Procurar emprego e distribuir currículos é a rotina de muitos brasileiros. Só que chega um momento em que a busca por uma oportunidade cansa e é encerrada. É o chamado “desalento”, um fenômeno que vem crescendo no país, e que aflige mais as mulheres que os homens. No segundo trimestre deste ano, esse contingente somava 4,833 milhões de pessoas, 203 mil a mais do que no trimestre anterior.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que, tipicamente, a permanência no desemprego está associada ao desalento – nessa condição, o trabalhador fica fora da força de trabalho porque não consegue serviço, ou não tem experiência, ou é muito jovem ou idoso, ou mesmo porque não encontrou trabalho na localidade.

No trimestre encerrado em julho, o país registrou 4,818 milhões de pessoas em situação de desalento, o maior patamar da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) iniciada em 2012 pelo IBGE. A taxa de desalento considera as pessoas que não procuraram emprego nos 30 dias antes de responder à Pnad. O Ipea observa que, desse universo, 59% moram no Nordeste, 54,3% são mulheres, 50% não concluíram o ensino fundamental e quase 70% não são chefes de família.

Aos 25 anos, formada em biologia, Mayara Tersilva Araújo desistiu de procurar emprego e passou a focar nos estudos para passar num concurso público. “No primeiro ano de formada, procurei emprego na área, cheguei a achar um, mas o salário era muito baixo. Foi uma decisão difícil. Afinal, a gente estuda com o objetivo de atuar na área. Só que eu queria estabilidade e um salário melhor, o que dificilmente encontraria na iniciativa privada”, diz.

Para ela, conseguir uma boa oportunidade de trabalho é ainda mais difícil para os jovens por causa da falta de experiência. “O mercado exige, do jovem que acabou de se formar experiência. Só que não dá oportunidade para que ele consiga ter essa experiência”, diz.

O estudo do Ipea confirma a análise de Mayara. Os jovens entre 18 e 24 anos formam um dos perfis mais impactados pelo desalento. Pela avaliação etária, observa-se que, enquanto os jovens entre 18 e 24 anos representam 15% da População em Idade Ativa (PIA), eles correspondem a aproximadamente 25% dos desalentados.

O estudo aponta que, enquanto no início de 2016 pouco mais de 14% dos que transitavam do desemprego para a inatividade o faziam por conta do desalento, no segundo trimestre de 2018 essa proporção atingiu 22,4%. O relatório mostra ainda que vem crescendo o número de trabalhadores que transitam da ocupação para o desalento em um curto espaço de tempo. Ou seja, após perderem sua ocupação, não procuram emprego, ou buscam por pouco tempo, e já entram na inatividade.

Apesar de menos afetados pelo desalento, a proporção de homens nessa condição aumentou em um ano, entre o segundo trimestre de 2017 (44,1%) e o segundo de 2018 (45,3%). (Com agências)

 

Engenheiro já pensa em mudar de área

O estudo do Ipea mostra que o desalento cresce entre quem tem curso superior. A taxa passou de 4,8% para 5,3%. Já para quem tem ensino médio saltou de 21% para 22,8%. O Ipea aponta que o principal aumento da população ocupada vem do setor informal, o que indica uma retomada do emprego em condições abaixo das desejáveis.

Com o cenário ruim para seu setor de atuação, o engenheiro civil Tiago Francisco Capecci pensa em mudar de área. “No momento, estou buscando um emprego em qualquer área e Estado do país, para assim eu poder estudar e levar meus planos adiante”, diz.

E não é só a falta de oportunidades no mercado que vem alterando os planos dos trabalhadores. É o caso do engenheiro de segurança Gabriel Garcia. Ele pediu demissão e, junto com a esposa, vai para o Canadá no próximo mês. “Lá terei qualidade de vida. Aqui no Brasil, pagamos altos impostos e não temos retorno”, reclama. Para ele, o Brasil não conseguirá ter mudanças substanciais no curto prazo.

 

Temer diz que dados de agosto são bons

Brasília. O presidente Michel Temer antecipou-se ao Ministério do Trabalho e anunciou, pelo Twitter, nesta quinta-feira (20), que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de agosto registrou que foram criados mais de 100 mil empregos formais no Brasil. “Fui informado que o país criou mais de 100 mil empregos com carteira assinada em agosto. Isto é prova de que o Brasil está no rumo certo. Em plena recuperação”, escreveu o presidente da República.

Pesquisa realizada pelo Projeções Broadcast, com 20 instituições, aponta intervalo das estimativas para o Caged de agosto entre saldo positivo de 37.313 a 88.318 postos, com mediana de 59.950 vagas.

Em julho, dados do Ministério do Trabalho indicaram abertura de 47,3 mil vagas, o melhor resultado para o período em seis anos.

O Caged de agosto ainda não foi divulgado oficialmente pelo Ministério do Trabalho. A expectativa da pasta é divulgar os dados nesta sexta-feira (21).