Rosana Marques está à frente de movimentos corporativos e assistenciais na cidade e foi a única brasileira selecionada para o prêmio Empretec Women pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento do Comércio.
Você começou a empresa com uma costureira e hoje está rodando o mundo. Qual a sensação de participar de uma premiação internacional?
Já me sinto premiada só de participar. É um reconhecimento. Primeiro me mandaram um questionário com muitas perguntas. Depois, recebi um e-mail dizendo que fui selecionada. É muito pelo trabalho social, por ser associativista. Juruaia é uma cidade pequena onde a mulher é protagonista da economia. Eu fundei a Associação Comercial, a Câmara da Mulher, a primeira feira, que já vai para a 22ª edição. Dentro da empresa, a Ouseuse, a gente tem desde 2007 o projeto Amigas do Peito, que doa sutiãs para mulheres mastectomizadas. Agora temos o Amiga Recicla. Acho que é em função disso tudo que eu fui selecionada para esse prêmio.
Quais as dificuldades da vida de empresária?
No nosso caso, é formar mão de obra, porque não tivemos essa formação, nos aventuramos a empreender. A gente vai empreendendo, aprendendo, fazendo. O setor emprega toda a cidade e mais a região, cidades vizinhas mandam gente para trabalhar aqui. E a cidade ainda não tem a cultura tão forte de confecção. Temos 26 anos dessa cultura, estamos aprendendo ainda.
Como foi seu começo como empresária?
Com a Ouseuse, comecei em 1994, com o nome Ousadia. Em 1986, abri meu primeiro negócio, que era uma loja de roupas. A Ousadia começou a partir dessa loja. Às vezes a gente deixava de vender roupa por não ter uma lingerie para ser usada com algum tipo de decote ou as costas à mostra, ou uma calcinha que não marcasse. Então, começamos com a ideia de confeccionar uma “lingerie-solução”, que resolvesse esses problemas de montagem de um look, de elevar a autoestima e, também, como solução de negócio. Nossos primeiros clientes eram estudantes que faziam faculdade e queriam uma renda para custear seus estudos. Então, revendiam lingerie. Até hoje nossos maiores clientes são as consultoras, com o modelo de venda porta a porta.
Qual a representatividade dos consultores nas vendas?
Entre 70% e 80% da produção é direcionada aos consultores. A gente chama de consultores de venda, e não sacoleiras, porque a vendedora vai até a cliente. Ela não apenas vende, ela vê a necessidade, sabe o gosto, sabe indicar, dá uma consultoria. E funciona muito bem. A oferta faz a venda.
A empresa vende para onde?
Para o Brasil todo, com destaque para São Paulo e Minas. E já estamos exportando também. Temos ido para feiras internacionais – três vezes em Paris, uma vez em Lyon, uma vez em Lisboa e participamos do NY Fashion Week. Estamos começando a internacionalização da marca.
Como você avalia 2018 até o momento?
Foi um ano de maior desafio. A concorrência está cada vez mais acirrada. Desde 1994, pegamos muitas crises. E a gente tem que ser mais criativo, mais focado para dar conta. Mas a gente entende que produto que eleva a autoestima não tem tanta crise, sempre se vende. Ainda mais quando a pessoa não está bem, ela procura uma compensação. E a compensação é estar bonita, estar bem vestida, com lingerie bonita. Também pelo nosso modelo de negócios, a crise não impacta tanto. Se as pessoas não têm emprego, ou se têm emprego e não estão ganhando bem, acabam vendendo alguma coisa para complementar a renda.
Hoje são quantos funcionários?
Internamente, em torno de 95. E externos, mais uns 130. Mais de 50% é feito em facções. O externo são trabalhadores indiretos, facções e prestadores de serviço. A costureira que fez nossa primeira calcinha está conosco até hoje, firme e forte. Quando me convidam para contar a história da empresa e o lugar é perto, eu sempre a levo comigo.
O que você deseja para o próximo governo como empresária?
Que o governo permita que a gente tenha mais condições de trabalho. Os impostos são altos, são muitas as dificuldades. Acabamos ficando menos competitivos em função de tanta coisa que temos que pagar. Eu espero que a gente tenha mais condições de trabalho para a gente desenvolver. Afinal, o céu é o limite. A gente tem visão, vontade de expandir, mais precisamos de mais condições, mais treinamentos para a mão de obra.
Qual é sua meta de crescimento?
A gente trabalha com meta de crescer 20% ao ano. Neste ano, deve ser possível uns 12%. Vários fatores atrapalharam. Até a greve dos caminhoneiros influenciou, além de aumento de matéria-prima, falta de mão de obra e a crise, em si. Afinal, houve uma recessão. O poder de compra das pessoas diminuiu.