O mercado de bebidas em lata de Minas Gerais aproxima-se do seu ponto máximo de vendas anuais com o Carnaval. O desafio das marcas é chegar aos carrinhos dos mais de 10 mil ambulantes cadastrados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e vencer a competição com as marcas de cerveja e outros drinks de grandes empresas. Agora, às vésperas da folia e com o público na mira, 14 marcas se reuniram para lançar um manifesto em defesa do consumo local.

Caso as expectativas do setor se concretizem, o faturamento da categoria, também conhecida como ready do drink (“prontas para beber”, em inglês, ou RTDs), pode aumentar 26% na folia de 2025, em comparação à do ano anterior, projeta o Sindicato das Indústrias de Bebidas do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas MG).

O movimento pelo consumo local surge em meio ao patrocínio milionário da Ambev para o Carnaval de BH — após alguns anos afastada, a gigante das bebidas está injetando R$ 5,9 milhões na festa da capital. O contrato com a prefeitura prevê exclusividade de venda de cervejas da empresa em algumas vias da cidade. Ele não se aplica aos demais drinks em lata, que podem ser vendidos livremente pelos ambulantes, mas a medida causou confusão entre os vendedores, que reduziram a compra de bebidas.

Assinam o manifesto as marcas 20’s, Benerick’s, Carimbó, Drink Pronto, Equilibrista, Hazel, Lassaleti, Manza, Ouro 1, Stone Light, Vanfall, White Rabbit, Xá de Cana e a plataforma de vendas Boozen. O texto faz referência a uma série de blocos famosos de Belo Horizonte e ressalta a conexão das bebidas com o crescimento do Carnaval da cidade. Confira:

"Manifesto - Neste Carnaval, eu bebo local

Eu estava lá pegando Praia nas fontes da Estação, com minha canga estendida no cimento. E estava lá na Guaicurus, vendo o sol nascer e aprendendo que eu sou pra brilhar.

Eu estava lá, bem Ozada, lavando as escadas pela primeira vez, e quando era o Síndico quem tomava conta da Praça da Liberdade.

Eu estava lá atravessando o viaduto em cortejo com a Corte. Pintado de azul no domingo, libertinando no Santê, explorando com o Tico Tico, dando nome de praça com o meu forró e beijando muito, porque eu também sou pagodeiro.

Já pulei catraca, já peguei metrô ralando o Tchan, virei caranguejo no Barro Preto e desci ladeira mamando na vaca.

Hablei mucho com as lhamas e, num Swing Safado, subi morro e desci asfalto com o Seu Vizinho.

Eu falei faraó, cheguei de Bicicletinha com um Abalocaxi na cabeça e as Havaianas Usadas nos pés.

Cantei 'É o Amô' para as garotas solteiras, curtindo a Roda de Timbau da Juventude Bronzeada.

O meu Truck é do Desejo, minha Fofoca é de Carimbó, minha Flor é Bruta, minha Lua é de Cristal e o coração… ah, o coração é belo-horizontino. 

Uma cidade de carnaval feito pela gente. E cuja maior riqueza é justamente a gente.

Aqui, sejam dez, mil ou um milhão, o bloquinho é entre amigos. Dividimos um sorriso, um abraço e um gole gelado da minha latinha favorita, seja ela qual for. Não tem espaço para exclusão, para preconceito, para monopólio. Nossa essência é livre, alegre e democrática. Quem faz a folia é todo mundo.

E é por isso que, neste carnaval, eu bebo local. Porque é de quem vive a festa comigo, e luta a festa comigo. Porque é diverso, porque é amigo e porque é bom demais da conta".