Antonio Filosa

Presidente da Fiat Chrysler Automobiles para a América Latina e do Conselho Deliberativo da Casa Fiat de Cultura

Diálogo, muito diálogo. É o que recomenda o presidente da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) para a América Latina, Antonio Filosa, 45, para os próximos governos do Estado e do Brasil. Em entrevista exclusiva à rádio Super Notícia FM e ao jornal O TEMPO, Filosa fala ainda dos planos para a Casa Fiat de Cultura e do mercado automotivo.

Qual é o novo desafio para a Casa Fiat de Cultura em Belo Horizonte?

São vários. Primeiro, continuar promovendo a cultura e uma abordagem de proximidade social da cultura com o Estado de Minas Gerais e a cidade de Belo Horizonte, integrando isso com um viés um pouco mais digital e um olhar para o futuro. Num ambiente que a gente adora, que é essa praça (da Liberdade), essa cidade e o Estado de Minas Gerais. 

Qual é o orçamento anual previsto para a Casa Fiat de Cultura, que já teve um investimento de R$ 20 milhões na restauração?

Estamos fechando o plano para os próximos cinco anos, então vamos entender. Vai ser o necessário para trazer o melhor da arte, o melhor da cultura para Minas Gerais. Aqui é preciso fazer uma lista; na outra empresa eu sou calculista. 

Depois do sucesso estrondoso da mostra “São Francisco na Arte de Mestres Italianos”, a Casa Fiat vai tomando um novo corpo, uma nova importância para a vida de Minas Gerais?

A Casa Fiat será sempre mais protagonista da cena cultural de Minas Gerais. Queremos ser um ponto de referência, queremos que os mineiros entendam isso como casa própria, como o nome diz, e cultural. E a Fiat, um nome no meio que viabiliza tudo isso, a empresa que está por trás, a empresa que com muito carinho – e reconhecendo o grande prazer de estar com mineiros – vai suportar essa caminhada. 

Sobre o mercado automotivo no Brasil, qual é sua expectativa para fechar o ano?

Vamos fechar bem o ano, vamos fechar a conta do mercado FCA de 17,8%, quase 18% (de participação de mercado), um crescimento em relação ao ano passado. Vamos fechar com lucratividade pelo acionista, o que é muito importante. Vamos fechar com boas parcerias, seja com fornecedoras no Brasil ou fora do Brasil, e também em Minas Gerais, seja com concessionários. Estamos satisfeitos até agora com o mercado, o que nos faz esperar uma parte final do ano interessante, e no ano que vem será melhor ainda.

Qual é o desafio da montadora em relação ao próximo governo, como a Fiat Chrysler está lidando com esse novo momento do Brasil e também de Minas Gerais?

A empresa está se preparando para um novo ciclo de investimentos. Nós já começamos a fazê-los (a FCA anunciou neste ano investimentos de R$ 8 bilhões até 2023, que abrangem o Polo Automotivo Fiat em Betim e seus fornecedores. Esses recursos devem gerar 8.000 empregos diretos e indiretos ao longo de toda a cadeia produtiva). Então, já aprovamos com nosso acionista um produto novo e outro investimento muito importante em Minas Gerais, assim como outros serão aprovados, seja em Minas, quer por exemplo, seja em Pernambuco, como fora do Brasil. Independentemente da leadership (liderança) política que está chegando, e temos muito interesse em começar a dialogar com ela, nós continuamos firmes com o projeto de indústria e de país que temos. 

Para entrar em vigor, o programa Rota 2030 tem prazo para ser aprovado até o final de dezembro. Se isso não for feito, o que pode acontecer daqui pra frente?

Eu acho que isso vai acontecer, deve acontecer, porque é o pilar de previsibilidade econômico, de desenvolvimento que o Brasil se está dando para os próximos dez anos, até 2030. Acho que vai acontecer. Não estamos trabalhando com a hipótese de que não aconteça. Se não acontecer, temos que rever uma série de ações. Mas estamos trabalhando na hipótese de que aconteça, porque temos a firme confiança de que vai acontecer.

Tem alguma proposta que o setor automotivo espera que o governo coloque em prática para melhorar ainda mais o ambiente de negócios e retomar o desenvolvimento, já que carro representa consumo e um termômetro da economia ativa novamente?

Dialogar. A única coisa que precisa fazer é dialogar. O Brasil é um país que tem tudo para ser uma potência industrial. Ele já foi, e acho que tem tudo para continuar sendo uma potência industrial. E, quando se fala em indústria, uma das que mais agregam valor é a indústria automobilística. Ela mobiliza o minério de ferro, mobiliza o polipropileno, mobiliza a indústria eletroeletrônica através de várias camadas de fornecedores e produz um carro. Um emprego que geramos na nossa fábrica são dez empregos na cadeia, quatro na cadeia primária e dez até o final da cadeia. E temos concessionários que mobilizamos; além de outros grandes parceiros. No final, o Brasil tem tudo para continuar localizando agregações de valor na cadeia, e acho que vai fazer. Para fazer isso, estamos disponíveis para diálogos, e dialogar é excelente. 

Para Minas Gerais, onde a Fiat tem o maior polo automotivo do grupo no mundo, além dos investimentos anunciados, o que esperar além do diálogo com o governo para que esse polo continue sendo referência da montadora?

O plano de investimentos que temos já é muito robusto e vamos continuar firmemente com ele e já começamos. Acho que a nova leadership política poderia dialogar conosco também para entender como melhorar algumas condições no contorno do negócio: infraestruturas de todo tipo, seja física, seja de dados, suporte a fornecedores (alguns dos quais estavam pensando em deixar Minas Gerais, o que seria absolutamente ruim para emprego, para desenvolvimento, para o território em geral) e ter uma abertura constante a nos escutar, assim como nós temos total abertura para falar com quem seja.

Reforma da Previdência, rombo fiscal: o que é preciso para o governo conseguir passar no Congresso nos seis primeiros meses?

Acho que já existem programas e ações definidas e acho que está já muito claro para a leadership política do país onde precisa intervir. Como indústria, trabalhar na competitividade é fundamental, e uma parte desse trabalho sobre competitividade pode ser protagonizada pelo governo também. Quando se fala em Brasil, sempre falamos de um continente, então as competitividades são várias não somente territoriais, mas regionais também. E infraestrutura é algo fundamental, e o programa de reformas já saiu em todos os jornais, não precisa nem falar.