O aumento da mistura de etanol anidro na gasolina e do biodiesel ao diesel, aprovado nessa quarta-feira (26) pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), traz uma expectativa de queda nos preços pagos pelos motoristas para abastecer no Brasil. A redução é esperada, porque, dentre outros pontos, com a incorporação de biocombustíveis nos derivados de petróleo o volume de importação deve cair, reduzindo o impacto da cotação internacional no mercado brasileiro.
Nos últimos doze meses, 8% da gasolina consumida no Brasil vem de outros países. No diesel, o percentual sobe a 26%, em média. As mudanças aprovadas pelo CNPE entram em vigor no dia 1º de agosto. A partir desta data, a gasolina terá 30% de etanol na composição, enquanto o diesel terá 15% de biodiesel. O economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps) Eric Gil Dantas confirma que o preço nas bombas pode ter uma queda.
“Mas acho que não será tão grande assim. Etanol Anidro e Biodiesel são um pouco mais baratos do que gasolina A e diesel S-10 A, mas eles costumam variar junto com os preços dos fósseis. Além, obviamente, de questões internas da produção de cana, milho e soja”, disse ele, que crê em mais benefícios ambientais, com a redução nas emissões de gases de efeito estufa.
O sócio da Raion Consultoria Eduardo Melo acredita em um efeito marginal sobre os preços do diesel e da gasolina nas bombas. No caso do diesel, incorporado com 15% de biodiesel, os cálculos feitos pela empresa apontam que o impacto final nas bombas deve ser de R$ 0,01 por litro, considerando o preço atual do biodiesel, negociado a R$ 5,29, a cada litro, segundo a ANP, e o aumento percentual da participação no diesel B.
Já para a gasolina, que passará a ter 30% de etanol anidro, não há a expectativa é de não haja nenhuma alteração de preço com a mudança. “Apesar do etanol ser um combustível de menor poder calorífico, podendo gerar um pequeno aumento no consumo por quilômetro rodado, a elevação percentual será muito pequena para que essa variação de eficiência seja sentida pelo consumidor final”, explica Eduardo.
O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig Bioenergia), Mário Campos, no entanto, vê margem para queda no preço da gasolina. “A perspectiva é de redução de preço da gasolina em função do etanol anidro: quando você soma o preço do produto mais o tributo e compara com a gasolina pura, ele é mais barato. Então, quanto maior o percentual de mistura, mais barato é o produto final”, avalia.
Postos contestam decisão
Em nota, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro) afirma que a decisão do CNPE resultará na comercialização de um “combustível que irá render menos no veículo do cliente”. A entidade ainda chama a atenção para a diluição do etanol na gasolina e do biodiesel ao diesel como uma obrigatoriedade das distribuidoras.
“A preocupação do Minaspetro é no âmbito comercial da produção. Para se ter uma ideia, o anidro, atualmente, é mais caro (R$ 2,91) que o litro da gasolina A (R$ 2,85). Em todos os anúncios do governo federal - que não apresenta como fez o cálculo - percebemos que há uma previsão de queda no preço final, no entanto, é preciso observar com atenção se o valor do combustível nas usinas de etanol não irão fazer justamente o caminho inverso ao haver um aumento significativo na demanda”, disse.