Jair Bolsonaro (PL) voltou ao Brasil três meses após deixar o país, para onde foi dois dias antes da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para não ser obrigado a entregar a faixa ao sucessor. O avião comercial com o ex-presidente, vindo de Orlando, nos Estados Unidos, pousou no Aeroporto Internacional de Brasília, às 6h40 desta quinta-feira (30).
A aeronave da companhia aérea Gol chamava a atenção por ter envelopamento da franquia dos filmes “Harry Potter”. Em tons de cinza, ela tem aspectos do mundo do bruxo, como o trem expresso de Hogwarts, a escola da série de livros que deu origem aos longas-metragem.
Bolsonaro não deixou o aeroporto pela área de desembarque de passageiros. Por isso não viu os apoiadores que o esperavam no saguão do terminal. Sob escolta da Polícia Federal, ele seguiu para a sede nacional do PL, na região central de Brasília, em um comboio.
Aliados do ex-presidente chegaram a anunciar que 10 mil pessoas iriam se aglomerar na área do desembarque do aeroporto de Brasília para uma festa de recepção, mas o público foi bem menor. Cerca de 100 pessoas esperavam pela chegada de Bolsonaro, segundo a Polícia Militar, que deslocou 150 agentes para fazer a segurança do local.
A reunião dos apoiadores de Bolsonaro contraria o que havia dito o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Sandro Avelar, em entrevista coletiva na quarta (29). Ele afirmou que a Polícia Militar e agentes de trânsito impediram o acesso de militantes ao terminal aéreo.
No entanto, dezenas de policiais militares, que estavam de prontidão no interior do aeroporto desde o início da madrugada, nada fizeram para impedir aglomeração de bolsonaristas no saguão. Eles apenas se mantiveram em linha para evitar possível invasão à área onde ficam as esteiras.
Assim que receberam a informação que o avião com Bolsonaro havia pousado, os apoiadores cantaram o Hino Nacional. Em seguida, começaram a gritar “Mito!”.
Ione dos Reis, 55 anos, por exemplo, chegou ao aeroporto antes da meia-noite de quarta. “Tive medo da polícia bloquear as vias e de limitarem a entrada e eu não conseguir entrar”, contou a mulher, que exibia na testa uma faixa com a palavra “Brasil”. Ela dormiu em uma cadeira do saguão.
“Eu só não vim vestida de verde amarelo porque tinha medo da polícia pegar a gente, nos prender falando que somos terroristas”, ressaltou a mulher, que mora no Guará, região administrativa do Distrito Federal.
Sandro Avelar garantiu, na quarta, que as forças de segurança pública do DF fariam de tudo para evitar o caos no aeroporto de Brasília devido ao retorno do ex-presidente ao Brasil nesta quinta. Ele deve desembarcaria na capital do país no horário e dia de maior movimento do terminal, um dos principais hubs nacionais, por onde circulam cerca de 40 mil pessoas diariamente. São previstos 173 pousos e decolagens apenas até as 10h.
O secretário de Segurança Pública do DF afirmou que policiais impediriam o acesso de caminhões, tratores e comboios de motos à via que leva ao aeroporto de Brasília. Também não seria permitido o deslocamento de caravanas bolsonaristas, nem mesmo pessoas com o intuito de manifestar a favor ou contra o ex-presidente.
Sandro Avelar também disse que a Polícia Militar está de prontidão, com equipes na Esplanada dos Ministérios e no perímetro do aeroporto, pronta para fechar vias assim que for detectado qualquer indício de manifestação pública. “A Esplanada, assim como o aeroporto, estará sendo permanentemente monitorada, podendo ser fechada imediatamente”, ressaltou Avelar.
Também na quarta, a direção do PL informou que nenhum dirigente do partido irá ao aeroporto receber o ex-presidente. Ele deve seguir do terminal aéreo para a sede do PL, na área central de Brasília, onde está programado um evento fechado, com acesso restrito.
Lá, será recebido pela esposa e atual presidente do PL Mulher, Michelle Bolsonaro, e pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, além do secretário de Relações Institucionais do partido, Walter Braga Netto.
A maior preocupação da Secretaria de Segurança Pública do DF é evitar episódios como os de 8 de janeiro, quando bolsonaristas radicais invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes na tentativa de destituir Luiz Inácio Lula da Silva da Presidência da República para o retorno de Jair Bolsonaro ao poder por meio de uma intervenção militar.
A preocupação é tanta que a Polícia Militar e o Detran estão aptos a fechar a Esplanada dos Ministérios imediatamente. Mesmo sem confirmação de motociata ou manifestação parecida, outras vias devem ser fechadas no trajeto de Bolsonaro à casa que irá ocupar em Brasília, em um condomínio fechado.
Bolsonaro queria desfilar em carro aberto do aeroporto até a casa onde vai morar na capital do país. No entanto, o esquema de segurança impede isso e aliados mais próximos já haviam alertado o ex-presidente para evitar o que pode ser visto como uma provocação ao Judiciário, pois ele é alvo de diversos processos.
Os aliados mais comedidos também frearam os colegas que convocavam militantes para receber Bolsonaro no terminal aéreo. Eles temem episódios de violência, como os de 8 de janeiro, que culminaram em prisões, processos e investigações, inclusive contra parlamentares bolsonaristas.