Para turistas e foliões, Carnaval é festa. Para marcas de bebida em lata, uma vitrine sem igual que pode significar um trampolim para o sucesso ou uma temporada de prejuízos. Na folia de 2025, a Xeque Mate, maior exemplo de sucesso desse mercado, completa dez anos. Ao mesmo tempo, outras marcas apostam alto em lançamentos e propaganda para tentar se tornar a nova febre de Belo Horizonte.
O esforço é justificado pela expectativa de retorno: o Sindicato das Indústrias de Bebidas do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas MG) projeta um faturamento 26% maior do mercado de drinks prontos em lata, conhecidos como RTDs (ready to drink, em inglês) em relação ao Carnaval anterior. O de cerveja, segmento já mais consolidado, deve crescer 12%.
Quem decide qual será a nova bebida do Carnaval são os próprios consumidores ao longo da folia — o calendário oficial de BH vai de 15 de fevereiro a 9 de março. Mas, até as latinhas chegarem ao isopor dos ambulantes e às mãos dos foliões, existe uma trilha de logística que envolve altos valores e volume de produção.
Uma das revelações do Carnaval de 2024, a Lambe Lambe projeta um investimento de R$ 2 milhões no primeiro trimestre e um salto de 430 mil para 1,5 milhão de latas desde a folia do último ano, segundo a sócia e diretora comercial da marca de bebidas fermentadas, Kalinka Campos. “O Carnaval passado foi uma vitrine para nós. Ele foi uma força motriz muito expressiva e nos projetou para o resto do ano inteiro”, diz ela. Além dos dois sabores que já estavam no mercado (a latinha amarela de tangerina, limão e sal e a rosa de pitaya, maracujá e alecrim), neste ano a Lambe Lambe apresenta a lata vermelha de limonada rosa.
Para se destacar em 2024, a Lambe Lambe uniu uma forte presença nas redes sociais, na mídia e em blocos independentes. Outras marcas anotaram a estratégia, diz o diretor executivo da Slap, uma das principais distribuidoras de bebidas para ambulantes de BH, Sidney Fernandes. “Para explodir, as marcas têm que fazer o caminho que foi feito pela Lambe Lambe no ano passado. Todo mundo aprendeu”.
O marketing e a força de distribuição são peças fundamentais desse processo. De olho no mercado em ascensão, a plataforma mineira Boozen se especializou na venda online de RTDs e funciona como um mostruário de novidades — hoje, são cerca de 50 rótulos disponíveis. “O que todos os drinks estão buscando é ser a nova Xeque Mate e chegar no Brasil inteiro. Há espaço para isso, é só lembrar que, em algum momento, a própria Xeque Mate foi um deles. As bebidas que chegam aos foliões não necessariamente são as melhores. Os drinks prontos dependem muito do gosto do consumidor. Pode ser que haja uma bebida pela qual ele vá se apaixonar, só tem que chegar a ele”, diz o fundador da empresa, André Leonel. Para apresentar as opções ao público, ele criou o prêmio Brasil RTD Cup, que destaca as melhores bebidas em diferentes categorias.
Xá de Cana quer levar cachaça à folia
Citada por distribuidoras, fabricantes e observadores do setor ouvidos nesta reportagem, a Xá de Cana é uma das marcas que causam burburinho no mercado em 2025. A mistura de cachaça, caldo de cana e limão na latinha não é exatamente uma novidade — foi lançada no final de 2023 e, em 2024, apareceu em primeiro lugar no ranking de drinks carnavalescos de O TEMPO. Neste ano, chega com um volume pelo menos dez vezes maior de latas no Carnaval, de acordo com a fundadora, Sthella Lima.
“Estamos fazendo um trabalho bem forte de abertura de pontos de venda e experimentação. Neste ano, fechamos com algumas distribuidoras que atendem praticamente só ambulantes e temos uma bike que revende a Xá de Cana. Precisamos ter um marketing e um comercial muito interligados, porque não adianta eu colocar a bebida no Instagram se não tiver ponto de venda. Não existe uma estratégia certa. Cada um tem a sua”, diz Lima. Além do reforço logístico, ela adaptou a fórmula da bebida ao teor alcoólico mais habitual das RTDs, de 6,9%, em vez dos 10% do início da marca.
O superintendente do Sindicato das Indústrias de Bebidas do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas MG), Cristiano Lamego, concorda que não é apenas o sabor que constrói o sucesso de uma bebida. “O grande segredo do Carnaval é a logística de distribuição, fazer a bebida chegar ao ambulante. Tem que ter preço e quantidade para o mercado. É difícil, porque as bebidas competem com marcas hoje consolidadas. As próprias cervejas concorrem com os drinks”.
“O volume de Skol Beats e de Xeque Mate não deixa as marcas andarem. Tem que ter preço competitivo e ser agradável ao paladar”, completa o diretor executivo da distribuidora Slap, Sidney Fernandes.
A Equilibrista investe em variedade de sabores
Marcas experientes do mercado também reforçam os motores para 2025. A Equilibrista, fabricante do Gingibre e da Rubra, lançou um quarto sabor no final de 2024, a Veneta, mistura de frutas vermelhas, hortelã e vodca, sua grande aposta para a folia. “Será a sensação do Carnaval”, aposta o sócio-diretor da fabricante, Guilherme Drager. Serão 500 mil latas de três sabores da fabricante só para o Carnaval de BH, fora 200 mil para as outras praças — no ano anterior, foram 300 mil unidades no total. Somando à Venm, rótulo em parceria com a cervejaria Laut, o total chega a 700 mil.
Stone Light aposta em gin, rum, uísque e vodca
Outra fabricante com um cardápio de sabores é a Stone Light. Fundada por um membro da família do Alambique Santa Efigênia, uma das fabricantes brasileiras mais tradicionais de equipamentos para destilaria, a marca tem latinhas à base de gin, rum, uísque e vodca. Com a projeção de produzir 200 mil latas, 100 mil para BH, as principais apostas da marca para o isopor dos ambulantes são os sabores Pink Lemonade e Tropical Gin. “Esse volume não é só para BH. Vamos abastecer Diamantina também, por exemplo, onde o Carnaval está voltando com tudo”, detalha o sócio-fundador da marca, Ramon Santos.
Fábrica de cerveja produz drinks em lata
Não existe perspectiva de curto prazo de que os drinks prontos tomem a fatia de mercado das cervejas. Mas eles ocupam um espaço cada vez maior — em alguns casos, literalmente. Desde 2021, a fábrica da cervejaria Prussia Bier, em São Gonçalo do Rio Abaixo, na região Central do Estado, produz e envasa bebidas sob demanda para marcas de RTD. A partir de 2023, a categoria ganhou uma área própria na fábrica.
“Quando começamos, fazíamos um encaixe da produção, mas hoje a fabricação de RTDs é um negócio para nós, não uma coisa sazonal”, diz o diretor executivo da empresa, Fernando Cota. A Prussia Bier atende cerca de 40 marcas e, neste ano, projeta aumentar a produção em 28%. “Este ano é mais de fortalecimento do que de ampliação da quantidade de marcas. Elas aprenderam a trabalhar no Carnaval”, conclui Cota, também vice-presidente do Sindbebidas MG.