações desse teor passava de 60 mil. 

Na semana passada, o chefe do Executivo foi criticado por manter sua viagem oficial à Rússia mesmo enquanto a tensão bélica envolvendo aquele país fervilhava. 

Durante a visita, o presidente brasileiro manifestou solidariedade à Rússia e a "todos os países que se empenham pela paz", gesto que foi mal visto pelos Estados Unidos. A Casa Branca reagiu: disse que o ato "mina a diplomacia internacional" e "não poderia ter ocorrido em pior momento".

Agora, usuários das redes sociais temem que o chefe do Executivo dê outros passos falhos na diplomacia. 

"Só espero que o Bolsonaro não veja, não comente, simplesmente não reaja de forma alguma, apenas fique calado, em completo silêncio", escreveu um usuário em uma publicação com mais de 3 mil curtidas no Twitter. 

"Que o Bolsonaro não invente de se meter nessa guerra entre Rússia e Ucrânia", diz uma publicação com cerca de 7 mil curtidas. "Indo dormir com esperança de acordar e não ver nenhuma notícia falando que o presidente se meteu no meio de uma guerra mundial", publicou outro usuário.

Diplomatas querem que Bolsonaro condene ataques da Rússia

O Ministério das Relações Exteriores estuda uma mudança de postura. Diplomatas e militares querem que o país reveja a posição de neutralidade em relação ao conflito na Ucrânia e condene os ataques da Rússia.

A informação foi confirmada ao O TEMPO por fontes do Itamaraty e do Palácio do Planalto. A pressão para uma nova declaração cresceu na manhã desta quinta-feira (24), após serem confirmados os lançamentos de mísseis russos contra o território ucraniano. Ao menos 50 ucranianos teriam morrido nessa ofensiva.

Uma das saídas apontadas pelos diplomatas brasileiros seria ser signatário, com outros países, de resoluções de órgãos multilaterais. Seria uma maneira de o Brasil evitar tomar uma posição sozinho, condenando a ação.

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