Pelas contas do IBGE, Minas Gerais tem 1,2 milhão de pessoas desocupadas, que correspondem a 11,2% da população em idade para trabalhar. Mas o desemprego real é muito maior. O Estado tem 426 mil pessoas sem trabalho, mas que não são computadas porque simplesmente desistiram de procurar uma recolocação. São os chamados desalentados. Nos últimos cinco anos, enquanto o total de desempregados subiu 69%, o número de integrantes daquele grupo cresceu 261%, ou seja, num ritmo quase quatro vezes maior. No Brasil, as elevações foram de 91% e 212%, respectivamente. São 4,84 milhões de desalentados no país atualmente, o maior índice da série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Jaqueline Muniz Laporte, 36, que até 2017 era analista de crédito de uma construtora, viu sua vida se transformar na mesma velocidade. “Estou desanimada para procurar emprego porque eu não tenho nem dinheiro para pagar passagem”, conta.
E a é um retrato do desalento: perdeu o emprego, a casa, dois dentes por falta de tratamento e a esperança de dias melhores. Agora, ela e a filha de 4 anos moram de favor com a avó e sobrevivem com R$ 180 que Jaqueline recebe do Bolsa Família, mais R$ 300 da pensão alimentícia do ex-companheiro dela. “Eu tento não deixar faltar nada para minha filha. Como pouco para não tirar da boca dela e não compro nada para mim”, afirma.
O desemprego prolongado, no entanto, não é fruto de falta de insistência. Assim que foi demitida da construtora em que trabalhava, ela montou um cronograma para buscar oportunidades. “Mas agora chega. Cansei de distribuir currículos, gastar o dinheiro e receber ‘não’”, desabafa.
O analista do IBGE Gustavo Fontes explica que desalentados são aqueles que desistiram de procurar emprego por algum motivo. “São pessoas com mais de 14 anos que têm potencial para trabalhar, mas não são consideradas desocupadas porque, apesar de disponíveis, não buscam trabalho”, diz.
E não são apenas os integrantes das classes D e E ou os menos escolarizados que são vítimas de desalento no país. Os trabalhadores com dez anos ou mais de estudo, que ao menos chegaram ao ensino médio, eram 26% dos desalentados em 2012, quando o IBGE começou a fazer a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio Contínua (Pnadc). Agora, chegam a 35%, segundo a consultoria Idados. A pedagoga Elaine de Lima Araújo, 45, é um exemplo. Desempregada há apenas três meses, ela decidiu que não vai voltar ao mercado de trabalho tão cedo. “Eu não estava sendo valorizada no meu emprego e, agora, quero cuidar da minha saúde e estudar mais”, afirma. Segundo ela, essa é a primeira vez, desde quando tinha 19 anos, que ficou sem trabalhar.
Desemprego é bem maior do que taxa
Não são apenas os desalentados que compõem a taxa oculta do desemprego. Somando os que desistiram de achar uma vaga, os que procuram um emprego e os subocupados – que estão trabalhando menos do que gostariam –, o índice de desocupação do primeiro trimestre deste ano, que foi de 11,2%, sobe para 24,5%. Em 2014, essa taxa de subutilização composta era de 15%.
Para o professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Mauro Rochlin, o crescimento é explicado pela crise. “E quando a economia melhorar, vai acontecer uma coisa curiosa: a oferta de vagas vai aumentar e o desemprego também, porque quem não está procurando nada agora vai começar a buscar”, analisa.
Para o professor, a melhora depende de mudanças que convençam o empresariado a voltar a investir. “O clima de confiança precisa ser restabelecido. Tem que fazer reformas, mas nada de maneira retórica, as mudanças precisam ser concretas”,destaca Rochlin.
Quem é quem
Desocupados: pessoas com mais de 14 anos que procuraram emprego nos últimos 30 dias
Desalentados: não procuraram emprego
Subocupados: estão disponíveis para trabalhar 40 horas por semana, mas estão trabalhando menos do que gostariam
Força de trabalho potencial: desalentados + pessoas que procuram emprego, mas não estavam disponíveis para trabalhar
Taxa composta de subutilização: desocupados + força de trabalho potencial