Investigação

Michelle Bolsonaro não responde perguntas sobre caso das joias da Arábia Saudita

Um lote das peças estava na mochila de um militar que era auxiliar do então ministro de Minas e Energia, Bento Alburquerque, que tentou liberá-las alegando se tratar de um presente para a então primeira-dama

Por Manuel Marçal
Publicado em 30 de março de 2023 | 09:55
 
 
 
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A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ignorou perguntas sobre o caso das joias da Arábia Saudita dadas ao seu marido, Jair Bolsonaro, e que deveriam ser incorporadas ao acervo da União, mas foram guardadas pelo ex-presidente. Ela foi questionada ao deixar a sede do Partido Liberal (PL), na manhã desta quinta-feira (30), para abraçar e fazer fotos com apoiadores.

Michelle Bolsonaro fez a aparição em meio ao evento fechado do PL para marcar o retorno de Jair Bolsonaro ao Brasil. Ao ser perguntado por repórter do O TEMPO sobre o caso das joias, a ex-primeira-dama preferiu se afastar e voltar ao público, para uma sessão de selfies. Ela, que é a presidente do PL Mulher, foi questionada depois por jornalistas de outros veículos e teve a mesma reação.

Parte dos bens de luxo foram apreendidos pela Receita Federal, em outubro de 2021, com assessores de Jair Bolsonaro que tentaram entrar de forma ilegal no Brasil sem fazer a declaração de que as joias, avaliadas em R$ 16,5 milhões, eram presentes para a União.  

As peças estavam na mochila de um militar que era auxiliar do então ministro de Minas e Energia, Bento Alburquerque, que tentou liberá-la alegando se tratar de um presente para a então primeira-dama. Porém, a Receita Federal do aeroporto de Guarulhos, onde eles desembarcaram, manteve a apreensão. 

O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, que depois descobriu haver outros dois conjuntos de joias da Arábia Saudita, que deveriam estar com a União, mas já estavam em poder de Bolsonaro. O mais recente episódio foi tornado público nesta quarta (29), quando soube-se que um terceiro pacote de joias foi levado para uma fazenda do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet, apoiador de Bolsonaro.

Bolsonaro voltou ao Brasil após três meses nos Estados Unidos

Jair Bolsonaro chegou às 8h desta quinta na sede do PL, em Brasília, após desembarcar de voo vindo de Orlando, nos Estados Unidos. Apoiadores esperavam o ex-mandatário na porta do escritório da legenda, em um complexo de prédios empresariais e hoteleiros, na área central da capital. No entanto, até a publicação desta reportagem, não passavam de 100, muito aquém do que os políticos aliados anunciavam.

Entre outras, na sede do PL estavam Michelle Bolsonaro; o presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto; o ex-ministro do Turismo Gilson Machado; os senadores Rogério Marinho (PL-RN) e Marcos do Val (Podemos-ES); e os deputados federais Ricardo Salles (PL-SP), Gustavo Gayer (PL-GO) e Paulo Bilynskyj (PL-SP). 

A princípio, o evento seria restrito a políticos aliados do ex-presidente. Mas havia a possibilidade de ele deixar o prédio para cumprimentar seus seguidores. 

No cargo de presidente de honra do PL, Bolsonaro receberá do partido o salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), atualmente em R$ 39,2 mil mensais. A partir de abril, o valor salta para R$ 41,6 mil, de acordo com lei aprovada pelo Congresso Nacional em dezembro.

Além do novo salário, o ex-chefe do Executivo continuará recebendo as aposentadorias mensais de R$ 11,9 mil por ser capitão reformado do Exército e de R$ 30 mil pelo período em que foi deputado federal, de 1991 a 2018.

Somando-se as três remunerações, o ex-presidente pode ter um rendimento total de aproximadamente R$ 83 mil por mês a partir de abril.

Bolsonaro deixou aeroporto por área reservada, sem contato com apoiadores

Bolsonaro voltou ao Brasil três meses após deixar o país, para onde foi dois dias antes da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para não ser obrigado a entregar a faixa ao sucessor. O avião comercial com o ex-presidente, vindo da Flórida, nos Estados Unidos, pousou no Aeroporto Internacional de Brasília, às 6h40 desta quinta.

A aeronave da companhia aérea Gol chamava a atenção por ter envelopamento da franquia dos filmes “Harry Potter”. Em tons de cinza, ela tem aspectos do mundo do bruxo, como o trem expresso de Hogwarts, a escola da série de livros que deu origem aos longas-metragem.

Aliados do ex-presidente chegaram a anunciar que 10 mil pessoas iriam se aglomerar na área do desembarque do aeroporto de Brasília para uma festa de recepção, mas o público é bem menor. Cerca de 400 pessoas esperavam pela chegada de Bolsonaro.

Secretário de Segurança Público havia proibido militância no aeroporto

A reunião dos apoiadores de Bolsonaro contraria o que havia dito o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Sandro Avelar, em entrevista coletiva na quarta. Ele afirmou que a Polícia Militar e agentes de trânsito impediram o acesso de militantes ao terminal aéreo.

No entanto, dezenas de policiais militares, que estavam de prontidão no interior do aeroporto desde o início da madrugada, nada fizeram para impedir aglomeração de bolsonaristas no saguão. Eles apenas se mantiveram em linha para evitar possível invasão à área onde ficam as esteiras. 

Assim que receberam a informação que o avião com Bolsonaro havia pousado, os apoiadores cantaram o Hino Nacional. Em seguida, começaram a gritar “Mito!”.

Sandro Avelar garantiu, na quarta, que as forças de segurança pública do DF fariam de tudo para evitar o caos no aeroporto de Brasília devido ao retorno do ex-presidente ao Brasil nesta quinta. Ele desembarcaria na capital do país no horário e dia de maior movimento do terminal, um dos principais hubs nacionais, por onde circulam cerca de 40 mil pessoas diariamente. São previstos 173 pousos e decolagens apenas até as 10h.

O secretário de Segurança Pública do DF afirmou que policiais impediriam o acesso de caminhões, tratores e comboios de motos à via que leva ao aeroporto de Brasília. Também não seria permitido o deslocamento de caravanas bolsonaristas, nem mesmo pessoas com o intuito de manifestar a favor ou contra o ex-presidente. 

Responsáveis por segurança querem evitar repetição de 8 de janeiro

A maior preocupação da Secretaria de Segurança Pública do DF é evitar episódios como os de 8 de janeiro, quando bolsonaristas radicais invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes na tentativa de destituir Luiz Inácio Lula da Silva da Presidência da República para o retorno de Jair Bolsonaro ao poder por meio de uma intervenção militar.

A preocupação é tanta que a Polícia Militar e o Detran estão aptos a fechar a Esplanada dos Ministérios imediatamente. Mesmo sem confirmação de motociata ou manifestação parecida, outras vias devem ser fechadas no trajeto de Bolsonaro à casa que irá ocupar em Brasília, em um condomínio fechado.

Bolsonaro queria desfilar em carro aberto do aeroporto até a casa onde vai morar na capital do país. No entanto, o esquema de segurança impede isso e aliados mais próximos já haviam alertado o ex-presidente para evitar o que pode ser visto como uma provocação ao Judiciário, pois ele é alvo de diversos processos. 

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